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Um casal num abrigo subterrâneo em Sudzha, na região de Kursk

Global Images Ukraine via Getty

Um casal num abrigo subterrâneo em Sudzha, na região de Kursk

Global Images Ukraine via Getty

A guerra chegou a território russo e a "ansiedade" aumentou. Mas isso não significa o princípio do fim do regime de Putin

Os habitantes de Kursk estão em pânico e cresce uma revolta pelos recrutas "atirados aos cães". Mas, a avaliar pelas crises do passado, o mais certo é Putin sobreviver politicamente. E sem cicatrizes.

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Dias antes da invasão de larga escala da Ucrânia, em 2022, a televisão russa transmitiu uma reunião rara. Vladimir Putin reuniu-se com os seus conselheiros de segurança para decidir como “proteger” os territórios de falantes de russo no Donbass. O momento ficou marcado por uma troca tensa de palavras com Sergey Narishkin, responsável pelos serviços de informações externos. “Fale diretamente!”, exigiu-lhe Putin, ao sentir hesitação na resposta do subordinado.

Agora, dois anos depois, a televisão russa voltou a transmitir uma reunião do Kremlin onde Putin tentou afirmar a sua autoridade. A Ucrânia já tinha confirmado a sua invasão a território russo em Kursk — a primeira vez que as fronteiras russas foram violadas por um país estrangeiro desde a II Guerra Mundial —, mas o Presidente tardava em abordar o assunto em público. Quando o fez, nesta reunião, foi mais uma vez para repreender alguém. Desta vez foi o governador da região invadida, Andrei Smirnov, que ousou revelar que os ucranianos já tinham tomado 28 localidades e que pelo menos dois mil russos estavam desaparecidos.

Putin não gostou. “Oiça, Alexei Borisovich, os militares irão dar-nos os detalhes da frente de batalha em profundidade. Você limite-se a dizer-nos qual é a situação socio-económica e como está a ser a assistência às pessoas.”

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Vladimir Putin na reunião transmitida pela televisão onde repreendeu o governador de Kursk

POOL/AFP via Getty Images

Um momento revelador da tensão que se vive dentro do Kremlin, notou Olga Vlasova, investigadora na King’s College. “Podia ouvir-se o nível de ansiedade na voz do governador ao longo da reunião”, afirmou a especialista ao The Guardian. “Quando ele tentou partilhar a informação que tinha, Putin não o permitiu. Quer travar a comunicação de qualquer informação que eleve o nível de ansiedade da sociedade russa”.

No Kremlin, tenta-se fazer controlo de danos sobre a ofensiva ucraniana, numa situação sem precedentes. Ao mesmo tempo, na linha da frente, vários cidadãos russos sentem na pele, pela primeira vez, as consequências de uma guerra que lhes parecia até então distante. Será esta ofensiva um ponto de viragem no apoio a Vladimir Putin, quer dentro do Kremlin, quer entre a população? O futuro ninguém sabe, é claro. E sim, a situação é das mais tensas que o Presidente russo viveu no passado recente. Mas, na Rússia de Putin, nada é assim tão simples.

“Eles no Kremlin que morram todos, os filhos da mãe!” A revolta em Kursk e a resposta das autoridades russas

Vladimir Putin tem sempre o dom de, perante uma crise, demorar dias a aparecer em público e deixar a responsabilidade para outros. “Mais uma vez, mostra Putin na sua forma clássica, a esconder-se de uma crise” notou ao Washington Post um dos especialistas mais reputados sobre a Rússia, Mark Galeotti. Nos primeiros dias da ofensiva, Putin manteve a agenda que estava marcada, encontrando-se com o presidente da Autoridade Palestiniana e mantendo planos para ir de visita ao Azerbaijão. “Putin espera que os outros façam o trabalho duro. Depois, se correr bem colhe os louros e, se correr mal, culpa os outros”, acrescentou Galeotti.

Para além do governador de Kursk, uma figura específica ficou com essa responsabilidade perante a ofensiva em Kursk: o comandante das forças especiais chechenas, Apti Alaudinov. A estratégia do militar ao longo das últimas semanas foi a de ir projetando a imagem de que tudo estava sob controlo, como registou a BBC: a 6 de agosto disse que o melhor era comer pipocas enquanto se assistia às tropas russas “a destruir o inimigo”; dois dias depois, afirmou que a situação não era crítica; no dia 10, garantiu que a Rússia tinha “o máximo controlo” sobre a situação. Uma semana depois, garantia que “o inimigo foi travado”.

