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O candidato da AD, Sebastião Bugalho, utiliza o telemóvel ou o iPad para guardar as palavras que se vai lembrando e que pode mais tarde utilizar nos discursos. Marta Temido, do PS, tem um caderno vermelho, que já está cheio, e que sublinha com um marcador cor-de-laranja, simbolicamente a cor do partido atacado em alguns desses sublinhados. João Cotrim Figueiredo escreve em folhas à A4, à mão, numa forma esquemática onde se pode ler as palavras “Cristina”, de Cristina Ferreira, ou Dua Lipa.

A candidata do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, colocou notas numa folha, manuscritas, que são minimais, mas há referências que prometem: de “André Ventura” a “kebab”, de “Tânger-Corrêa” a “cachupa”, incluindo a palavra “sushi” riscada. João Oliveira, da CDU, dá destaque aos direitos das mulheres nas notas que colocou no tablet. Francisco Paupério escreve à mão um Top 10 de temas a utilizar e Pedro Fidalgo Marques coloca a abolição das touradas em Caps Lock nas notas do iPad. Dos oito candidatos de partidos com assento parlamentar, o Observador analisou notas e rabiscos de todos exceto Tânger-Corrêa que não tinha, até à data de saída deste artigo, nada do que disse escrito.

Sebastião Bugalho. Notas sempre digitais e mais extensas para atacar o PS

É o próprio que escreve os discursos, mas com notas mais ou menos extensas, conforme o tema, que tira no telemóvel a que anda sempre agarrado. Muitas vezes até as vai tirando enquanto discursam os dirigentes locais que abrem os comícios. Tenta sempre meter uma tirada ligada ao sítio que visita, ou através de raízes familiares ou pela memória de alguma experiência concreta que viveu por ali.

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Segue com as linhas políticas, em consonância com a direção do partido, e mais acentuadas quanto mais atacado for a cada dia. Aqui analisamos as notas do primeiro discurso da campanha oficial, dia em que teve o líder do partido ao seu lado no comício de Évora. São notas tiradas na aplicação Docs no telemóvel. Também costuma usar um tablet para ter ao colo em entrevistas ou em algumas intervenções, para ir consultando as mesmas notas. As indicações que tem à frente são normalmente curtas, feitas de ideias ou palavras-chave e tornam-se mais longas quando o tema é mais político e menos frequente.

1.”Sr. PM”. As notas escritas no telemóvel do cabeça de lista são do discurso que fez em Évora, logo no arranque da campanha oficial e com o líder do PSD na primeira fila. Não fosse esquecer-se, o candidato independente deixou a indicação de que tinha de falar nisso logo duas vezes nas primeiras linhas das suas notas para o discurso. Não esqueceu mesmo, já nos agradecimentos aos partidos da coligação, nas notas só tinha dois deles, o PSD e o CDS, mas mesmo sem ter escrito não deixou de, na hora H, referir também o PPM. Alguns comícios mais adiante, já tinha autorização de Luís Montenegro para começar a tratá-lo por tu, mas diz que não consegue. O tratamento por “sr. primeiro-ministro” está, por isso, para durar.

2.”Pai Castelo de Vide”. Não há quase terra do país que visite em que Sebastião Bugalho não lembre raízes familiares que o ligam a algum ponto daquele lugar específico ou outro qualquer do distrito. Há sempre uma história, um familiar, umas férias de verão. Nesta intervenção concreta agradeceu À AD por ter feito um desvio, à vinda do Algarve para Beja, para parar em Moura. “Um capricho familiar”, disse, onde está a escola em que a avó materna andou e onde lhe mostraram as fotografias mal chegou de um casamento onde a mãe, a escritora Patrícia Reis, aparece pequenina. Neste discurso tinha uma referência ao pai e a Castelo de Vide, no distrito ao lado. Acabou por não falar nessa memória concreta, mas já tinha referido Moura. Em Óbidos mostrou uma fotografia sua com 7 anos ao lado de Telmo Faria, quando este foi autarca da terra onde passou férias, em Lamego sentia-se “lamecense”, o avô foi dentista na Figueira da Foz ou em Barcelos, que lhe ficou na memória porque foi ali que entrevistou Durão Barroso pouco depois de ter sido anunciado candidato da AD, ainda para o podcast “Os Protagonistas” da SIC-Notícias.

[Já saiu o quarto episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo episódio e aqui o terceiro episódio]

3.”Vai ser difícil ganhar”. As notas de Sebastião Bugalho são muitas vezes tiradas enquanto o orador anterior discursa e prova disso é esta frase que anotou no seu telemóvel. Poucos minutos antes deste comício, quando caminhava ao lado de Luís Montenegro para a praça ao ar livre onde ambos discursariam, o candidato ouviu o líder do PSD dizer que ganhar a quinta eleição consecutiva era “muito difícil” (na contabilização cabiam Madeira, Açores, novamente Madeira e Legislativas). A frase ficou-lhe gravada, tanto que escreveu essa mesma expressão nas notas para não se esquecer que tinha de tentar repor a fasquia mais acima no seu discurso, dizendo que pode ser “difícil” mas “não é impossível”. E acrescentou que ainda é pior para todos os outros (onde se lê sobretudo PS) perderem mais uma vez.

