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Se as eleições legislativas fossem hoje, o PS, sozinho, valia quase tanto como a direita toda junta. Na sondagem Observador/TVI/Pitagórica, António Costa conquista 40,3% das intenções de voto, enquanto PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal somam pouco mais que 41%. Numa comparação com os votos de 2019, o crescimento dos socialistas faz-se muito à custa de um encolher do Bloco de Esquerda e a grande subida de André Ventura — mais de sete pontos percentuais — tem, como consequência direta, um anular quase absoluto da bancada centrista no Parlamento.

Num cenário em que as eleições legislativas se realizassem neste momento, Rui Rio subiria ligeiramente face a 2019, para os 28,5% das intenções de voto. O Chega alcançaria um resultado potencial de 8,4%, passando a ser a terceira força política mais votada. O Bloco de Esquerda perderia essa posição, não indo além dos 5,5%. A coligação que junta o PCP aos Verdes alcançaria 5,3%, um ponto percentual abaixo do resultado alcançado nas últimas eleições. A Iniciativa Liberal ganharia mais de um ponto percentual em um ano, alcançando 2,4% das intenções de voto. O PAN perdia um ponto percentual, caindo para os 2,2%. E, depois, lá no fim da tabela, o CDS, com apenas 1,8% de potenciais votos (e menos 2,5 pontos percentuais do que em 2019).

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Vale a pena dedicar algum tempo a analisar dois casos mais em pormenor.

PS alicia eleitorado do Bloco, Ventura alimenta-se do CDS

Primeiro, o caso da estrada que liga diretamente o Largo do Rato à Rua da Palma. Não se pode dizer que a decisão de virar as costas ao PS e votar contra o Orçamento do Estado para 2021 tenha trazido bons resultados políticos ao Bloco de Esquerda. Não é apenas o facto de o partido de Catarina Martins assistir da bancada enquanto os socialistas galgam a barreira dos 40% das intenções de voto. Além disso, e olhando para dentro de portas, as perspetivas são pouco animadoras para os bloquistas: 5,5% de potenciais votos, menos cerca de quatro pontos percentuais face ao resultado das legislativas do ano passado.

E como é que estes dois processos estão relacionados? A sondagem revela que quase 30% dos inquiridos (28,6%, para sermos exatos) que dizem ter votado no Bloco de Esquerda há pouco mais de um ano pretendem, agora, entregar o seu voto ao PS. Ou seja, do meio milhão de votos que foram depositados em Catarina Martins em outubro de 2019, cerca de 150 mil poderiam agora fugir ao Bloco e ir direitos para os socialistas. Esta é, de resto, a maior debandada de eleitores desta sondagem. Nenhum outro partido perde votos de forma tão expressiva e direta para uma outra força política.

Mas há outro fenómeno semelhante — não em dimensão absoluta, mas nessa transferência de boa parte do eleitorado de uma força política para outra. Para podermos analisá-lo mais de perto, precisamos de dar um salto ao outro lado do hemiciclo.

Há um ano, o partido liderado por André Ventura entrou no Parlamento com uma votação de 1,29%, correspondendo a perto de 68 mil votos. Nesta sondagem da Pitagórica para o Observador e a TVI, o Chega sobe para 8,4%. E uma parte substancial desses votos — 23,8% — vêm de inquiridos que dizem ter votado CDS. Como os centristas obtiveram perto de 222 mil votos nas últimas legislativas, isso significaria que perto de 55 mil desses boletins teriam agora a cruz no partido de André Ventura.

Mas esta transferência CDS-Chega não explica tudo. Para chegar a uma intenção de voto na ordem dos 8,4%, Ventura ainda reforça o seu universo de eleitores com antigos votantes no PSD. Neste caso, são 8,9% os eleitores que dizem ter votado em Rui Rio e que agora admitem mudar a sua escolha. Mais: porque nem tudo são ganhos para o PS, cerca de 2% dos votos em António Costa, nas últimas legislativas, poderiam agora saltar para André Ventura, se as eleições fossem hoje. E se é verdade que o líder do Chega tem defendido que o seu eleitorado é transversal aos vários partidos com assento parlamentar, a sondagem também revela que 4% dos eleitores que votaram CDU admitem agora a possibilidade de votar Chega. Apenas no Bloco de Esquerda não se vislumbram transferências nesse sentido.

Para fechar este capítulo de mudanças do sentido de voto, vale a pena referir que o reforço do PS também se faz à custa de anteriores escolhas no CDS (4,8% que agora olham para António Costa como possível depositário do seu voto) e no PSD (3% dos que apoiaram Rio estão dispostos a mudar de cor). PS e Chega têm outro ponto em comum: num e noutro caso, há exatamente a mesma percentagem de eleitores (7,1%) que, não tendo participado nas últimas legislativas, admitem agora fazê-lo para votar em António Costa e André Ventura. Mais significativa ainda é a percentagem de eleitores que votaram noutros partidos de menor expressão eleitoral em 2019, ou que votaram branco ou nulo (OBN), e que neste momento se viram para estas duas forças políticas — são 13,9% no caso do Chega e 9,7% no caso do PS. Só a Iniciativa Liberal e o PAN conseguem conquistar tantos novos eleitores vindos desta franja (ambos com 9,7% das intenções de voto de eleitores OBN).