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O checheno Apti Alaudinov foi o comandante escolhido para responder militarmente em Kursk

Getty Images

A ofensiva mediática também tentava moldar a perceção dos russos que estão longe da fronteira. “Esta operação não foi iniciativa de Zelensky, mas dos seus curadores ocidentais”, dizia o conhecido apresentador próximo do Kremlin Vladimir Solovyov. “A NATO atacou-nos. E, segundo a nossa própria doutrina militar, a nossa resposta deve ser muito séria.”

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Os relatos que iam chegando do terreno, contudo, mostravam uma realidade bastante diferente. Os residentes de Sudzha, principal cidade da região de Kursk, começaram a divulgar vídeos nas redes sociais para mostrar o que ali se passava: “Fomos abandonados. Com crianças, sem abrigo, sem dinheiro. Os nossos filhos têm medo de dormir à noite”, dizia uma mulher num vídeo publicado no Telegram. Os corredores de evacuação demoraram dias a ser organizados, segundo os locais: “Não há evacuação de Sudzha. As pessoas atravessam o rio em barcos, sob bombardeamentos, e atravessam a floresta a pé. Estas são pessoas normais, ajudem-nas a sair”, implorava no mesmo vídeo outra mulher.

Perante a desorganização e caos, os civis começaram a organizar-se. Voluntários mobilizaram-se em torno de uma organização, a “Casa das Boas Ações”, e começaram a distribuir comida e outros bens essenciais. “Aquilo de que precisamos muda a cada meia hora”, revelava uma das voluntárias, Svetlana Kozina, ao jornal russo Novaya Gazeta, no local. “Neste momento precisamos de carne enlatada e detergente para a roupa. Provavelmente recebermos isso em breve, mas logo a seguir vamos precisar de outras coisas.”

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Os refugiados de Kursk queixam-se da falta de organização na evacuação e do pouco apoio financeiro dado pelo Estado

Anadolu via Getty Images

A guerra chegou à Rússia, colocando os locais perante os mesmos desafios que os civis ucranianos sentiram ao longo dos últimos dois anos. Outra publicação russa, o The Insider, falou no local com um habitante que garantia que o Exército ucraniano estaria a disparar contra ambulâncias. “Têm um ódio animal contra nós. Estão a disparar contra todos”, começou por queixar-se Pyotr. “Bem, isso é compreensível, eles estão aflitos. Não interessa como olhamos para isto, nós é que fomos atrás deles primeiro.

Em Kursk vão surgindo sinais de empatia em relação aos ucranianos e também de revolta contra as autoridades russas pela demora no auxílio. Ao Insider, dois homens mais velhos queixavam-se do magro apoio económico que o Estado está a atribuir aos refugiados — 10 mil rublos (cerca de 100 euros) — e mostravam-se revoltados. “Porque é que não saimos? Deviam perguntar a Putin, o filho da mãe! Não houve nenhuma evacuação. Vocês também nem vão escrever isto! Eles no Kremlin que morram todos, os filhos da mãe”, gritava um deles.

Ao site Meduza, uma mulher contava como a mãe idosa conseguiu escapar da cidade: “Ela disse que, na auto-estrada, viu uma carrinha a arder, a estrutura completamente negra de queimado, o condutor provavelmente morto. Quando finalmente conseguimos falar com ela ao telefone, respirei de alívio. Duas horas mais tarde, literalmente, soubemos que a nossa casa tinha desaparecido — foi atingida num bombardeamento.”

As histórias que os residentes foram relatando aos jornalistas no local mostram o confronto com a realidade da guerra. Ao site Meduza, uma mulher contava como a mãe idosa conseguiu escapar da cidade: “Ela disse que, na auto-estrada, viu uma carrinha a arder, a estrutura completamente negra de queimado, o condutor provavelmente morto. Quando finalmente conseguimos falar com ela ao telefone, respirei de alívio. Duas horas mais tarde, literalmente, soubemos que a nossa casa tinha desaparecido — foi atingida num bombardeamento.”

