Com manifestações a decorrer em todo o mundo por causa da morte de George Floyd, o afro-americano que morreu depois de um polícia ter pressionado o joelho no seu pescoço, o Facebook serviu também para muitos utilizadores protestarem. Várias publicações foram feitas nas últimas semanas: algumas são homenagens ao homem de 43 anos, outras procuram desculpabilizar a sua morte brutal, com recurso a informação errada. É o que se passa nesta.
Uma publicaçãoque está a circular na rede social procura mostrar que a esmagadora maioria dos brancos e mesmo os afro-americanos são assassinados por negros, tendo por base, alegadamente, estatísticas dos crimes levados a cabo em 2015, nos Estados Unidos. Só que as percentagens apresentadas não correspondem à realidade e este post é falso.
Desde logo, a “Crime Statistics Bureau”, a entidade que é citada na publicação como sendo a fonte das estatísticas, não existe. Depois, este dados foram partilhados em 2015 por Donald Trump, ainda antes de se tornar pelo presidente dos EUA, no Twitter — e, já na altura, acabou desmentido pelo Politifact. Se era falsa naquela altura, continua a ser falsa agora.
Embora a publicação em causa se refira a estatísticas de 2015, quando foi partilhada por Donald Trump, o FBI ainda não tinha divulgado dados oficiais sobre os crimes relativos a esse ano. Mas agora já estão disponíveis — não só de 2015, mas até 2018 — e permitem concluir que a publicação está errada. A tabela abaixo faz uma comparação entre os dados partilhados nas redes sociais e os dados oficiais divulgados pelo FBI: enquanto que a publicação alega que 81% dos brancos são assassinados por negros, as estatísticas oficiais mostram que esse valor é apenas de 16%.
As estatísticas partilhadas nas redes sociais pretendem passar a ideia de que os principais assassinos dos brancos são negros — mas os dados reais mostram exatamente o oposto. As percentagens não deixam dúvidas: os brancos tendem a matar outros brancos, da mesma forma que os negros tendem a matar outros negros. Esta tendência manteve-se ao longo dos anos: aliás, o último relatório disponível, de 2018, mostra que 81% dos brancos são assassinados por brancos e apenas 16% são assassinados por negros — números exatamente iguais aos de 2015.
Número de pessoas mortas pela polícia não é divulgado oficialmente
A mesma publicação também alega que 3% dos brancos e 1% dos negros são assassinados pela polícia. Ora, não existem dados oficiais sobre o número de pessoas que morreram às mãos de forças de segurança. Para preencher essa lacuna, o jornal The Washington Post criou uma base de dados com a caracterização das pessoas mortas pela polícia — a partir de informação que consta em relatórios e notícias.
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De acordo com essa base de dados, em 2015, 414 brancos e 223 negros foram mortos pela polícia. Se aplicássemos as percentagens que constam na publicação ao relatório do FBI, teríamos números bem diferentes. Em 2015, foram assassinados 3.167 brancos e a publicação alega que 3% dessas vítimas teriam sido mortas pela polícia: feitas as contas, daria cerca de 95 brancos — o que não se aproxima em nada aos 414 brancos mortos pelas autoridades que constam na base de dados do The Washington Post.
O mesmo acontece em relação aos dados sobre afro-americanos. Em 2015, 2.664 negros foram assassinados, de acordo com o FBI. Ora, a publicação diz que, desses, 1% teria morrido às mãos da polícia — o que daria 26 e que, mais uma vez, não corresponde à base de dados do The Washington Post. Esta base de dados mostra que foram 223 os negros mortos pelas forças de segurança, nos Estados Unidos.
As percentagens da tabela partilhada no Facebook mostram que por cada negro assassinado pela polícia, haveria quase quatro brancos mortos da mesma forma — o que está errado. A base de dados do The Washington Post, baseada em relatórios oficiais e notícias, mostra que a proporção é de cerca de dois brancos mortos pela polícia por cada negro morto.
Conclusão
Uma publicação procura mostrar que a esmagadora maioria dos brancos e mesmo os afro-americanos são assassinados por negros, tendo por base, alegadamente, estatísticas dos crimes levados a cabo em 2015, nos Estados Unidos. Só que as percentagens apresentadas não correspondem à realidade.
Enquanto a publicação alega que 81% dos brancos são assassinados por negros, as estatísticas oficiais mostram que esse valor é apenas de 16%. O relatório do FBI desse ano mostra que os brancos tendem a matar outros brancos, da mesma forma que os negros tendem a matar outros negros — uma tendência que se manteve até aos dias de hoje.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
Errado
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.