Há, por todo o lado, muita gente irritada com o confinamento. E não, não são necessariamente pessoas que acham o vírus uma invenção, ou o confinamento inútil. São gente que foi efectiva e talvez irreparavelmente prejudicada na sua profissão, nos seus empreendimentos, na sua educação ou na sua saúde pelo facto de os governos, aqui e por quase toda a parte, terem deixado a epidemia agravar-se ao ponto de o confinamento se ter tornado o único meio de prevenir o colapso dos serviços de saúde públicos.

Era inevitável? Não sei se era. Provavelmente, se os governos tivessem levado a sério a epidemia logo no princípio de 2020; ou se os serviços públicos estivessem preparados para este género de catástrofes; ou se as autoridades, no seu conjunto, tivessem sido mais consistentes na informação e nas decisões —  talvez tudo pudesse ter sido diferente. Disseram-nos que, perante as incertezas do mundo, podíamos confiar nos Estados e nos serviços públicos. Enganaram-nos ou enganaram-se. Não, não podemos confiar: os Estados não foram bons centros de decisão, e os serviços públicos de saúde não estiveram à altura do seu primeiro grande desafio. Por tudo isto, muita gente pagou e está a pagar duramente: os que morreram, os que ficaram sem saúde, os que não tiveram a educação que lhes convinha, e, claro, os que perderam rendimentos, empregos e empresas. Estes estão agora dependentes de auxílios a que não é fácil perceber quem tem direito, nem quando vão chegar, ou se vão remediar alguma coisa. Sim, têm todo o direito de se mostrar impacientes. E quem felizmente foi menos atingido e está mais confortável tem o dever de compreender algumas das suas atitudes, e não simplesmente de exigir conformidade e respeitinho. Aliás, todos temos razões para não estar tranquilos.

Estamos a passar por algo que não é fácil de definir.

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