4.”Moderação e bom senso”. Colocar a AD no centro políticos tem sido um caminho percorrido desde as legislativas e o independente Sebastião Bugalho tem sido disciplinado ao seguir essa mesma linha nesta campanha. A ideia tem estado em todos os seus discursos e refere quase sempre estas duas palavras para descrever como o voto na AD é o “voto da segurança”. Com esta frase, ao mesmo tempo que tenta centralizar a coligação da direita, negando a proximidade com os radicalismos da direita populista que o PS lhe imputa com frequência, entra também na luta pela permanência do Governo, aconteça o que acontecer nestas eleições.

5. “Andar para trás”. Neste discurso concreto, cujas notas do candidato analisamos aqui, Bugalho falou a seguir de Montenegro que tinha deixado um primeiro aviso a quem está à espera de leituras nacionais das Europeias: “Se alguém pensa que nós estamos tão dinâmicos porque há eleições no dia 9 [de junho], desengane-se. Porque nós, no dia 10 e no dia 11, qualquer que seja o resultado, estaremos com a mesma dinâmica”. E o cabeça de lista, apareceu logo de seguida para acenar com uma eventual instabilidade caso a AD não se destaque, associando a coligação à “estabilidade o país” e do “sistema político”. Mas há uma expressão mais curiosa, que aqui anotou: “Andar para trás”. A frase foi usada pelo PS durante toda a campanha das legislativas quando tentava capitalizar com o regresso de Passos Coelho à estrada e um discurso menos moderado do ex-líder do PSD sobre temas como a imigração. Foi nessa altura que pegou de estaca no discurso de Pedro Nuno Santos a ideia do risco de voltar atrás, assustando os eleitores com o eventual regresso dos cortes salariais e nas pensões. Agora, com a AD no poder há apenas dois meses, essa mesma expressão é usada na coligação.

6. “FICAR”. E nesta linha de levantar os problemas que o PS deixou, a AD tem recorrido ao exemplo da emigração e dos jovens qualificados que abandonam o país. Bugalho cola a palavra “FICAR” assim mesmo, em caixa alta, para referir esse ponto, usando mesmo a sua juventude (como fez num comício alguns dias depois deste, em Lamego) ao referir que os seus amigos, a sua geração, teve de sair do país. Tem feito render a ideia não só em comícios, aproveita-a em conversas com pessoas mais velhas com quem se cruza e que lhe falam de netos e das queixas com as perSpetivas de futuro em Portugal.

7. “Linhas vermelhas”. É um tópico de grande contenda com o PS, que tenta empurrar a AD para perto da direita populista. Por isso não há discurso onde o cabeça de lista da coligação da direita não enumere as sua “linhas vermelhas”: Direitos humanos, democracia e Estado de Direito, pertença europeia “sem extremismos”. Mas nas matérias mais comuns no seu discurso — como é esta — o candidato tira apenas notas curtas. O mesmo já não acontece quando entra nos ataques políticos mais calculados (ver nota seguinte).

8. “Facto”. Nesta parte as notas são mais extensas, com ideias completas para o guiarem na intervenção. Estava no primeiro comício da campanha oficial e o ataque era novo. A ideia era sacudir de cima da AD a pressão da extrema-direita, sobretudo depois do “não é não” das legislativas e quando no Parlamento o PS tem tido o Chega a compor as maiorias que lhe têm aprovado projetos contra a vontade do Governo.”Quem não consegue governar sem a extrema direita é o PS”, acusou nesta linha de argumentação que apresentou como “uma novidade que é um facto”, empurrando o PS para os extremismos por “não conseguir fazer uma campanha europeia sem falar de extrema direita”.

Marta Temido. Notas à mão, o tema predileto e um ataque a Bugalho sublinhado

Marta Temido não imprime os seus discursos nem escreve intervenções a computador, pelo que para saber o que a socialista anota e escreve é preciso descodificar a sua caligrafia. A candidata mostrou ao Observador o caderno vermelho A5 (que entretanto já tem todas as páginas cheias) em que tira notas para os seus discursos, que não estão, assim, escritos na íntegra. O que Temido anota são as ideias principais, algumas mais pormenorizadas do que outras – consegue repetir facilmente e sem grandes muletas a ideia de que o PS quer lançar uma “agenda europeia do progresso”, mote principal da sua campanha, mas é preciso anotar mais detalhes quando quer trazer uma referência local, adaptada ao lugar onde o discurso decorre, para ser mais específica. Neste discurso, que foi feito na terça-feira, em Guimarães (onde esteve acompanhada por Pedro Nuno Santos e Carlos César), sublinhou com um marcador cor de laranja o principal soundbite da sua intervenção, um ataque a Sebastião Bugalho e às ideias “velhas” da AD, que leu exatamente como estava preparado.

