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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Na reta final, Temido gere fasquia e pede voto feminino. PS sonha com Costa em Bruxelas

PS foca-se no voto das mulheres, sem definir meta específica para eleições: o que interessa é ganhar. Vitória pode ajudar Costa, que não foi à campanha, a ir para Bruxelas.

Depois de suas semanas a ouvir a caravana lançar gritos de “viva as mulheres” e a insistir na defesa dos seus direitos, que estarão alegadamente sob ataque da direita, o apelo ao voto feminino tornou-se, no PS, ainda mais explícito. Numas eleições em que os partidos sabem que o cenário de mobilização é complicado — a abstenção é muita e a probabilidade de convencer pessoas que não sejam já próximas dos partidos é pouca — os socialistas decidiram gerir a fasquia e escolher alguns alvos mais concretos. A vitória por que o PS trabalha até ao fim também servirá, vão sugerindo alguns dos nomes de primeira linha no PS, a António Costa — que não foi à campanha.

Neste dia final de campanha, Temido concretizou o que a agenda e o discurso do PS já vinham há muito indiciando: nestas eleições, defendeu num mercado em Setúbal, por entre as bancas do peixe e da fruta, “as mulheres têm especialmente uma palavra a dizer”. Isto porque são as mulheres que mais “querem a paz”, “não querem recuos” e estão “todas juntas para melhorar a vida de Portugal”, argumentou.

As referências aos direitos das mulheres foram uma constante durante toda a campanha, como já tinham, aliás, sido em março, na campanha para as legislativas. Na altura, a volta nacional foi invadida pelas declarações de Paulo Núncio, atual deputado do CDS, que disse apoiar um novo referendo à despenalização involuntária da gravidez. Seria imediatamente desautorizado por Luís Montenegro, mas a ideia ficou e serviu à esquerda para, durante toda essa campanha, usar a declaração como exemplo da iminente ameaça aos direitos das mulheres — juntando-lhe a recordação das mexidas que foram feitas na legislação do aborto no final da governação de Pedro Passos Coelho, quando Luís Montenegro era líder parlamentar.

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“A maioria, para não dizer a totalidade, nos avanços nos direitos das mulheres foram com o PS”, afirmava então Pedro Nuno Santos, num comício em Aveiro. Numa entrevista acusaria ainda os partidos de direita de se “gabarem de criar dificuldades no acesso à interrupção voluntária da gravidez”, prometendo “valorizar e continuar a defender as mulheres”.

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[Já saiu o quarto episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo episódio e aqui o terceiro episódio]

Três meses depois, a história pareceu repetir-se: partindo do voto da direita contra a inclusão do aborto na Carta dos Direitos Fundamentais da UE, no Parlamento Europeu, e das “hesitações” de Sebastião Bugalho numa entrevista a propósito da sua posição sobre o aborto — embora tenha garantido que não quer reverter a lei atual –, a restante esquerda e o PS agarraram o tema e fizeram dele um dos centros da sua campanha. Durante toda a volta do PS pelo país, foi muito raro o discurso em que Marta Temido e os responsáveis socialistas que a iam acompanhando nos comícios não fizeram referências diretas ao assunto.

No caso de Temido, a ideia passou sempre por associar o voto na direita e na extrema-direita a um voto que poderia trazer “recuos”, incluindo em direitos que não se podem dar por “garantidos”. Houve quem tivesse ido ainda mais longe: “Votar em toda a direita por igual é abrir caminho ao retrocesso dos direitos das mulheres”, atirou a líder parlamentar socialista, Alexandra Leitão, num comício em Santarém. Os alertas foram repetidos por Pedro Nuno Santos, que foi criticando quem “hesita e se atrapalha” quando fala nos direitos das mulheres. E, num passeio pela Feira do Livro, Temido chegou a aconselhar a biografia de Simone Veil a Sebastião Bugalho, entre outros motivos porque a primeira presidente do Parlamento Europeu, “sendo de uma linha conservadora, não deixou de ser defensora dos direitos das mulheres”.

