A Grécia disse Não aos credores. E agora? Há análises, cenários e opiniões para todos os gostos, mas a saída da Grécia do euro é um tema cada vez mais recorrente. Ninguém quer, mas…acidentes acontecem dizem alguns, ministros europeus inclusive. Ainda terão os gregos dracmas em casa? Se não tiverem, nas ruas de Atenas ainda há quem os tenha.
Os bancos estão fechados há uma semana e por mais uns dias assim vão continuar. As filas nos multibancos persistem longas, onde os gregos resistem estoicamente para tentar levantar os seus 60 euros diários, enquanto muitos pensionistas sofrem para conseguir entrar nas agências bancárias e levantar a sua pensão.
Em Atenas, o dia-a-dia está cada vez mais focado no que se consegue, do que no que se quer. Os relatos de dificuldades em conseguir produtos crescem, e começam nos medicamentos. Com um grande Não ao programa proposto pelos credores, o sistema bancário viu-se grego e já não reabre terça-feira como estava previsto. Com as negociações a voltarem para Bruxelas, a pergunta é cada vez mais frequente: vai a Grécia sair do euro?
Daphne, de 28 anos, não é imune a tudo isto, mas na loja onde trabalha, os dracmas não passam de uma recordação. “Não é que alguém ache que o dracma vai voltar”, diz, quando lhe perguntamos se tem tido mais pessoas a comprar dracmas por estes dias. “Se mudarmos de moeda, não será para este dracma”.
Aqui, no final da rua Kapnikareas, perto de Monastiraki, há dracmas para todos os gostos. Notas de 200 milhões de dracmas de 1944, altura de crise profunda e hiperinflação na Grécia, de 50 dracmas, de 1976, de 500 dracmas de 1983, mas também algumas moedas de 1998, pouco antes da Grécia entrar no euro.
“Eu ainda me lembro quando era miúda de usar dracmas como estes”, diz Daphne. Entre as explicações, algumas opiniões sobre a situação do país. “Não acredito e não quero que a Grécia saia do euro. Sou de esquerda e sou europeísta. Mudar de moeda agora seria muito difícil. Demorámos dois anos a mudar para o euro. Agora seria muito pior, tudo muito mais difícil”, acrescenta.
A situação é difícil e tem de mudar, acredita a jovem, mas o povo grego não quer muito, acredita. “Só queremos uma casa. Agora trabalhamos a vida toda e chegamos ao fim e os pais nem podem dar passar a casa para os filhos porque os impostos foram aumentados e para muito mais alto. Não é como dizem por aí, que os gregos querem viver à grande e ter não sei quantas casas, e carros. O povo grego não é assim”, afirma.
“A minha mãe é educadora de infância e vai ter de se reformar aos 67 anos, sem nada. E depois? Eu não posso apoiá-la. E ela devia poder sustentar-se sozinha. Não é natural. Agora temos de arranjar maneira de apoiar os nossos avós, os nossos pais, quando é difícil para nós. E que perspetivas tenho eu? Não é que vá conseguir emprego lá fora. Não há indústria”, diz.
Como muitos dos gregos hoje em dia, Daphne desconfia dos políticos, de todos eles. Sobre os partidos que estiveram no poder antes do Syriza relembra os casos de corrupção. Do atual Governo, diz que tiveram a oportunidade de fazer algo diferente, mas também não confia que serão capazes. Todos os políticos, cada um à sua maneira, caíram em desgraça com os gregos.
E os dracmas? “São os mesmos de sempre a comprar. Alguns turistas, especialmente gregos que estão emigrados nos Estados Unidos”.
Mas também há locais a comprar. Estarão os gregos a preparar-se para o fim do euro na Grécia? “Não. Os gregos têm um sentido de humor muito negro. Há alguns dias um amigo meu foi ao multibanco e esperou na fila para levantar os 60 euros do dia e quando lá chegou tirou alguns dracmas do bolso e começou a dizer que estavam a sair dracmas. As pessoas passaram-se. Está tudo muito nervoso. Tudo muito calmo, mas nervoso. É estranho”, diz.
Seja para recordação, por precaução ou para pregar sustos às pessoas, em Atenas ainda se consegue encontrar a moeda de que todos falam.