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Turistas na praia de Quarteira no dia em que a Autoridade Marítima Nacional levantou, esta manhã, a restrição de banhos na praia de Quarteira, após nova análise à qualidade da água nas praias de Quarteira e Vale do Lobo, em Loulé, 26 de julho de 2023. A interdição a banhos nas praias de Quarteira e Vale do Lobo, no Algarve, que durou menos de 24 horas e cuja interdição foi hoje levantada, foi causada por um foco de poluição. RICARDO NASCIMENTO/LUSA
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Rendimento médio por quarto disponível subiu, em junho, 26% face ao mesmo mês de 2019

RICARDO NASCIMENTO/LUSA

Rendimento médio por quarto disponível subiu, em junho, 26% face ao mesmo mês de 2019

RICARDO NASCIMENTO/LUSA

Algarve recebeu menos 15% de turistas nacionais em junho. Portugueses fogem dos preços do sul?

Região que mais perdeu turistas nacionais face ao pré-Covid foi o Algarve. Preços na hotelaria subiram mas setor — que admite "constipação de verão" — diz que isso não explica toda a queda.

O sol de verão brilha, este ano, para menos turistas nas praias e nas ruas algarvias. Com os preços a subirem no sul do país, e a baixarem noutras geografias — como Espanha, que reviu os preços perante taxas de ocupação mais baixas do que o esperado —, o Algarve viu o número de turistas portugueses cair 15,7% em junho face ao mesmo mês de 2019, no pré-pandemia. O setor calcula que, em menor dimensão, o mesmo tenha acontecido em julho (menos 4%) e fala mesmo numa “constipação de verão”. Mas para onde foram estes portugueses?

Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (ainda preliminares), enviados ao Observador, em junho deste ano o Algarve perdeu 5,7% dos hóspedes (nos alojamentos turísticos) face ao que tinha tido no mesmo mês de 2019, mas a quebra foi mais pronunciada entre os turistas nacionais — menos 15,7% para 154.742 — do que nos estrangeiros — menos 1,3%, para 410.791. Foi, aliás, a região do país que mais turistas residentes perdeu, bem à frente do segundo maior perdedor, a área metropolitana de Lisboa (menos 0,14%) e com a Madeira (mais 32%) no extremo oposto, a conquistar mais turismo. No mesmo período, o rendimento médio por quarto disponível no Algarve escalou 26%, de 69,8 euros por noite para 88,1 euros.

Hélder Martins, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), reconhece que os preços no Algarve subiram — calcula que entre 15 e 20% em julho face ao mesmo mês de 2019. Para esses aumentos contribuíram o crescimento dos custos com pessoal, nomeadamente pela subida do salário mínimo a rondar os 8% desde janeiro, e dos custos de produção. “Não há um único produto que compremos hoje que não custe o dobro”, lamenta, em declarações ao Observador, exemplificando com a “escalada brutal” do preço do arroz devido à seca na Tailândia.

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Dormidas no turismo crescem 18,8% até junho e superam níveis pré-pandemia

Com a falta de trabalhadores que queiram ficar na hotelaria, o ex-presidente da Região de Turismo do Algarve garante que os hotéis estão a contratar funcionários acima do acordado com os sindicatos nos contratos coletivos. “Hoje não consegue um cozinheiro no terreno a mil euros. Tudo isso são aumentos que as empresas absorvem”, complementa. E que ajudam a explicar a subida dos preços.

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“Não é nas Caraíbas que estão os portugueses em falta. É em casa”

Os hotéis transmitiram estes custos acrescidos aos clientes, com o INE a calcular que, no Algarve, o rendimento médio por quarto disponível tenha, em junho, subido 26% face ao mesmo mês de 2019 (o último ano sem o efeito da pandemia), de 69,8 euros por noite para 88,1 euros. Os valores sobem mais no caso do rendimento por quarto ocupado: um aumento de quase 29%, de 101,6 euros por noite para 130,9 euros. Essa subida traduziu-se nos proveitos dos estabelecimentos hoteleiros, que atingiram máximos de um mês de junho desde, pelo menos, 2013 (o início dos dados divulgados pelo INE), para 186 milhões de euros, 30% dos proveitos nacionais. É uma subida de 26% face a junho de 2019.