Os que ficam refugiam-se nas caves que existem, já que a maioria das casas não tem abrigos subterrâneos. O Washington Post, que viajou para a região à boleia das tropas ucranianas, falou com alguns dos residentes de Kursk encafuados num abrigo. Um deles, de 47 anos, estava com o filho deficiente. Perante a pergunta “Como estão?”, Stanislav respondeu: “O que é que acha? Que se está bem numa cave?” Questionado sobre como faziam para ir à casa de banho, o russo respondeu, lacónico, com apenas duas palavras: “Um balde.”

Os recrutas “atirados aos cães” e a revolta das mães dos soldados

As condições em Kursk não são sequer o único tema a provocar descontentamento e agitação entre os russos. As imagens de rendição de vários soldados russos às Forças Armadas ucranianas começaram a circular nas redes sociais e a levantar uma questão: a maioria dos militares que estavam em Kursk não são soldados profissionais, mas sim recrutas jovens e sem experiência.

Os relatos que alguns prisioneiros de guerra fizeram depois a media ocidentais começaram a confirmar um cenário em que os recrutas terão sido enviados à pressa para essa linha da frente, sem treino ou equipamento adequado. “Dissemos aos nossos comandantes, os recrutas não deviam estar na fronteira, tirem-nos daqui. Eles disseram que tínhamos de ficar”, contou um jovem de 20 anos ao Wall Street Journal. “Atiraram-nos aos cães.”

“Nós, mães dos recrutas, pedimos-lhe que os retire dos territórios onde decorrem operações militares (...). Salve a vida de soldados sem treino. O senhor prometeu aos pais que eles não iriam participar em ações militares.”
Excerto da petição de Oksana Deeva, mãe de um dos recrutas em Kursk, a Vladimir Putin

Outro fez um relato semelhante ao jornal russo de língua inglesa Moscow Times: “Tinha uma Kalashnikov, uma simples metralhadora. Havia duas metralhadoras para todo o pelotão. Duas granadas de foguete. Sete ou oito recargas em cada uma. Era só isso. E granadas.” Todos os prisioneiros de guerra entrevistados pelo jornal deixaram claro que não sentiam qualquer desejo de continuar a combater contra a Ucrânia: “Vão sem mim, pessoal. Tenho a minha família, a minha vida, o meu futuro. Não vou morrer por aqueles filhos da mãe. Não devo nada à Rússia.

Uma investigação do órgão russo independente iStories concluiu que pelo menos 129 militares russos terão sido feitos prisioneiros de guerra ou estão desaparecidos. Todos eles são recrutas. Pelo menos três morreram. Vladimir Putin sempre prometeu que os recrutas não iriam ser enviados para zonas de combate, deixando essa tarefa aos soldados profissionais e aos recrutados com experiência. Mas, agora, com a guerra a entrar porta adentro pela Rússia, milhares de jovens inexperientes foram confrontados com a linha da frente.

A situação também provocou agitação social dentro do país, com algumas mães dos soldados — que mantêm historicamente um grande peso na sociedade russa, desde os tempos da Guerra no Afeganistão e dos conflitos na Chechénia — a emitirem críticas públicas. “Olá, caro Vladimir Vladimirovich, sou mãe de um recruta que fez parte da mobilização de 2023”, escreveu Oksana Deeva, mãe de um recruta, numa petição que divulgou nas redes sociais e que ganhou rapidamente milhares de assinaturas. “Nós, mães dos recrutas, pedimos-lhe que os retire dos territórios onde decorrem operações militares (…). Salve a vida de soldados sem treino. O senhor prometeu aos pais que eles não iriam participar em ações militares.”

“Vladimir Vladimirovich, és um homem ou quê?”. As mães dos soldados russos começam a fazer perguntas

Com noção de que este é um foco de tensão delicado que pode escalar, o Kremlin tem tentado tirar pressão sobre o tema. Nas redes sociais, as contas de unidades militares abriram canais de comunicação com as famílias e permitem aos cidadãos que partilhem as suas preocupações, nota a New Statesman. Ao mesmo tempo, porém, tudo é monitorizado. Como lembra a revista, enquanto centenas de recrutas eram feitos prisioneiros de guerra em Kursk, o Conselho-Comité Russo das Mães de Soldados espalhava nas suas redes sociais histórias falsas sobre bónus extra a serem pagos aos recrutas da região e notícias de que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, teria fugido da Ucrânia.

