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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Origami, o poliglota Costa e o Locke espanhol na feira de exportação da "geringonça"

Em dois dias de Congresso em Lisboa, os socialistas europeus definiram Portugal como um modelo a seguir na Europa. De volta levaram um origami e a esperança num "eixo socialista" na Europa.

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Estava num saco, com pegas de cortiça, entregue a todos os congressistas: uma folha destacável com instruções sobre como fazer uma rosa em origami. Não foi só isso que o PS quis ensinar no Congresso do Partido Socialista Europeu que se realizou em Lisboa, mas também dar uma lição sobre um modelo de sucesso de governação: a “geringonça”, que ouviu elogios do inglês de Corbyn ao espanhol de Sánchez. Se os congressos se assemelham muitas vezes a feiras internacionais, com barraquinhas e tudo, era claro o conceito que os socialistas europeus querem exportar de Portugal para o resto da Europa: o modelo português criado pelo governo de António Costa.

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Todos os protagonistas tiveram a sua história ao longo dos dois dias de Congresso, no ISCTE, em Lisboa, um viveiro de governantes socialistas. O primeiro-ministro português podia babar de tanto elogio e ganhou ainda mais estatuto juntos dos socialistas europeus. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva — que quase acabava boicotado por Corbyn — fez a apologia da ambiguidade, sendo ambíguo. A secretária-geral adjunta Ana Catarina Mendes falou como se fosse cabeça de lista às Europeias, num discurso mobilizador a apontar à campanha eleitoral de maio. Frans Timmermans apresentou-se com um discurso despudorado já com a escolha como candidato a presidente da Comissão Europeia no bolso. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, propôs um novo contrato social para Europa. Logo ele, que muitas vezes é apresentado como dos políticos com menos estrutura e pensamento político.

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Como Corbyn quase boicotou Santos Silva (sem saber)

Vem, não vem, vem, não vem. Acabou por ir. Jeremy Corbyn foi dos últimos nomes a ser confirmado no Congresso do Partido Socialista Europeu, em Lisboa, mas acabou por fazer um discurso bastante aplaudido. Garantiu que, mesmo com Brexit, o Partido Trabalhista não sairá do Partido Socialista Europeu, atacou Theresa May e o seu plano para o Brexit e homenageou António Costa.

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Jeremy Corbyn podia não ter vindo a Lisboa para se preparar para um debate televisivo sobre o Brexit com a primeira-ministra britânica, mas Theresa May acabou por recuar e o líder da oposição britânico pôde vir a Portugal. Mas sempre com a comunicação muito controlada, para que não circulem vídeos que o comprometam — como já aconteceu no passado. Primeiro, a equipa inglesa de Corbyn informou os jornalistas que o líder trabalhista daria uma conferência na sala de imprensa. Uma hora depois, um dos assessores do Labour informa os jornalistas, incluindo os portugueses, que se quisessem falar com Corbyn tinham de o seguir. E saiu disparado da sala, a passo apressado.

Estava a começar o painel de Augusto Santos Silva e, para ir falar com Corbyn, não seria possível ouvir o ministro dos Negócios Estrangeiros. Muitos dos jornalistas, incluindo o Observador, saíram à procura de Corbyn, mas nem sinal dele, nem do assessor. Uma assessora do PS garantia que estava reunido com Costa, um dos voluntários da JS garantia que Corbyn estava numa sala a responder a jornalistas ingleses. A porta da sala não abria. Onde estava afinal Corbyn? Na tal pequena sala. Os jornalistas portugueses não estavam? Paciência.

O tempo que a imprensa levou atrás de Corbyn, quase fez perder a intervenção de Santos Silva. A sorte é que o ministro dos Negócios Estrangeiros português falou mesmo no final do painel, para fazer uma espécie de súmula/catarse: defender que um verdadeiro socialista não pode ser ambíguo quanto a regimes autoritaristas, três dias depois de receber o presidente chinês.

Santos Silva contra ambiguidade quanto a regimes autoritários, três dias depois de receber Xi Jinping

Já Corbyn limitou-se a falar para os jornalistas ingleses e só para a imprensa escrita. Os restantes tiveram de esperar mais uns minutos, pela intervenção em Congresso. Assim que começou a falar, já o The Guardian tinha frases inteiras do seu discurso, incluindo frases que ainda não tinha dito.