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O PS fez, de resto, durante a campanha dois encontros específicos para falar dos direitos das mulheres: um primeiro, no Alentejo, em que Temido esteve acompanhada por Elza Pais, presidente das Mulheres Socialistas; e um segundo, já na reta final, em Coimbra, chamado “encontro de mulheres da Europa” que juntou à mesma mesa Temido, Ana Catarina Mendes (nº3 da lista), Elisa Ferreira (comissária europeia), Maria Manuel Leitão Marques (eurodeputada) e Ana Gomes (ex-eurodeputada). E foi aí que se ouviram alguns dos mais duros ataques à direita e alertas para o eleitorado feminino, com Leitão Marques a criticar as eurodeputadas portuguesas que votaram contra a inclusão do aborto na Carta dos Direitos Fundamentais (“com medo de quem?”), Ana Catarina Mendes a garantir que os direitos sexuais e reprodutivos “estão mesmo em causa” e Temido a rematar que as mulheres serão muito importantes na eleição, até porque apoiam menos partidos extremistas e “ligados ao ódio”.

Dados mostram mulheres mais viradas à esquerda

Há uma explicação estatística para esta convicção do PS de que vale a pena apostar no voto feminino: as eleições legislativas mostraram uma nova tendência no comportamento eleitoral, sendo que estas foram as segundas eleições deste tipo em que as mulheres votaram mais à esquerda. Nessa altura, a sondagem à boca das urnas conduzida pelo ICS, ISCTE e GfK confirmava aquilo a que os especialistas Pedro Magalhães e João Cancela descreviam, num artigo no Expresso, como o gender gap moderno” que se tem verificado na generalidade das “democracias avançadas”, e que consiste na tendência de cada vez mais as mulheres votarem à esquerda e os homens à direita. Os investigadores explicavam, nessa altura, que PS, BE e PAN receberam “desproporcionalmente” mais votos de mulheres.

Já numa das últimas sondagens feitas para estas eleições europeias, da Universidade Católica, as intenções de voto mostravam que o PS continua a ser a força política mais escolhida pelas mulheres. Ainda assim, e se internacionalmente são vários os estudos que apontam para que as mulheres da “geração Z” são cada vez mais progressistas, em relação aos rapazes, mais conservadores. Neste grupo mais jovem o PS parece ter menos sucesso: as sondagens para estas europeias continuam a indicar que é mais forte entre os mais idosos.

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Apesar de entre socialistas se garantir que os jovens são outro dos alvos eleitorais nesta corrida europeia, e de Marta Temido ter ido recordando que os pilares escolhidos como prioridade (habitação, rendimentos e direitos) dizem muito aos mais novos — raro foi o discurso em que se esqueceu de referir o voto do PS pelo fim dos estágios não remunerados na Europa, por exemplo — as mulheres foram o mais frequente alvo dos apelos socialistas. Ainda assim, foi num discurso dedicado aos jovens que Temido lançou uma das farpas mais diretas contra o principal adversário, Sebastião Bugalho, atirando que “não basta ser jovem para defender os jovens”.

O outro grupo, este mais transversal, a que Temido se foi dedicando na campanha é aquele que o PS tem noção de que ajudou a ditar a sua derrota nas legislativas de março: o dos descontentes. Pelas ruas do país, sempre que ia encontrando alguém que se queixava da governação do PS ou das dificuldades que atravessa, Temido foi fazendo questão de tentar combater as “frustrações” dos interlocutores. Neste dia final, lembrou que é importante falar para quem vota “por frustração e medo” porque se sente a ficar para trás numa Europa desenvolvida, e por isso escolhe “soluções mais populistas do que progressistas” — “esse é um eleitorado que nos interessa captar”.

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Ganhar sem definir números e com Costa na cabeça

Sejam quais forem os alvos, o PS tem duas ideias claras: a primeira é que é muito importante ganhar estas eleições europeias, uma espécie de desforra das legislativas que, confia, podem trazer um sumplemento de “humildade” ao Governo — embora tente por todos os meios desfazer a ideia de que poderia usar resultados positivos para precipitar uma crise política.