1 .“Agenda europeia do progresso”. Se Marta Temido tivesse uma cassete dos seus discursos, esta seria a parte em que a fita estaria mais gasta, uma vez que é a mais repetida. Isto porque é uma espécie de resumo do essencial das ideias que o PS traz para esta campanha, assentando em três pilares: a Habitação – que serve para promover a ideia de um mecanismo permanente de investimento no setor, pós Plano de Recuperação e Resiliência, e desvalorizar a ideia “abstrata” da AD de inscrever o tema na Carta dos Direitos Fundamentais da UE –, os rendimentos – e aqui puxa dos galões dos socialistas na recuperação de rendimentos dos últimos oito anos – e os “direitos e liberdades – assunto que serve sempre para puxar pelas ameaças de “retrocesso” na política europeia, colando a direita tradicional à extrema-direita. São três prioridades que Temido quer que fiquem na cabeça de qualquer audiência que a ouça, e que tem sublinhado desde que lançou a ideia desta “agenda” no comício de sábado, o mais forte até agora.

2. “Não basta ser jovem para defender os jovens”. Neste ponto, Temido lança aquele que será um dos poucos ataques mais diretos que faz, nesta campanha, à candidatura de Sebastião Bugalho, numa referência pouco subtil à idade do cabeça de lista da AD (28 anos) por contraste com o facto de se assumir como um conservador. Boa parte da tal agenda que Temido refere como prioridade tem a ver com preocupações que afetam os jovens, o que é especialmente relevante uma vez que o PS tem registado a dificuldade que está a sentir em entrar no eleitorado mais novo – as sondagens das legislativas de março apontavam para uma viragem clara dos jovens à direita. A relevância do assunto, e a aposta da AD num candidato tão novo, leva Temido a passar a um ataque mais direto, momento de exceção numa campanha em que se tem dedicado a criticar sobretudo as ideias dos adversários e alimentado uma imagem pouco confrontativa. O ataque aqui é, de facto, às tais ideias “velhas”, mas usa a idade do candidato para o concretizar.

3. “A voz da experiência”. A este sublinhado de Temido seguem-se várias referências aos campos em que o PS traz consigo uma larga “experiência”, para pedir ao eleitorado que deposite em si uma espécie de voto seguro e confiável. Também tem sido essa uma das principais críticas atiradas à AD e a Sebastião Bugalho, um candidato que, dizia Carlos César no mesmo comício, foi apenas uma “escolha aflita” de Luís Montenegro, que “viu quem estava na televisão” e decidiu com esse critério convidar o ex-comentador. O PS tem feito a campanha muito à volta da experiência de Marta Temido como ministra da Saúde em tempos difíceis, de pandemia, para marcar esse contraste. E, já agora, para responder também às críticas por Pedro Nuno Santos ter decidido limpar a lista completa de eurodeputados, o que significa que há uma renovação total e nenhum dos atuais nomes fica para ajudar a fazer a transição (embora haja quem tenha uma experiência anterior como eurodeputado, como Francisco Assis).

4. “Guimarães, berço de Portugal”. Os temas principais dos discursos são comuns, mas Temido faz sempre questão de fazer uma referência mais específica ao lugar onde está. Neste caso, para lembrar que está num local com “história”, que é considerado o berço do país, mas também com “futuro”, aproveitando para falar do “Deucalion”, um “supercomputador” que está instalado na Universidade do Minho, inaugurado por António Costa em 2023 e financiado por um projeto europeu com o objetivo de tornar a UE líder mundial nesta área. Noutros distritos e cidades, Temido escolheu projetos específicos, mas também símbolos da terra – na Guarda falou na médica e sufragista portuguesa Carolina Beatriz Ângelo, em Viseu lembrou a memória de Jorge Coelho – para personalizar cada intervenção que faz.

João Cotrim Figueiredo. O mote, o primeiro ataque a Bugalho e Dua Lipa

Duas páginas A4, com tópicos escritos à mão, no cabeçalho o “mote” que vai repetir umas quantas vezes (e com gestos devidamente ensaiados) ao longo de 16 minutos de discurso: “Eu sinto a IL a crescer”. Em Mafra, num pequeno jantar-comício com algumas dezenas de simpatizantes, alimentados à força de buffet, João Cotrim Figueiredo repetiu o modelo que usou ao longo de toda a campanha: intervenções curtas, alguma dose de improviso e duas ou três ideias-chave reconhecíveis. Este discurso, que decorreu na noite de sexta-feira, 31 de maio, teve a particularidade de ser praticamente a meio da corrida e de servir de balanço da campanha, estando estruturado por dias.

1. “Mote: ‘Eu sinto a IL a crescer’” Serviu simultaneamente como fio condutor de todo o discurso, como mantra (os simpatizantes iam repetindo a frase em uníssono), mas também como alívio cómico (Cotrim Figueiredo ia fazendo gestos dramático de cada vez que repetia a frase, dizendo aos simpatizantes que, à noite, sempre que se deitava e apagava a luz, sentia o partido a crescer, provocando algumas gargalhadas). Politicamente, servia essencialmente para manter vivo o otimismo das tropas.