Corbyn elogia Costa por “quebrar feitiço” da “austeridade falhada” de Passos

Costa bilateral, poliglota e “inspirador”

Quando António Costa chegou ao Congresso do Partido Socialista Europeu na sexta-feira, ao mesmo tempo de Fernando Medina, já Frans Timmermans esperava ambos à entrada do auditório do ISCTE onde decorreu o evento. Costa pôde ouvir na primeira fila o eurodeputado Carlos Zorrinho a revelar “o Segredo” da sua governação, mas saiu depois para almoço. “Volto, volto, vou só almoçar”, disse aos jornalistas que tentavam umas breves declarações.

“O Segredo”, de António Costa, é a autoajuda do PS para os socialistas europeus

Costa regressou mesmo e começou uma mini-maratona de encontros bilaterais. Foram cinco, só na tarde de sexta-feira. Com Jeremy Corbyn conversou sobre o Brexit e as históricas relações Reino Unido-Portugal. Aos fotojornalistas de agências internacionais e ao fotojornalista do Observador foi dada a oportunidade de captar imagens desse momento.

Já antes de se encontrar com Corbyn, um carro preto com pequenas bandeiras da Alemanha estacionado junto ao ISCTE denunciava que no edifício estava um alto responsável da governo alemão. Tratava-se ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, que é do SPD (partido irmão do PS na Alemanha e que está no governo, de forma minoritária, com Angela Merkel). Segundo a Lusa, o tema central foi a agenda do próximo Conselho Europeu, no qual António Costa espera avanços, sobretudo em matéria orçamental para a reforma da zona euro.

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Na sexta-feira, o primeiro-ministro português teve ainda mais três encontros: com o presidente do Comité das Regiões da União Europeia, o belga Karl-Heinz Lambertz, com o secretário-geral dos socialistas da Bélgica, Elio di Rupo, e com a líder dos sociais-democratas da Dinamarca, Mette Frederiksen. No sábado de manhã, Costa teve um encontro bilateral com Pedro Sánchez que, segundo a TSF, foi sobre o Brexit e as próximas eleições europeias.

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Costa resistiu a falar com os jornalistas, guardando-se para o discurso final. E se, no congresso da direita europeia, em Helsínquia, o líder da oposição Rui Rio falou em alemão (quer na intervenção, quer aos jornalistas – num dia de zanga), Costa fez a intervenção em português, mas quis mostrar um lado de poliglota. O lema do Congresso eram três palavras que os socialistas defendem para a Europa: “Livre, justa, sustentável”. Costa disse as três palavras primeiro em inglês, depois em francês, espanhol, alemão, sueco e, por fim, em grego. Viu-se que tinha treinado antes e não se atrapalhou uma única vez para alegria dos membros socialistas de todos estes países que foram aplaudindo com estrondo o esforço de Costa.

Costa vende modelo português aos socialistas europeus como receita para ganhar eleições

Sánchez, o Locke dos tempos modernos que se inspira em Costa

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, tem sido criticado, por analistas e politólogos, por ser um político a quem falta substância política. Mas coube-lhe a ele a proposta mais firme do ponto de vista ideológico. Perante o congresso — pegando num conceito teorizado por Locke e Rosseau — o líder do governo espanhol defendeu um “novo contrato social”: “Numa frase, qual deve ser a proposta política da família social-democrata às próximas eleições europeias de maio de 2019? Temos de propor um novo contrato social”.

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Para Sánchez este “contrato social deve ter cinco eixos: a educação, o mercado de trabalho, como financiar e manter o nosso Estado de bem-estar [social], o quarto eixo que é fundamental e transversal, o meio ambiente e as alterações climáticas, e o quinto com a defesa inequívoca dos valores democráticos em todos os Estados-membros na União Europeia.”

Além desta proposta, Pedro Sánchez citou Fernando Pessoa para defender Costa (e a si próprio) de uma das maiores acusações de que foram alvo: de tomarem o poder apenas pelo poder. “Um poeta português, Fernando Pessoa, dizia que não podemos reduzir a política como uma mera forma de chegar ao poder”, começou por dizer o primeiro-ministro espanhol. Que logo admitiu, uma vez mais, inspirar-se em Costa: “Aprendemos com António Costa, como primeiro-ministro, que mais importante do que chegar ao poder, é o que fazer quando chegar ao poder”. E deixou um vaticínio: “Vais ser eleito primeiro-ministro de Portugal e, nós em Espanha, inspiramo-nos no socialismo português.”

