Multiplicam-se, no Facebook, publicações que partilham uma alegada fotografia em que o embaixador de Israel na ONU mostra um cartaz sobre a morte do ex-Presidente do Irão Ebrahim Raisi, que morreu num acidente de helicóptero a 20 de maio deste ano. “O embaixador de Israel, Gilad Erdan, hoje, nas Nações Unidas, levantou um cartaz com os seguintes dizeres: ‘o carniceiro do Irão não deixará saudades’. Excelente iniciativa! O antro do Conselho de Segurança da ONU tinha feito um minuto de silêncio para homenagear o carniceiro e seus companheiros mortos. Parabéns!”, escreve um dos utilizadores.

Recorde-se que o Presidente do Irão morreu, de forma inesperada, em maio, quando o helicóptero em que seguia se despenhou na floresta de Dizmar, numa zona montanhosa do nordeste do país, junto à fronteira com o Azerbaijão — país onde Raisi e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amirabdollahian (e que também perdeu a vida no desastre aéreo), se tinham deslocado em visita oficial, no âmbito da inauguração de uma barragem.

Ebrahim Raisi era Presidente do Irão desde junho de 2021 e visto como um ultraconservador pela comunidade internacional. Antes de ser eleito, aos 60 anos, ocupou durante décadas vários cargos judiciais — incluindo o cargo máximo do poder judicial iraniano entre 2019 e 2021. Foi sob o seu comando que terão sido cometidos dezenas de crimes, como detenções arbitrárias de dezenas de milhares de pessoas, desaparecimentos forçados, tortura e outros maus-tratos, como a flagelação, a amputação e o apedrejamento, nota a Amnistia Internacional, uma ONG que mantém desde sempre um olhar atento ao regime teocrático iraniano.

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Raisi era também um conservador nos costumes e terá promovido também a perseguição de mulheres e raparigas que desafiavam o uso obrigatório do hijab. Em 2018, Raisi chegou a defender publicamente os assassinatos em massa, descrevendo-os como “uma das realizações de que o sistema [da República Islâmica] se orgulha”. Desde que foi eleito, as execuções aumentaram de forma abrupta, tendo atingido em 2023, as 853 pessoas — mais de 170% em relação a 2021.

Por tudo isto, mas também devido à histórica animosidade com Israel, inimigo de longa data do Irão, de Telavive foram ‘chovendo’ críticas ao longo das décadas. Algumas delas proferidas pelo embaixador israelita na ONU, que já chamou “carniceiro” e “assassino” a Ebrahim Raisi nalgumas situações, inclusivamente num discurso no Conselho de Segurança da ONU no dia seguinte à morte do Presidente do Irão. Mas terá Gilad Erdan erguido um cartaz em plena Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, a dizer que “o carniceiro do Irão não deixará saudades”?

A imagem em causa é claramente manipulada e isso é facilmente percetível, não só pelo facto de ter uma marca de água com o símbolo do Instagram ao lado mas também por se perceber claramente que Erdan está a segurar não o cartaz com a frase mas um outro, que ficou tapado. Na verdade, vídeo original foi publicado pelo próprio embaixador israelita a 19 de setembro de 2023 na sua conta da rede social X. Num curto vídeo, o diplomata Erdan mostra uma folha A3 com a foto de uma mulher e uma mensagem, em inglês: “As mulheres iranianas merecem liberdade agora.

No texto que acompanha o vídeo, Erdan chama o “Carniceiro de Teerão” a Ebrahim Raisi e explica que a mulher que está a exibir é Mahsa Amini, a jovem de 22 anos morta pela chamada polícia da moralidade iraniana por se recusar a usar o véu islâmico.

Conclusão

O embaixador de Israel na ONU não mostrou um cartaz dizendo que “carniceiro do Irão não deixará saudades”. No entanto, Gilan Erdan já chamou “carniceiro” e “assassino” ao Presidente iraniano em algumas ocasiões, mesmo depois da morte de Raisi.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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