2. “Cristina” O cabeça de lista da Iniciativa Liberal arranca o discurso com uma referência à participação no programa de Cristina Ferreira. Não foi inocente. Cotrim, antigo diretor-geral da TVI e assumido amigo de Cristina Ferreira, deu show e ofereceu um vestido vermelho à apresentadora, comprado na feira – dias depois, em Caminha ou em Matosinhos, algumas pessoas que se iam cruzando com o candidato, ainda comentavam o gesto.Mesmo num partido vocacionado para a comunicação a partir das redes sociais, ninguém ignora o poder da televisão e, sobretudo, o impacto de programas como o “Dois às 10”. “O ponto alto foi o facto de termos podido falar para um eleitorado que normalmente que se interessa pouco por política ou que tem pouco contacto com a iniciativa liberal. Eleitorado menos interessado na política, mas com preocupações, até pela idade que possam já ter, pelo seu país, pelos seus filhos e pelos seus netos”, assumiria Cotrim.

3. “Debate RTP” Numa campanha que viveu essencialmente da “marca Cotrim”, os debates televisivos eram uma aposta prioritária da equipa do candidato. De resto, os liberais estão convencidos de que as (boas) prestações do candidato consolidaram os valores marca: preparação, respeitabilidade, credibilidade e serenidade. Neste caso, Cotrim Figueiredo referia-se ao último debate televisivo e o único a oito, emitido pela RTP. “Precisei de dar uma ou duas aulas de economia. Para quem não se lembra, foi uma espécie da última jornada do campeonato dos debates. E sabem quem ganhou esse campeonato? Até no Observador ganhei”, celebrou o cabeça de lista da IL. A necessidade de aprovação é prova de que aposta era real – uma má prestação nos debates poderia ter deitado tudo a perder.

4. “Autocarro jovem” Uma campanha eleitoral (qualquer uma) é essencialmente pensada para as televisões. Vive essencialmente do ‘boneco’ que se conseguir criar, daí que muitas vezes se encontrem candidatos nas situações mais inusitadas e improváveis. Na campanha como a de João Cotrim Figueiredo – minimalista, com poucas ações, incursões rápidas no terreno, sem intervenções políticas de fundo, centrada no protagonista – isso foi sendo evidente. Na noite de quarta-feira, Cotrim esteve na Praça dos Leões, no Porto, junto ao “Liberdade sobre Rodas”, um autocarro tipicamente londrino, de dois pisos, hits brasileiros nas colunas, DJ em cima, cerveja (portuguesa e alemã) no piso de baixo. Sem guião definido e sem grande consequência, o candidato foi falando com quem se aproximava – e foram muitos – durante um par de horas e cumpriu o objetivo político: mostrar proximidade e coolness. “Bati o meu recorde pessoal de selfies. Professor Marcelo, cuide-se”, avisou o candidato. Os simpatizantes riram.

5. “Caminha” Nesta parte do discurso já Cotrim Figueiredo falava sobre a sua visita matutina ao centro de Caminha, na quinta-feira, dia 30 de maio, feriado “Corpo de Deus”. A vila raiana estava devidamente decorada com os tradicionais tapetes de flores e muita gente – sobretudo gente mais velha – nas ruas. Na intervenção, o candidato assinalou isso mesmo. “Fomos recebidos de uma forma entusiástica. Quero registar o calor humano com que fomos recebido e a amplitude das faixas etárias que nos vieram falar. Dos mais jovens, que normalmente atraímos e que gostam das nossas ideias, até aos menos jovens, os mais jovens de espírito, digamos assim, que nos receberam muito, muito bem. Talvez tenham sido as ações de contato com a população que eu mais tenha gostado.” O facto de ter contado este episódio assim dá uma chave de leitura para perceber a estratégia do partido ao escolher Cotrim como candidato: o antigo líder do partido pode chegar a eleitorados a que a IL não está a conseguir chegar. E isso aumenta o espetro de atuação.

6. “Leiria – Moldes” Nesta parte do discurso, João Cotrim Figueiredo já falava do dia que se aproximava do fim, sexta-feira, 31 de maio, recordando que nessa mesma manhã tinha estado numa fábrica de moldes, a DRT, no distrito de Leiria. O liberal aproveita o exemplo da empresa para criticar a má gestão de fundos europeus dos sucessivos governos e os “obstáculos” que são colocados às empresas – uma das bandeiras da IL nesta campanha. Mas serviu também para mais. Foi neste dia que Cotrim inverteu a sua estratégia de não agressão a Sebastião Bugalho e dirigiu (por duas vezes) críticas ao candidato da AD. “Alguém tem que representar as empresas. E olhamos à volta para esta campanha eleitoral, olhamos para as várias listas, para os vários cabeças de lista, e não há uma noção sobre economia. Nem naqueles partidos que supostamente têm maior afinidade com o mundo empresarial. O cabeça de lista da AD não tem grandes conhecimentos de economia”, diria no discurso de Mafra. Estava definido o tom para a segunda metade da campanha.

7. “Dua Lipa” João Cotrim Figueiredo reservaria para o fim uma espécie de balanço dentro do balanço sobre a sua agenda paralela nesta campanha, aquela que a comunicação social não acompanha, e que passa muito pela produção de conteúdos para as redes sociais. Num desses vídeos, o liberal aparece a fazer um apelo ao voto antecipado e é filmado em várias situações: a almoçar um hambúrguer às 11 horas, na fila para a Feira do Livro a três dias do evento, num estádio vazio quando a época só começa em agosto ou, por exemplo, no recinto do Nos Alive a mais de um mês do festival. “Não quero perder a Dua Lipa”, justifica-se em vídeo o candidato. “Uma das coisas mais fantásticas que têm ocorrido nesta campanha são os vídeos, com grandíssimos recordes de engagement. Foi através deles que vocês ficaram a saber que falo várias línguas e foi através do vídeo do voto antecipado que ficaram a saber que passei a ser fã da Dua Lipa. Não fazia ideia quem era”, assumiria o liberal. Um partido que nasce essencialmente como nativo digital, nunca poderá deixar de apostar tudo no digital.