Geringonça com 51,1% do Parlamento, direita fica nos 41,1%

Num cenário de eleições legislativas antecipadas, a união de forças à esquerda somaria, neste momento, 51,1% dos votos. Seria, por isso, uma frente parlamentar maioritária, ligeiramente reforçada face ao resultado de 2015 (quando somavam 50,75% dos votos) e que não seria abalada por votos de terceiros na votação de diplomas fundamentais. Mas é, também, uma maioria mais curta, se compararmos o cenário eleitoral da sondagem Observador/TVI/Pitagórica com o resultado das legislativas de 2019 (tem agora menos 1,8 pontos percentuais).

É o PS, como já vimos, o partido que puxa este valor para cima. Na análise por setores, e em comparação com o adversário mais direto, o PSD, António Costa vence junto dos eleitorados masculino e feminino e, também, na maioria das faixas etárias. Apenas os eleitores mais jovens (18-34 anos) dão preferência a Rui Rio e, no eleitorado mais velho (com mais de 54 anos), a vantagem socialista chega ao dobro dos votos no PSD: 41% dos inquiridos nesta faixa votariam PS, contra os 20% que optariam pelo PSD.

Uma vantagem significativa que também se verifica na análise por classe social. Se os sociais-democratas são o partido preferencial junto das classes A/B (26% no PS contra 28% do PSD), entre os mais desfavorecidos, são os socialistas quem colhe mais intenções de voto. Na classe média baixa (C2), 40% dos votos iriam para Costa e apenas 17% para Rui Rio. Na classe baixa (D), a divisão faz-se com 33% para o PS e 16% para o PSD.

Uma esquerda mais forte que em 2015, mas ligeiramente emagrecida face a 2019, quando a “geringonça” deixou de existir. E a direita? Se somarmos os votos do PSD aos do CDS, do Chega e da Iniciativa Liberal, os partidos daquele lado do hemiciclo não vão além dos 41,1%. Projetando eventuais mudanças do ciclo político, juntamos-lhe os votos do PAN e, mesmo assim, a soma não vai além dos 43,3% dos votos. Por comparação, quando saíram da noite eleitoral, a 4 de outubro de 2015, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas somavam pouco menos de 37% dos lugares na Assembleia da República. Agora, Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos conseguiriam 30,3% dos votos.

Mas tudo isto são, obviamente, cenários. É certo que a noite eleitoral de 6 de outubro de 2019 se encerrou sem uma maioria sólida no Parlamento. E é também verdade que a discussão dos três últimos orçamentos (o de 2020, o suplementar e o de 2021) mostraram fragilidades na relação dos antigos parceiros da “geringonça”. Mas, até ao momento, e apesar da crise económica e social que chegou à boleia da pandemia, não se perspetivam cenários de eleições legislativas a curto prazo. Quando (e se) isso acontecer, vai ser preciso olhar com mais atenção para a evolução de uma outra parte do eleitorado: aquele que agora se diz “indeciso” quanto ao sentido do seu voto e que pode fazer oscilar a agulha das maiorias políticas. Neste momento, essa fatia do eleitorado anda pelos 22% dos inquiridos.

Ficha técnica

Durante 6 semanas (10 Dezembro 2020 a 21 de Janeiro 2020 ) vão ser publicadas pela TVI e pelo Observador uma sondagem em cada semana com uma amostra mínima de 626 entrevistas. Em cada semana a amostra corresponderá a 2 sub-amostras de 313 entrevistas. Uma das sub-amostras será recolhida na semana da publicação e a outra na semana anterior à da publicação. Cada sub-amostra será representativa do universo eleitoral português (não probabilístico) tendo por base os critérios de género, idade e região.

Semana 2 publicação: O trabalho de campo decorreu entre os dias 10-13 e 17-20 Dezembro 20202. Foi recolhida uma amostra total de 629 entrevistas que para um grau de confiança de 95,5% corresponde a uma margem de erro máxima de ±4,0%. A seleção dos entrevistados foi realizada através de geração aleatória de números de “telemóvel” mantendo a proporção dos 3 principais operadores identificados pelo relatório da ANACOM, sempre que necessário são selecionados aleatoriamente números fixos para apoiar o cumprimento do plano amostral. As entrevistas são recolhidas através de entrevista telefónica (CATI – Computer Assisted Telephone Interviewing).

O estudo tem como objetivo avaliar a opinião dos eleitores Portugueses, sobre temas relacionados com as eleições , nomeadamente os principais protagonistas, os momentos da campanha bem como a intenção de voto nos vários partidos.

A taxa de resposta foi de 55,03% . A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva.

A taxa de abstenção na sondagem é de 56,6% a que correspondem os entrevistados que aquando do momento inicial se recusaram a responder à entrevista por não pretenderem votar nesta eleição.

A ficha técnica completa bem como todos os resultados foram disponibilizados junto da Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizara oportunamente para consulta online.