Ao mesmo tempo, vários começavam a atacar diretamente as mães dos soldados publicamente. Apti Alaudinov, o comandante responsável pela operação no terreno, foi direto: “Se os vossos filhos de 18 anos, que são militares, não defendem a pátria, nem quando esta é atacada pelo inimigo e o inimigo está no nosso território, tenho uma questão para vocês: por que é que este país precisa de vocês e dos vossos filhos?” Já Anastasia Kashevarova, uma blogger próxima do Kremlin, culpou diretamente os soldados pela falta de resposta à ofensiva: “Renderam-se sem resistir, por negligência. Estavam bêbados. Trabalham para o inimigo”, afirmou.

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Centenas de recrutas russos foram feitos prisioneiros de guerra pelo Exército ucraniano

AFP via Getty Images

A campanha parece começar a a estar a dar frutos. Semanas depois do início da ofensiva em Kursk, a edição russa da Radio Free Europe contactou Oksana Deeva — a mãe autora da petição que recolheu milhares de assinaturas — e esta mostrou uma atitude ambígua. “Entendam que me dói a alma, mas já está tudo sob controlo. A situação com os recrutas é questionável. Há pais a receberem chamadas sobre [a situação dos] seus filhos. Não vivemos numa época segura, entende?”, disse ao jornalista. Outro pai contactado pela rádio revelou que o seu filho recruta recebeu uma mensagem enigmática antes de o artigo ser publicado diretamente da procuradoria militar russa: “A sua mãe reportou a situação. Não irá afetar a sua posição e o seu serviço, mas esta violação tem de ser registada.”

No Kremlin, teme-se o rolar de cabeças e entre os russos há sentimentos contraditórios. O modus operandi de Putin numa crise tem resultado sempre a seu favor

Dentro do Kremlin, aparentemente tudo segue dentro da normalidade, como antes. Mas as constantes tensões palacianas vão sempre transpirando. Oficialmente, a operação em Kursk está a ser comandada pelos militares com a colaboração dos serviços secretos (FSB). Os rumores, contudo, diziam que Putin teria dado essa responsabilidade a Alexei Dyumin, o seu antigo guarda-costas promovido recentemente a conselheiro presidencial. De acordo com as fontes do site Meduza, tudo não terá passado de uma operação de relações públicas lançada pelo próprio Dyumin para se promover.

As tensões internas vão sendo conhecidas a conta gotas. O comandante militar no terreno, o checheno Alaudinov, já criticou diretamente as chefias militares do país por não terem antecipado o ataque ucraniano: “Alguns líderes do Ministério da Defesa continuaram a mentir e a mentir e acho que mentiam a si próprios”, disse numa entrevista divulgada no Telegram, aponta o Wall Street Journal. “Temos muito trabalho duro pela frente nas próximas semanas.”

“Toda a gente está nervosa, a passar culpas: o exército culpa os serviços de informação e os responsáveis de Kursk culpam o Exército”, dizia uma fonte do Kremlin ao Meduza há cerca de uma semana. “Toda a gente tem medo que rolem cabeças.”

“Olhem para o caso de Prigozhin: a reação ao motim foi deplorável, mas quem foi o último a rir? Um mês depois ele explodiu em chamas. Suspeito que neste momento eles [dentro do Kremlin] estejam só a olhar para perceber: o poder [de Putin] ainda é forte? O velho ainda é capaz?”
Ekaterina Schulmann, analista do ramo russo do Carnegie Center, ao The Guardian

É que o modus operandi de Putin numa crise é sempre o mesmo. Sim, inicialmente desaparece e empurra responsabilidades para os subalternos, como notou Mark Galeotti. Mas, quando a situação se torna mais clara, pune responsáveis, reorganiza a hierarquia interna e projeta uma imagem de força. Foi assim com várias crises ao longo da sua vida: no sequestro de centenas de crianças numa escola em Beslan em 2004, no pós-revolução da Maidan em Kiev, na tentativa de motim de Yevgeny Prigozhin.