Catarina Martins. Apontamentos num bloco de notas e muitos ataques à direita

Se a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, prefere escrever os seus discursos na íntegra a computador (e, na campanha das legislativas, até levava uma impressora no carro para os imprimir), Catarina Martins é mais telegráfica nas notas que leva para o púlpito durante os comícios. Traz sempre consigo um bloco de notas, onde aponta as mensagens principais que quer levar para cada discurso, e, durante a campanha, é frequente vê-la a ultimar alguns apontamentos no caderno poucos minutos antes de subir ao palco. Catarina Martins escreve as frases-chave que não quer deixar de dizer durante o discurso, incluindo algumas que se hão de transformar em fortes soundbites, como aconteceu neste comício na Baixa da Banheira, durante a primeira semana de campanha, em que descreveu Portugal como o país da sardinha assada, mas também do kebab e da cachupa. As longas viagens na carrinha entre os vários lugares das ações de campanha (por vezes separados por centenas de quilómetros) são uma oportunidade para Catarina Martins preparar os tópicos de cada intervenção, juntamente com a equipa de assessores que acompanha a candidata.

1. “Os imigrantes são bem-vindos.” A imigração tem sido um dos temas fortes desta campanha eleitoral do Bloco de Esquerda. Na manhã do dia em que fez este discurso, Catarina Martins tinha visitado uma escola básica em Almada onde convivem alunos de cerca de 20 nacionalidades, para a apresentar como um bom exemplo de integração. Na ocasião, até deixou um recado à extrema-direita: basta visitar aquela escola para aprender com as crianças o que é integrar os imigrantes. No dia anterior, no debate a oito na RTP, o candidato do Chega, António Tânger Correia, tinha repetido a narrativa do partido de procurar uma colagem entre imigração e segurança e de que deve haver uma restrição à entrada de imigrantes no país. Em sentido contrário, Catarina Martins quis deixar uma mensagem positiva e a primeira frase em relação ao tema foi para dizer que, para o Bloco, os imigrantes são bem-vindos. Ao mesmo tempo, Catarina Martins também escreveu que “as crianças são bem vindas” — e dedicou uma boa parte da intervenção a lembrar a sua passagem pela escola de Almada.

2. “As ideias racistas de Tânger Correia e André Ventura é que não são bem vindas.” Logo de seguida, a adversativa. Na campanha do Bloco de Esquerda, a direita tem sido o principal alvo, mas Catarina Martins até não tem atacado com frequência André Ventura e o Chega. Na maioria das vezes, a candidata do Bloco até tem preferido ignorar Ventura. Catarina Martins tem optado por outra linha argumentativa: apresentar o perigo da aproximação da direita tradicional e da direita liberal à extrema-direita. Um dos argumentos mais repetidos tem sido a aproximação do PPE (família europeia do PSD e CDS) ao grupo dos Conservadores e Reformistas (liderados por Giorgia Meloni e que inclui partidos como o espanhol Vox ou o polaco PiS) para a manutenção de Ursula von der Leyen como presidente da Comissão Europeia. Ao mesmo tempo, Catarina Martins tem também acusado a direita de “eurocinismo” a propósito do que tem classificado como uma dualidade de critérios da parte da UE em relação à Rússia e a Israel: enquanto a Rússia de Putin é sancionada, o regime israelita de Netanyahu continua a receber armas para fazer um “genocídio” na Faixa de Gaza, acusa o Bloco. Para Catarina Martins, por exemplo, ao não concordarem com o reconhecimento imediato da Palestina como estado, os partidos da direita estão a fazer o jogo da extrema-direita, próxima de Netanyahu. O mesmo com a questão dos direitos das mulheres, outra bandeira do partido, que acusa a Aliança Democrática de alinhar com o discurso da extrema-direita ao não ter uma posição inequívoca acerca da consagração do direito ao aborto. Também no que toca às migrações, Catarina Martins tem vincado que os partidos da direita votaram favoravelmente o Pacto das Migrações, que os bloquistas consideram inaceitável. Mas, neste discurso em concreto, Catarina Martins quis mesmo mencionar André Ventura pelo nome e, por isso, fez questão de apontar, no caderno, a acusação que quis dirigir ao Chega: “Sabem qual é o problema da extrema-direita? Eles não gostam de Portugal.” Durante o resto do discurso, Catarina Martins iria multiplicar-se em críticas a Ventura, incluindo ao evocar Marine Le Pen, a “amiga francesa de André Ventura”, que recebeu mais de 9 milhões de euros de Putin.