Este aumento dos proveitos aconteceu mesmo apesar de as dormidas de residentes e não residentes, em conjunto, terem caído 6,7%. Também no caso das dormidas a queda foi mais pronunciada entre os turistas nacionais: menos 17%, para quase 513 mil. Hélder Martins, que admite quebras nesse mês, tem, porém, explicações complementares ao preço: a meteorologia menos apelativa a banhos que se sentiu em junho e o início do ajuste dos preços para a época alta.

“Junho foi o primeiro mês de quebras depois de cinco anteriores em que tivemos excelentes resultados. Na nossa opinião, tem a ver com a mudança para os preços de época alta. Quando mudam os preços para a época alta normalmente há maior relutância. E em junho as condições climatéricas também não foram as ideais. Depois julho voltou a subir”, constata.

Só a 14 de setembro é que o INE divulgará os dados de julho. Num inquérito a cerca de 200 associados, entre pequenos hotéis e cadeias hoteleiras, a AHETA concluiu que, nesse mês, o número de turistas nacionais esteve 4% abaixo do pré-pandemia. Hélder Martins, da associação, rejeita que sejam só os preços da hotelaria a afastar os portugueses. E tem duas hipóteses: ou ficaram em casa, por causa do aumento do custo de vida, ou aproveitaram os preços baixos de Espanha ou de outras geografias, como a bacia do Mediterrâneo.

O responsável de hotelaria indica que, no país vizinho, no início da época alta, houve uma redução “drástica” dos preços, até 30%, devido às baixas taxas de ocupação que então se registavam. Dessa forma, Espanha conseguiu piscar o olho aos clientes portugueses. Em Portugal, não houve uma redução no mesmo sentido porque, diz Hélder Martins, as taxas de ocupação mantiveram-se elevadas — em termos globais, estima que julho deste ano tenha ficado cerca de um ponto percentual acima de 2019, em 84%. “Não houve uma descida radical de preços porque não foi considerado necessário”, explica.

A inflação, e os efeitos da subida das taxas de juro sobre os créditos à habitação, que cortam salários que não cresceram na mesma medida, também podem ter uma palavra a dizer, acredita a AHETA. “Quando se decide ir para Espanha, não se decide só pelo preço do hotel. Também pelo preço do restaurante, pelas portagens, o combustível que lá é mais barato. As pessoas fazem esses cálculos”, argumenta.

Não são os portugueses que estão a abandonar o Algarve, o Algarve está cheio de portugueses. Quem abandonou foram as pessoas com uma determinada situação económica que ou escolhem férias mais baratas ou não fazem férias. Há oferta no Algarve para as bolsas com menor poder de compra, mas essas pessoas ficaram em casa”, acrescenta ainda.

A ‘fuga’ de portugueses para o sul de Espanha pode ter aumentado com as baixas de preços praticadas pelos hotéis vizinhos, mas Hélder Martins rejeita que seja um fenómeno só de agora. “Há 20 anos fui presidente da Região do Turismo do Algarve e já nessa altura o grande tema era que havia portugueses que iam para o lado de lá do Guadiana. Isso sempre aconteceu. Estas zonas de Ayamonte e Huelva sempre tiveram uma grande ocupação de portugueses, porque eles têm preços mais baratos e sempre tiveram”, diz.

Turistas na praia do Inatel, em Albufeira, 07 de julho de 2022. Segundo o Instituto Português do Mar e da atmosfera (IPMA), nos próximos dias, Portugal continental irá enfrentar uma situação de tempo quente persistente, que deverá dar origem a uma onda de calor em muitas áreas do território. LUÍS FORRA/LUSA

Hélder Martins rejeita, ainda assim, que haja uma "crise" no Algarve. "O Algarve tem um aumento, nos primeiros 12 dias de agosto, de 16% no movimento do aeroporto", adianta.

LUÍS FORRA/LUSA

É no segmento dos turistas nacionais com rendimentos baixos a médio-baixos que a associação admite as maiores quebras. “Há unidades mais baratas que têm pior desempenho [em termos de reservas] do que as mais caras. Há hotéis que, mesmo com preços mais altos, fazem taxas de ocupação de 95% agora em julho”, afirma, o que entende como um sinal de que “Portugal está a atrair pela qualidade do turismo”. O destino que, segundo a AHETA, mais viu a procura diminuir foi Monte Gordo, uma escolha tradicionalmente portuguesa.