A elite do Kremlin, sublinha a analista russa Tatiana Stanovaya, está paralisada pela influência de Putin. “Estão habituados a eventos chocantes. Estão habituados a viver situações imprevisíveis”, afirmou ao Washington Post. “E também estão habituados a sentir que não têm poder suficiente para mudar nada, estão desamparados.”

Não é de esperar, por isso, que Kursk provoque um abanão tal no Kremlin que leve alguém a tomar a iniciativa de desafiar Putin. “Olhem para o caso de Prigozhin: a reação ao motim foi deplorável, mas quem foi o último a rir? Um mês depois ele explodiu em chamas”, disse ao The Guardian Ekaterina Schulmann, analista do ramo russo do Carnegie Center. “Suspeito que neste momento eles estejam só a olhar para perceber: o poder [de Putin] ainda é forte? O velho ainda é capaz?”

Se de dentro do Kremlin não é de esperar qualquer vaga de fundo para afastar Putin, a resposta dos russos comuns é mais difícil de avaliar. Por um lado, a ofensiva de Kursk provocou um descontentamento com o Presidente superior ao habitual, como analisou a organização Filter Labs, que monitoriza as redes sociais russas: “A incursão ucraniana em território russo correspondeu a uma descida abrupta no sentimento [dos russos] — ou seja, um aumento da negatividade, em média, nas histórias que mencionam o Presidente russo.”

Mas a empresa também detetou uma subtileza: “É notório que esse sentimento sobre Putin foi mais negativo na cobertura dos media de Kursk, mas não na cobertura da imprensa nacional.” O que, por consequência, tem também reflexos nas opiniões dos que vivem em Kursk face à da maioria dos russos, para quem a guerra continua a ser um cenário distante.

As sondagens num país onde a liberdade de expressão tem sido severamente limitada são por natureza difíceis de interpretar. O Centro Levada, a empresa de estudos de opinião mais independente da Rússia, tem notado que o apoio a um acordo de paz com a Ucrânia está neste momento no seu nível mais alto de sempre: 58%. Mas, ao mesmo tempo, a larga maioria dos russos (76%) rejeita que sejam feitas concessões ao governo de Kiev. “Essas respostas coincidem com o desejo das pessoas de se distanciarem uma vez mais dos horrores e falhanços da guerra. Preferem acreditar que tudo está bem”, resume o analista político russo Andrei Kolesnikov.

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Vladimir Putin já enfrentou várias crises e conseguiu sempre manter apoio popular

AFP via Getty Images

Por um lado, a ofensiva de Kursk deixou em alerta muitos dos russos — um estudo da Fundação de Opinião Pública mostrou que os sentimentos de ansiedade na sociedade russa dispararam de 6% para 45% em pouco tempo. E dentro do Kremlin isso provocou preocupação, mas mantém-se a fé de que esta crise será ultrapassada como as restantes: “Durante um momento de choque — e este foi, claramente, um choque — há sempre alterações [nas sondagens]. Mas as pessoas depois habituam-se e tudo acalma. Vejam o que aconteceu durante a rebelião de Prigozhon, com a mobilização, no começo da guerra”, afirmou uma fonte ao Meduza.

Para alguns russos, a ofensiva de Kursk trouxe ao de cima sobretudo sentimentos de raiva — alguns contra o Kremlin, mas também contra os próprios ucranianos. “A retórica do outro lado é extrema: ‘Nós tivemos de ficar em caves, agora é a vossa vez’. Como é que este aldrabões pró-ucranianos são melhores do que aqueles que apoiam este porcaria do lado da Rússia?”, dizia ao Moscow Times uma habitante da região. “Acham que a vítima não se pode tornar num agressor?

Os analistas apontam que, depois do choque inicial, um ataque vindo da Ucrânia pode até servir para mobilizar um país até aqui dormente e fazê-lo apoiar ainda mais a guerra. É o efeito definido em inglês como rally around the flag, a ideia de que há um súbito sentimento patriota de união em torno “da bandeira”. Para os russos, nota o analista Andrei Kolesnikov, há muito que a bandeira russa se tornou sinónimo de Vladimir Putin. “E quem é que se vai queixar da sua bandeira?”

 
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