Como Costa inspirou Sánchez para uma geringonça que saiu Frankenstein

Ana Catarina Mendes: a afirmação de uma potencial candidata?

Que energia, Ana“, comentou o vice-presidente da Comissão Europeia, Maroš Šefčovič, no final da intervenção da secretária-geral-adjunta do PS. Ana Catarina Mendes — apontada várias vezes como uma possível cabeça de lista às Europeias — começou por elogiar o líder: “Aqui, sobre a liderança de António, respira-se esperança, confiança, sonho e determinação dos valores socialistas. É o que se respira hoje em Portugal porque ousámos romper barreiras, demos melhores condições de vida aos portugueses. Soubemos ouvir os seus anseios”.

Ana Catarina Mendes disse depois que o país tem “a taxa de desemprego mais baixa dos últimos 15 anos, criou 321 mil postos trabalhos, devolveu pensões, respondendo aos anseios das pessoas”. E logo passou para o plano europeu:”É um gosto ter a família socialista aqui em Portugal e mostrar que é possível alternativas à Europa. E isto não se faz sozinho. Isto faz-se na Europa, com a Europa. Não virámos as costas à Europa. Respondemos com rigor, credibilidade, e respostas concretas.”

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A número dois do PS falou depois do “início de grande caminhada” para que socialistas ganhem as próximas eleições europeias. Ana Catarina Mendes defendeu  “mais democracia, maior solidariedade, maior integração política, maior coesão política” na Europa e o combate à “xenofobia, ao populismo” e às “desigualdades, que combata o fosso entre os mais ricos e os mais pobres”. Isto numa Europa “livre do populismo, mas com capacidade e sem medo, de aprofundar todos os dias a democracia”.

Se falasse como o rosto dos socialistas portugueses às Europeias, o discurso de Ana Catarina Mendes talvez não fosse muito diferente: defendeu uma “resposta progressista e à altura das necessidades dos novos tempos”; lembrou que os socialistas são radicalmente europeus”, mas querem uma  “alternativa a esta Europa tecnocrática e que se desagrega todos os dias”. E terminou com uma promessa: “Ganharemos estas eleições. Viva o Partido Socialista Europeu”.

Bob Dylan, Ana Gomes, Timmermans e Bella Ciao

Antes dos discursos finais dos primeiros-ministros socialistas da UE e do candidato Timmermans, houve música ao vivo com um tema de Bob Dylan. O ambiente de festa socialista só foi interrompido quando Ana Gomes começou a apupar o primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, com gritos de “vergonha” e entoando o nome da jornalista assassinada quando investigava o próprio Muscat e outros membros do seu Governo.

Ana Gomes interrompe discurso de primeiro-ministro maltês com gritos:”Vergonha!Vergonha!Vergonha!”

De Timmermans, que fez duras críticas a Viktor Órban no seu discurso, nem uma palavra sobre o caso Muscat. Costa também ficou em silêncio sobre o assunto, tal como aconteceu com a Eslováquia, apesar dos apelos do líder da oposição, em protesto em Lisboa.

Depois do momento Ana Gomes-Muscat, discursou Costa e chegou o derradeiro momento: o discurso do candidato dos socialistas à Comissão Europeia. Voltou a música ao vivo e Frans Timmermans subiu ao palco quando se ouvia rock – abanou várias vezes a cabeça ao som da música.

Ao começar o discurso, Frans Timmermans citou versos de “Uma Casa Portuguesa” de Amália Rodrigues e fez um discurso despudorado, ideologicamente mais à esquerda.

Timmermans, numa casa portuguesa, contra a bebedeira dos nacionalismos e pelos impostos para “super-ricos”

No fim do discurso de Timmermans todos os delegados aplaudiram o momento da entronização do candidato ao som de Bella Ciao, música popular italiana que se tornou num símbolo da resistência italiana contra o fascismo e que, por curiosidade, deu nome à conferência que antecedeu o arranque da última Convenção do Bloco de Esquerda.

Timmermans, que tem uma tarefa difícil pela frente já que não se prevê um reforço dos votos nos socialistas europeus nas próximas eleições, saiu de Lisboa com ar de homem feliz. Talvez por isso tenha prolongado a estadia ao aceitar um convite de Medina para andar de bicicleta nas ruas da cidade de Lisboa ao início da tarde deste sábado.

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