3. “Portugal é a sardinha assada nos santos, é o kebab e a cachupa.” Em setembro do ano passado, de visita ao Canadá, Marcelo Rebelo de Sousa descreveu Portugal assim: “Nós somos fado, somos bacalhau, somos caldo verde, somos cozido à portuguesa, somos o vira e o corridinho e o fandango. Somos tudo isto, temos uma alma. Somos Cristiano Ronaldo.” Para Catarina Martins, esta descrição da identidade nacional não é suficiente. Em sentido contrário ao Chega (que defende, por exemplo, uma política de imigração que seja restritiva em relação a países de maioria islâmica, que promova a imigração de países europeus e que proteja a tal identidade ocidental), Catarina Martins preferiu salientar e elogiar a diversidade contemporânea da identidade portuguesa, profundamente marcada pela dinâmica migratória: a cultura nacional já não é só a típica sardinha, mas também é o kebab turco ou a cachupa de Cabo Verde. Mais: “É comovermo-nos com a voz de Amália e com o golo do Éder.” Com um soundbite estudado e previamente anotado no caderno, Catarina Martins sintetizou naquele comício a linha de pensamento do Bloco em relação a uma das questões que têm acompanhado o crescimento do Chega em Portugal e da extrema-direita em geral na União Europeia. A candidata bloquista chegou a ter escrito nas notas a palavra “sushi” (como se pode ver na imagem em cima), mas riscou por cima por considerar que cachupa era mais adequado ao espaço — onde ela própria já tinha provado a iguaria cabo-verdiana.

4. “Nós gostamos deste país.” Desde o princípio da campanha, o Bloco de Esquerda disse que pretendia fazer uma campanha eleitoral focada em bons exemplos. “Mostrar o melhor que este país tem”, resumia Catarina Martins numa das ações, numa escola com vários projetos de integração de imigrantes. Diria o mesmo noutras ocasiões, incluindo por exemplo quando visitou um projeto de proteção dos burros de Miranda, para destacar a importância dos fundos europeus para o sucesso de iniciativas no interior. A frase anotada por Catarina Martins é também uma síntese de outras ideias-chave do Bloco nesta campanha. O partido é europeísta, mas não eurocêntrico, tem defendido a candidata bloquista, que também tem alertado para a necessidade de garantir que os jovens têm incentivos para ficar em Portugal, em vez de se verem forçados a emigrar para terem melhores condições de vida.

João Oliveira. Modernidade e tentativa de desmascarar a incoerência

Candidato por uma coligação conhecida pelas raízes tradicionais, João Oliveira opta pelo tablet como opção disruptiva. Sem rabiscos ou anotações, o cabeça-de-lista comunista varia entre passagens mais longas, que nem sempre correspondem na íntegra ao que depois é dito no palanque e partes em que prefere deixar pontos com palavras-chave para depois analisar mais a fundo. Geralmente, adequa as mensagens mais recorrentes da campanha ao tema das iniciativas em questão.

Neste caso, o excerto faz parte de um discurso de João Oliveira depois de um almoço com as mulheres, na Casa do Alentejo. O tema principal são, naturalmente, os direitos das mulheres, mas o comunista enquadra a questão através da necessidade de melhores políticas laborais para a generalidade dos cidadãos. O tema é também aproveitado para atirar às restantes candidaturas, ainda que, como quase sempre, de maneira vaga.

O guião não é de ferro e pode sofrer alterações ao longo do dia, especialmente nos minutos antes de tomar a palavra nos comícios. João Oliveira vai mantendo o tablet à mão, onde toma nota do que é dito nas intervenções anteriores, aproveitando depois para abordar partes marcantes do que acabou de ser dito, se assim se justificar. Raramente usa a cábula para se apoiar enquanto fala, o que com o avançar da campanha, vai ficando mais fácil.

1. Direitos das mulheres. A CDU tem feito um esforço para que temas como a igualdade de género ou a violência doméstica não fiquem para trás, ou entregues aos restantes partidos da esquerda. Aliás, neste discurso João Oliveira defende até a necessidade de um “teste de algodão” aos restantes partidos, para perceber quem de facto mostra coerência em relação aos direitos das mulheres, se “a bota bate com a perdigota” em relação ao que é dito na campanha eleitoral, comparando com o que é feito no Parlamento Europeu. Nesta iniciativa, o candidato nunca se refere diretamente a nenhum dos opositores, até porque os ataques à esquerda têm sido sempre mais tímidos do que à direita. Mas antes, já a nº 2 das listas da CDU, Sandra Pereira, tinha feito referência às diferenças entre o discurso e a ação do Partido Socialista em relação à regulação da prostituição. João Oliveira acusa também a União Europeia de impor políticas que destroem os serviços públicos, o que acaba por contribuir “para a negação dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres”. Neste tema, como em tantos outros, a culpa está nas instituições europeias.

2. Jovens. Numa altura em que o eleitorado comunista está cada vez mais envelhecido, a aposta na renovação tem sido uma das marcas da campanha. Nesta iniciativa com as mulheres, a esmagadora maioria pertence a uma faixa etária mais avançada, mas os primeiros testemunhos que se ouvem vêm de duas jovens. João Oliveira tem-se batido por frisar que os mais novos não são só o futuro, mas também o presente que deve ser garantido, e não se fica pelas palavras: vai-lhes dando palco para que possam pôr as suas preocupações em cima da mesa. Em troca, pede apenas que mantenham a mente aberta para questionar a realidade em que sempre viveram — a do país inserido dentro da União Europeia. Os comunistas usam também a juventude como pretexto para combater o pensamento dominante em relação ao conflito na Ucrânia, lembrando que são eles os maiores prejudicados por um cenário de guerra. “Não vamos permitir que o futuro dos nossos filhos e netos seja igual ao passado dos nossos pais e avós na Guerra Colonial”, tem referido várias vezes.

