Também não sei qual vai ser o resultado no domingo, e não vou tentar adivinhá-lo. Mas há uma coisa que sei: estas eleições vão ficar para a história, seja qual for o resultado. Porque o que está em causa é uma escolha histórica: manter o rumo da governação seguido nos últimos anos, ou mudá-lo. Desse ponto de vista, as eleições de domingo vão de facto funcionar como um referendo ao poder socialista, e às maiorias de esquerda que acompanharam as orientações desse poder.

PS, BE, PCP, Livre ou PAN são as escolhas de quem quer manter o que está: ou porque está satisfeito assim, ou porque recusa as opções de mudança propostas nestas eleições. Mas manter o que está, é fatalmente manter as tendências dos últimos anos. É manter os constrangimentos fiscais e regulatórios que impedem a economia de crescer, e limitam a autonomia da sociedade civil. É manter a emigração para países de economia mais liberal como a maneira de os jovens diplomados tirarem partido das suas qualificações. É manter a degradação dos serviços públicos na educação e na saúde, e a fuga das classes médias desses serviços, a que nem escapam as famílias dos líderes de esquerda. É manter a suspeita acerca do funcionamento regular e da isenção de instituições capturadas por um mesmo partido há muitos anos no poder. É manter o assalto wokista, a partir do Estado, à memória histórica do país, no sentido de privar a sociedade de qualquer coesão nacional. Se PS, BE, PCP, Livre e PAN prevalecessem, estas eleições ficariam na história como a confirmação de que a maioria do país já não acredita que melhor seja possível.

PSD (através da AD), IL ou Chega são as opções de quem quer mudar. Durante a campanha eleitoral, cada uma dessas siglas reclamou para si em exclusivo a causa da mudança, acusando as outras de servirem o PS. É natural, quando se trata de disputar votos. De resto, não são todos a mesma coisa. No seu conjunto, porém, propõem as reformas indispensáveis para uma viragem. Resta saber se, caso seja necessário, conseguirão conjugar-se para a levarem a cabo. Haverá talvez alguma turbulência até encontrarem as fórmulas de entendimento adequadas para uma governação que convém seja forte. Mas quem quiser mudar, não deve hesitar por isso. Primeiro, porque, perante as tendências que descrevemos acima, é importante começar já a mudar, mesmo que à custa de alguma instabilidade política. Segundo, porque esta instabilidade nunca será maior do que a instabilidade que tivemos com maiorias de esquerda que, em dois anos, obrigaram o país a duas eleições legislativas imprevistas (2022 e 2024).

Mudar de governo não é mudar tudo. Mas aquilo que não nos é dado mudar também justifica que mudemos de governo. Nenhum governo poderá, numa legislatura, inverter o envelhecimento da população. Nenhum governo poderá, a partir deste país, dissipar as tensões internacionais. Mas um governo pode deixar os portugueses desenvolverem uma sociedade mais capaz de sobreviver a essas evoluções e esses choques. Uma sociedade com uma economia mais próspera e sofisticada estará menos vulnerável às incertezas da correlação de forças no mundo. Uma sociedade mais segura das suas fronteiras e da sua cultura estará mais apta para integrar aqueles que de outros países vierem reconstituir as suas vidas em Portugal. Não precisamos de um governo que faça tudo. Já tivemos demasiados governos desses. Precisamos agora de um governo que nos deixe, enquanto sociedade, fazer aquilo de que somos capazes. Trata-se, como disse Pedro Passos Coelho há duas semanas, de dar uma oportunidade a Portugal. É isso que está em causa no domingo. Não é pouco. De facto, é quase tudo.

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