Sim, bem sei que os últimos dias têm sido difíceis no que toca a conservar uma réstia de esperança nos políticos portugueses. Percebo que seja tentador embarcar naquele clássico de chofer de praça, “Isto é tudo uma cambada de gatunos, mas é!” Ainda assim, calma. É precisamente nestes momentos complicados que é mais necessário ter capacidade de entender as nuances da situação política que vivemos. É nestas alturas que é forçoso captar as subtilezas e não permitir que tudo se confunda numa mescla nebulosa. Por isso vos digo que isto é tudo uma cambada de gatunos, mas é!

Peço desculpa, precipitei-me. O que eu queria dizer é que isto é tudo o que parece ser uma cambada de gatunos, mas é, na verdade, uma corja de larápios que a justiça em princípio nunca conseguirá condenar por gatunagem, mesmo quando as provas da gatunice são tão óbvias, mas tão óbvias, que até o Juiz Ivo Rosa diria: “Isto é tudo uma cambada de gatunos, mas é! Nem eu consigo desconsiderar acusações de tamanhas escandaleiras, tenham paciência.”

Juiz Ivo Rosa que, como saberão, voltou a ver o Tribunal da Relação corrigir uma sua decisão, repondo quase todas as acusações a José Sócrates que o juiz tinha deixado cair. O que não é uma situação assim tão comum. Ao juiz Ivo Rosa, por exemplo, ainda só aconteceu algumas vinte vezes. Nada de especial. Digamos apenas que o juiz Ivo Rosa tem uma má relação com a Relação. Enfim, má relação é favor. É mesmo uma relação abusiva. Ao ponto de os vizinhos, muitas vezes, terem de chamar a policia e tudo. É com cada tareia que Ivo Rosa leva da Relação.

Mas, portanto, façamos um ponto de situação. José Sócrates vai mesmo ser julgado por corrupção. Isto enquanto António Costa é suspeito da prática do crime de prevaricação. Ao mesmo tempo que António Guterres preside a uma organização que financia terroristas islâmicos. É o legado que os secretário-gerais do PS nos deixam e que nos deixa com água na boca para o que lá virá de Pedro Nuno Santos. Para além da casa que não se percebe bem como foi paga, e que paga um IMI que ninguém percebe porque paga, claro.

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O PSD, que não consegue ver nada, e como se não lhe bastasse os dúvidas imobiliárias envolvendo também Luís Montenegro, conseguiu a proeza de arranjar um líder de governo regional da Madeira que, dessem tempo ao homem, ainda nos faria recordar com saudade a época de ouro da transparência democrática, cortesia de Alberto João Jardim.

Miguel Albuquerque que – além de ter um apelido que faz uma cacofonia gira quando seguido da palavra “que” – apresentou a demissão. Sendo que é uma demissão sem efeito imediato. Também já me aconteceu. Não com uma demissão, mas com uma medicação. Estou a tomar umas coisas para os nervos e o médico também me disse: “Não espere resultados em menos de quinze dias, que isso não faz efeito imediato”. E é com base nesta minha vasta experiência terapêutica, que sugiro ao PSD demitir Miguel Albuquerque três vezes ao dia, depois das refeições, durante uma semana. Para ver se o problema se resolve de vez.

Enfim, o que se tira de tudo isto é que a corrupção em Portugal é como um estiloso sobretudo antracite: nunca sai de moda. É a corrupção em Portugal e o chafurdar obras de arte de valor inestimável por esse mundo fora, em protesto pela ONU de António Guterres financiar terroristas islâmicos de menos. Quer dizer, não sei se foi por isso que duas lunáticas atiraram sopa à Mona Lisa, se foi por ter sido a Mona Lisa a fazer a sopa e não estar gostosa. Mas não interessa. O que interessa é que mais uma obra de arte valiosíssima, para mais a Mona Lisa, foi vítima de um par de histéricas com a mona oca.