3. Salários e injustiças. Se há ponto assente na campanha da CDU é que a União Europeia condenou Portugal a uma política de salários baixos, e que os governos nacionais não só ajudam como colaboram para perpetuar essa realidade. Em praticamente todos os discursos, João Oliveira critica as “guerras de alecrim e manjerona” entre PS e AD, acusando as duas maiores candidaturas de não estarem interessadas nos temas revelantes da campanha. De acordo com João Oliveira, o “consenso neoliberal”, composto por PS, PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal, tem hoje pudor em falar nestas questões por saber a responsabilidade que tem na realidade nacional. Para a CDU, a sujeição às imposições da União Europeia é a principal razão para o deterioramento das condições de vida em países como Portugal. “A fava tem saído sempre a uns e o brinde tem saído sempre aos outros”, lamenta João Oliveira. Os comunistas exigem a subida do salário mínimo em Portugal para os mil euros ainda em 2024, e acusam todos, à direita e à esquerda, de serem cúmplices com o nivelamento por baixo dos rendimentos.

4. Os “outros”. A CDU tem tentado desmistificar o discurso da extrema-direita. Logo na primeira semana de campanha, o cabeça-de-lista da CDU notou laivos do Estado Novo no discurso de Tânger-Corrêa em relação à imigração. João Oliveira critica várias vezes a “cultura do ódio” e “retrocesso” que o Chega quer instalar na sociedade. Aqui, em relação aos direitos das mulheres, o partido de André Ventura também não é poupado. A CDU considera que o Chega tem uma agenda “revanchista” nesta matéria, com conceções “retrógadas e obscurantistas” que pretendem “travar a roda da história”. Face a este tipo de ideias, e notando a aproximação entre os partidos à direita (e PS) — que João Oliveira avisa que apenas simulam discussões para esconder parecenças — a CDU mantém o compromisso de combate às forças reacionárias da sociedade. E, avisa, não aceita lições de ninguém nesta matéria — nem da Iniciativa Liberal, que vê muitas parecenças entre o Chega e os comunistas.

Francisco Paupério. O ataque às duas caras do PSD e um top 10 de assuntos

Francisco Paupério recorre a folhas escritas a computador, mas, mesmo nessas, acaba por colocar tópicos escritos à mão para não se esquecer de atacar o PSD, mas também o PS. O candidato do Livre tem temas incontornáveis como a crítica às novas regras orçamentais, a crítica ao Pacto das Migrações. Von der Leyen também é visada pelo candidato do Livre que depois tem mesmo uma folha A4, toda ela manuscrita com o top 10 de assuntos que tem de falar em intervenções públicas, sejam debates ou entrevistas.

1. “Regras orçamentais” – Francisco Paupério aproveita uma folha escrita a computador com informações e tabelas sobre o Novo Pacto para os Oceanos da UE para escrever alguns tópicos à mão com informações que quer destacar. Começa por anotar as “novas regras orçamentais” que, em debates televisivos e, por exemplo, na entrevista ao Observador acabou por puxar. Para Paupério, as novas regras vão fazer com que apenas três países cumpram as metas ambientais, sendo por isso frontalmente contra as mesmas. Tem ainda uma anotação a destacar os “sindicatos europeus”, argumento que costuma utilizar em alusão a um estudo publicado pela Confederação Europeia dos Sindicatos que muito críticas das novas regras, considerando que as mesmas conduzem a cortes desnecessários e impõe um défice de investimento social.

2. “Pacto Migração” – O candidato do Livre tem sido muito crítico do Pacto das Migrações e, além disso, quer capitalizar o facto de o PS e o PSD terem votado a favor do pacto. Tem a anotação de que havia uma maioria de esquerda no momento em que o Pacto foi aprovado e que devia ter sido rejeitado o pacto. Paupério tem dito que, “com um pacto assim, vale mais não ter”, tentando ir buscar votos ao PS (aqui numa área onde disputam eleitorado) e também capitalizar com o ataque ao PSD (neste caso para tentar colar a direita a uma imagem posição mais dura e anti-imigração).

3. “Aproximação de Von der Leyen”. Francisco Paupério tem aproveitado o facto de a presidente da Comissão e recandidata do PPE ao mesmo cargo, Ursula Von der Leyen, ter admitido fazer acordos com o ECR, o grupo de conservadores do Parlamento Europeu, para denunciar que isso pode ser um retrocesso a nível do Estado de Direito e ambiental. Lembra ainda que quando a presidente da Comissão falou com os Verdes, em 2019, houve um Pacto Ecológico, mas ao falar com os “ultra-conservadores” todo esse esforço pode ser deitado ao lixo. O candidato do Livre acena assim com o fantasma da direita conservadora para atacar a direita.
“A AD vai sofrer muito”. Mais uma anotação para não se esquecer de enviar farpas à direita. O candidato do Livre tenta explorar a ideia de que o PSD tem duas caras: a nível nacional é moderado, mas a nível europeu alinha com a direita dura. Paupério tem provocado Sebastião Bugalho nos debates com esta ideia e o candidato da AD tem admitido que a AD tem uma veia mais humanista que os seus parceiros na grande família do Partido Popular Europeu.