Hélder Martins rejeita, ainda assim, que haja uma “crise” no Algarve. “O Algarve tem um aumento, nos primeiros 12 dias de agosto, de 16% no movimento do aeroporto”, adianta.

As estimativas do INE revelam que o Algarve foi a única região do país que, em julho, viu a inflação mensal (face a junho) subir: 0,11%, quando na média nacional houve uma quebra de 0,36%. No caso da hotelaria e da restauração, foi mesmo a região onde os preços mais subiram, de acordo com o indicador calculado pelo INE (3,8%, bem acima da média nacional de 0,19%).

Já a inflação homóloga revela que os preços na hotelaria e na restauração sobem agora menos no Algarve (4,26%) do que no resto do país (8,81%), depois de terem atingido máximos nacionais em 2022: em julho do ano passado, a inflação homóloga no Algarve, no setor dos restaurantes e hotéis, chegou a 19,79%, bem acima da média nacional de 14,8%.

Outro indicador ajuda a perceber se os preços nos últimos meses têm sofrido grandes oscilações, e aí o Algarve volta a marcar passo: nos últimos 12 meses, a inflação subiu, em média, 11,29% na hotelaria e restauração do Algarve, um valor que, apesar de ter dois dígitos, ainda está abaixo de Lisboa (15,33%).

Algarve enfrenta uma “constipação de verão”

Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), também admite que a “operação de êxito” do Algarve esteja a passar por uma “constipação de verão” fruto dos portugueses de rendimentos baixos/médio baixos que não conseguem fazer férias por ainda viverem os efeitos “desiguais” da inflação — com as consequências das subidas das taxas de juro nos créditos à habitação.

No Algarve, o “problema” está, agora, aí mesmo: “no segmento médio/baixo”. “O que há é, recentemente, uma quebra da dinâmica das reservas e vendas e isso é um efeito de degradação do poder de compra”, afirmou, à Rádio Observador, no programa “Causa Própria”.

É mesmo mais barato passar férias no estrangeiro?

A APAVT registou níveis recordes nos voos charter — que destaca resultados positivos nas viagens de Portugal para Cabo Verde, Senegal, Zanzibar, Caraíbas, etc. Mas Pedro Costa Ferreira desmistifica a ideia de que os portugueses que faltam ao Algarve, dos rendimentos baixos/médio baixos, sejam aqueles que estão a ir para esses destinos. Tal como Hélder Martins, tem uma convicção: muitos dos que não estão no Algarve ficaram em casa porque não conseguem despender dinheiro para mais. “Não é nas Caraíbas que estes portugueses estão, infelizmente. É em casa”.

Os voos charter estão a passar por uma fase de “grande êxito”. Nem o aumento dos preços, à volta dos 15%, em média, impediu esta evolução. Quem enche os voos são os portugueses de rendimento mais elevado — médio/alto e alto.

“Ainda há um ano, no primeiro trimestre, estávamos fechados. Houve um comportamento de vingança do consumo, houve poupança forçada durante a pandemia, houve todo um conjunto de circunstâncias que fez com que as reservas antecipadas no início do ano fossem de um nível absolutamente recorde”, explica. “A inflação não afeta os segmentos de igual maneira. O médio-alto continua com um comportamento positivo“, no que toca aos voos charter, indica.

E dá um exemplo: além do sul de Espanha, também nas Caraíbas há preços atrativos para um segmento médio. Nessa geografia, uma “guerra comercial” entre diferentes intervenientes de mercado fez com que “os preços ficassem mais acessíveis a uma classe média”.

Para Hélder Martins, da AHETA, é um erro que o Algarve tente fazer “competição por baixo” — a oferta, defende, deve almejar a “melhor qualidade”. Mas critica a falta de recursos do Turismo da Região do Algarve, que, diz, tem “o mesmo orçamento há 20 anos”. “Não estamos a promover o Algarve junto dos portugueses. Espero que a economia dê outro sinal, que esta escalada de juros abrande, para que as pessoas possam ter capacidade de vir ao Algarve.”

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