A segunda ideia é que é importante gerir a fasquia que apresenta: se logo no início da campanha Temido sugeriu, num gracejo com os jornalistas, que a meta ideal poderia fixar-se nos dez eurodeputados, logo fez questão de corrigir a graça e recusar, sob pena de ficar “angustiada”, definir metas concretas.

A resolução foi cumprida: o PS passou a campanha sem falar em números — nem em percentagem, como fez a AD ao falar em 29% como fasquia para vencer, nem em mandatos –, consciente de que parte de uma base elevada, com nove eurodeputados, que segundo as sondagens pode ser possível manter, mas dificilmente crescerá. Tendo Portugal ‘direito’ a eleger 21 lugares no Parlamento Europeu, a fasquia dos nove já é alta — o que interessa será mesmo, independentemente dos números, ganhar à AD, sem se impor mais metas que lhe compliquem a vida. “Uma grande vitória”, acabou por resumir Pedro Nuno Santos, na reta final.

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Essa vitória será importante para o plano nacional, mas não só: as eleições europeias têm muitas implicações que não apenas os lugares que serão ocupados pelos eurodeputados, e a negociação dos ‘top jobs’ nas instituições europeias está próxima — o que significa que o futuro de António Costa também pode estar em jogo. Se ainda antes da campanha a comissária europeia Elisa Ferreira dava uma entrevista ao Público em que assegurava que o facto de a Operação Influencer estar a correr não seria um problema de maior segundo os critérios de Bruxelas, essa tese continuou a ganhar força.

A tese seria, aliás, reforçada por Marcelo Rebelo de Sousa, que também em abril dizia que se tornava, aos seus olhos, mais forte a probabilidade um português liderar o Conselho Europeu já este outono. Na campanha, o tema Costa foi abordado em intervenções de alguns senadores do PS. Num comício em Santarém, Augusto Santos Silva deixou votos de que os portugueses ganhem protagonismo na sua família política europeia nestas eleições — “porque continuamos a precisar dos melhores socialistas portugueses para responsabilidades de liderança”.

Depois, Carlos César foi a Guimarães discursar e referiu-se ao assunto de forma ainda mais evidente, criticando os outros partidos por não apoiarem uma eventual candidatura de Costa ao Conselho Europeu: “Estamos numa disputa que nos diferencia em tantas matérias importantes dos outros partidos. Mas a nossa candidatura não é inimiga dos que se propõem representar Portugal e defendem Europa democrática”, começa por dizer. “Ao contrário de outras, é uma candidatura que não troca portugueses que podem vir a desempenhar funções por exemplo no Conselho Europeu pelo ódio ou inveja partidária”. Esta candidatura, rematou, quer “o melhor Portugal na Europa”.

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Já na reta final da campanha, o ex-ministro Duarte Cordeiro iria a Aveiro deixar o recado mais direto de todos, defendendo que o reforço dos socialistas na Europa dá também força à ideia de ter protagonistas “como António Costa” nas instituições europeias, “ao mais alto nível”.

O desejo não sai da cabeça dos socialistas, tanto que a delicada presença de Costa na campanha — que acabou por não acontecer — foi dada como incerta até ao último minuto, precisamente porque na caravana do PS se calculava que o antigo primeiro-ministro tivesse de gerir a sua agenda e as suas aparições públicas de forma a contar com o número de apoios mais alargado possível em Bruxelas. “Uma questão de reserva” pelo que “pode vir a seguir”, garantia um socialista. “Comprometeria apoios”, acrescentaria outro. Costa tem em mãos “várias combinações institucionais”, resumiria Temido no último dia de campanha, assegurando que mesmo assim sabe que “o chefe” está sempre a apoiá-la. “Esteja onde estiver” — e o PS quer que em breve esteja em Bruxelas.

 
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