Uma das coisas mais bizarras deste tempo são os cumprimentos que os parceiros da “geringonça” se dão a si próprios pelo “rigor e equilíbrio” nas contas do Estado. Como se esse rigor e equilíbrio fossem uma opção. Num país endividado, totalmente dependente da ajuda europeia, e que estaria em apuros à primeira dúvida sobre as suas contas, não são uma opção: são uma obrigação. Portugal não é a Itália (e ainda está para se saber até pode ir a Itália). O governo minoritário socialista, sustentado pela geringonça, não provou nada em relação a 2001 ou a 2011: simplesmente, já não há condições, como então houve, para fazer défices do mesmo tamanho.
Há uns anos atrás, os sócios da actual maioria irritavam-se muito quando se dizia que não havia alternativa: agora talvez já tenham percebido o que isso quer dizer. É óbvio que há alternativa, mas é tão custosa e tão contrária a tudo o que somos e queremos, que nem o BE e o PCP, agora que são poder, se atrevem a propô-la. Não deviam ter escarnecido tanto da rendição do camarada Tsipras.
Do que a geringonça se gaba menos é daquilo que, essa sim, foi uma opção. Numa das conjunturas económicas e financeiras mais favoráveis dos últimos cinquenta anos, o governo optou por não fazer reformas. Não melhorou a eficiência do Estado nem, no que lhe dizia respeito, a competitividade da economia. Pelo contrário, manteve a carga fiscal dos tempos do ajustamento e sobrecarregou o Orçamento a favor das classes que, segundo a sabedoria oligárquica, decidem as eleições. Este, sim, foi um caminho que o governo escolheu e que poderia ter sido diferente.
Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.