4. “A AD vai sofrer muito”. Mais uma anotação para não se esquecer de enviar farpas à direita. O candidato do Livre tenta explorar a ideia de que o PSD tem duas caras: a nível nacional é moderado, mas a nível europeu alinha com a direita dura. Paupério tem provocado Sebastião Bugalho nos debates com esta ideia e o candidato da AD tem admitido que a AD tem uma veia mais humanista que os seus parceiros na grande família do Partido Popular Europeu.

4. “Top 10”. Francisco Paupério tem uma folha manuscrita que o acompanha para debates e entrevistas com o que define como “Top 10”. O próprio disse ao Observador que “as mensagens do LIVRE são mais diretas, são mais assertivas” e que treina para “passar a mensagem e não para fazer floreados, como outros candidatos fazem.” Para essas mensagens mais eficazes, o candidato escolhe então áreas sobre as quais é prioritário falar: está lá o novo Pacto Verde e Social, o Plano Europeu de Habitação Acessível ou a inclusão da violência de género, crimes e discurso de ódio na lista de crimes europeus. Muitos destes bullet points acabaram por ser utilizados pelo cabeça de lista do Livre nos vários debates em que esteve.

Pedro Fildago Marques. Uma caixa alta que é uma tourada

Pedro Fidalgo Marques guarda as notas na aplicação que tem com o mesmo nome no iPad. Nos tópicos a destacar a defesa dos direitos dos animais é mais predominante que qualquer outro tema e, no caso das touradas, a indicação está mesmo em Caps Lock para que nunca se esqueça de o referir. A defesa dos direitos das mulheres é outro tema incontornável e é algo a que tem recorrido para atacar a direita, em particular a AD e Sebastião Bugalho.

1. “Touradas” – Não há debate – mesmo que tema não esteja em cima da mesa – em que o candidato do PAN não puxe pela temática das touradas. Não é ao acaso que a única frase que tem em Caps Lock seja precisamente dedicada ao assunto: “ABOLIÇÃO DAS TOURADAS E ACABAR COM O FINANCIAMENTO EUROPEU PARA AS TOURADAS”. Este tem sido um dos argumentos utilizados por Pedro Fidalgo Marques que tem dito nos debates que os “16 milhões que vão da Política Agrícola Comum da UE” para financiar as touradas em Portugal devem ser investidos naquilo a que chama de “verdadeira cultura”, nas “artes performativas como o teatro, a música, as artes plásticas e a dança. O próprio é dançarino e diretor da Oeiras Dance Academy.

2. “1500 litros de água para produzir um bife” – Outra das bandeiras do PAN, que Fidalgo Marques, faz questão de referir nos debates é o vegetarianismo. Neste caso, o candidato tenta matar dois coelhos de uma só cajadada: alerta para a escassez de água e ao mesmo tempo critica a produção de carne. É na vertente animalista que o PAN se destaca mais que todos os outros partidos e, por isso, os tópicos incontornáveis não podiam ignorar esta área de intervenção do partido.

3. “Comissário do bem-estar animal” – O PAN insiste mais uma vez na temática da proteção da defesa dos Direitos dos Animais. Repete por isso a palavra “único” para dizer que é o “único” que verdadeiramente defende os animais. Nesse sentido, defende a criação de um novo comissário (que no fundo é uma espécie de ministério da Comissão Europeia) dedicado ao bem-estar animal.

4. “Transporte de animais vivos” – O candidato do PAN anotou e não se tem cansado de repetir que é contra o transporte de animais vivos, em particular por via marítima. Além do sofrimento animal, Pedro Fidalgo Marques alerta que o atual sistema de transporte é perigoso também para a segurança alimentar das pessoas. Como medida “menos má”, até porque para o PAN os animais nem morriam de todo, o candidato propõe que os animais sejam mortos no local de origem e que já sejam transportados em carcaças, naturalmente congelados.

5. “Saúde das Mulheres” – Nas legislativas a estratégia do partido já tinha passado por apelar ao voto feminino e puxar pelos direitos das mulheres. O PAN continua a apostar no tema, centrando-o na saúde das mulheres. O tema serve ainda para atacar Sebastião Bugalho. O cabeça de lista do PAN tem repetido que pode haver um retrocesso com os diretos das mulheres no Parlamento Europeu e, na última visita à Feira do Livro, acusou mesmo Bugalho de não saber lidar com críticas de mulheres.

6. “300 milhões para combustíveis fósseis” – Em matéria ambiental, o PAN continua a sua guerra contra as petrolíferas. O candidato Pedro Fidalgo Marques tem repetido que em Portugal há mais de 300 milhões de euros anuais de apoio aos combustíveis fósseis, propondo que esse valor fosse aplicado noutras áreas. Fidalgo Marques diz que esse valor daria para “pagar quatro milhões de passes” de transportes públicos.