E eis que as coisas começam, lentamente, a mudar. Confesso que tenho um arrepio quando ouço alguém dizer que as coisas começaram a “melhorar”. Milhares morreram, milhares seguem hospitalizados, a ameaça ainda é latente. Não podemos dizer que as coisas estão melhores. Mas, pouco a pouco, aqui na Europa, as regras começam a mudar outra vez, o isolamento começa a ser relativizado. E, daqui uns meses, outros países viverão essa fase, na qual, ter sensatez é tão importante (ou mais) do que foi durante a quarentena. Tentemos, mais uma vez, não ser egoístas para essa fase, buscando:

  1. Entender que a vida não está “voltando ao normal”: antes de tudo, é preciso ter isso muito claro. Não, a vida não está voltando ao normal. O nosso antigo normal já não existe e talvez demore muito para voltar. Admita que a vida vai voltar aos poucos, com formatos novos e regras novas. E, enquanto lutarmos contra essa ideia, nós mesmos seremos os primeiros a sofrer.
  2. Ter calma, muita calma: todos estamos morrendo de vontade de fazer coisas que antes eram banais e agora são luxos. Ir a um restaurante, ir à praia, fazer picnic num parque, ir ao cinema, ir a um bar, passear num shopping. Mas é uma questão de lógica: se todos nós decidirmos retomar nossas vontades ao mesmo tempo, a catástrofe volta a ser uma certeza.
  3. Entender a diferença de vontade e necessidade: muita gente diz “eu PRECISO ir ao cabeleireiro”. Ou “eu PRECISO ir a um bar”. Ou “meus filhos PRECISAM ver o mar”. Então. Vamos lá. Ninguém precisa de nada disso. Nem do cabeleireiro, nem do bar, nem do mar. Todos nós adoramos essas coisas. E temos vontades- vontades fortes, que mexem conosco. Mas essa é a hora de saber que vontade é uma coisa, necessidade é outra. E precisamos ir com muita calma nas nossas vontades, se não queremos regredir à quarentena.
  4. Não jogar esses últimos meses no lixo: março e abril foram meses muito difíceis por aqui. Para todo mundo. Sermos pouco cuidadosos em maio (e junho, e julho, e agosto…) é correr o risco de ver o esforço feito por todos ser literalmente jogado no lixo. É abrir a possibilidade de recomeçar do zero e de ter que viver tudo isso outra vez.
  5. Não fechar os olhos: há dias em que ficamos tentados a relativizar mais, flexibilizar mais, fechar um pouco os olhos para o problema. Estamos cansados desse assunto e às vezes há uma vontade grande de fingir que a coisa não é tão grave e dar “só” um abracinho, ficar “só” na areia da praia, fazer “só” um jantarzinho para amigos. Cuidado. Precisamos manter os olhos abertos.
  6. Ter cuidados redobrados: enquanto estamos em casa, a máscara, o álcool gel e o ato de lavar as mãos não são tão importantes quanto na rua. Dentro de casa estamos razoavelmente seguros, temos controle da limpeza e da frequência. Mas, quando começarmos a sair do isolamento, os cuidados terão que ser redobrados, intensos, constantes. Não poderemos vacilar. E sim, isso é cansativo. Mas vai ter que ser. Usem máscara. Lavem as mãos.
  7. Proteger as pessoas: assim como durante a fase de afastamento social, temos que pensar mais nos vulneráveis do que em nós mesmos. Você pode estar com muita vontade de ir a um restaurante, mas, se você vive com idosos, será que você deve fazer isso? Pense nas pessoas com quem cruza na rua, nos que não têm a mesma saúde que você, nos que não têm a sua idade, nos que não têm sua condição social. Mesmo que sejam desconhecidos.
  8. Não minimizar a ameaça: vimos, mundo afora, milhares e milhares de desgraças motivadas por aqueles (sobretudo governantes) que minimizaram a importância da COVID-19. Se nós não fomos esse tipo de pessoa nos últimos meses, não sejamos como elas agora. Nos lembremos dos números de mortos, do custo social e econômico dessa doença. Não mudemos a nossa postura nessa fase delicada.
  9. Pensar nos profissionais da saúde: eles não se acovardaram, eles não se esquivaram do risco, eles enfrentaram o medo. Muitos morreram para defender vidas de estranhos. Eles estão exaustos, estão com o rosto marcado pelas máscaras, estão de luto por seus colegas que não resistiram aos vírus. Pense nisso antes de dizer que você ‘pre-ci-sa de uma prainha’.
  10. Aceitar que a vida vai ser diferente: nós aceitamos que a vida vai ser diferente quando nos casamos, quando tivemos filhos, quando mudamos de emprego. Essa é só mais uma dessas situações. As coisas serão diferentes. Algumas para melhor, outras para pior. Tenhamos serenidade para aceitar e sabedoria para valorizar as pequenas (re)conquistas. Respiremos fundo, aceitemos o tempo do mundo e tenhamos calma. Vai ficar tudo bem.

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