Não vou falar dos Neandertais, apesar de todos termos direito a permanecer uns autênticos neandertais. E esses já povoavam a Ibéria desde o ano 200 mil antes de Cristo. Para quem não saiba, aliás, o território que hoje equivale a Portugal foi o “último refúgio” do Neandertal, antes da sua extinção, cerca de 28 mil anos antes de Cristo.

Mas vá, para ser simpático, comecemos então pelo Homo sapiens, que chegou e começou a povoar a Ibéria no Paleolítico, e andava muito calminho por aqui, na sua vidinha de recolector, entretido a fazer gravuras no Vale do Côa ou na gruta do Escoural.

Estes Homo sapiens foram-se organizando em comunidades, ultrapassaram o Neolítico, as Idades do Cobre, do Bronze e do Ferro, e evoluíram para um conjunto populacional algo indeterminado, que se estendeu da Galiza ao Algarve, a que os antigos chamaram Estrímnios.

Os Estrímnios serão, tanto quanto se sabe, o “povo” original da Ibéria.

Estes, meus amigos, são os verdadeiros portugueses, os de origem, de boa cepa.

Mas rapidamente a humanidade fez das suas e chegou ao Sul peninsular um outro povo, os Ofis, que quase exterminaram os bons dos Estrímnios, e fundaram povoados onde atualmente encontramos localidades como Évora-Monte, Alcácer do Sal, Lisboa ou Leiria.

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Vá, como fundaram todos estes povoados, e apesar de quase terem exterminado os “portugueses” puros, os tais de Estrímnios, consideremos que também os Ofis são cá dos nossos, daqueles que sempre por cá andaram.

Mas depois é que começa a desgraça, e temos de pedir reparação em relação a isto.

Primeiro, para estragar a harmonia, vieram os vários povos Celtas, ou Celtiberos, que foram povoando diversas regiões do atual Portugal. Cónios, Brácaros, Galaicos, Túrdulos e muitos outros, incluindo até, imaginem… os Lusitanos.

Sim, os Lusitanos são uma força invasora Celtibera, vieram aqui chatear a boa vida em que andavam os “verdadeiros portugueses”, os bons povos Estrímnios e Ofis.

Entretanto, no Sul de Portugal, começam também a estabelecer-se outros invasores, malta vinda da zona do atual Líbano, uns tais de Fenícios, e mais tarde, a declinação destes que se tinha instalado em Cartago e que também nos veio chatear a molécula aqui.

Até os gregos, esses preguiçosos que tiveram a Troika à perna, vieram para aqui estabelecer umas cidades. É desses antigos gregos a culpa do nosso default.

A Norte, foram-se impondo outros invasores. Primeiro os Suevos, depois os Visigodos, enfim, uma chusma de bárbaros que deu cabo do nosso recato.

Quem veio mesmo dar cabo disto tudo, no entanto, foram os romanos. Imaginem que edificaram cidades, pontes, estradas, aquedutos, templos… Deixaram-nos também o Direito, a organização administrativa… Enfim, uns animais. Acho de todo recomendável irmos vandalizar o Templo romano de Évora, ou Conimbriga. E exijo que todas as estátuas de imperadores romanos que estão em Roma sejam atiradas ao Tibre.

A seguir, fomos invadidos pelos Muçulmanos. Com eles, trouxeram coisas como os tanques de águas, as noras e os canais de rega. E também os limoeiros, laranjeiras, a abóbora, a cenoura, o arroz ou a figueira. Até o arroz doce, essa sobremesa tão tipicamente portuguesa, se deram ao desplante de trazer para Portugal. Está na altura de acabar com isto tudo, arrancar todas as árvores e culturas que eles trouxeram para cá.

E ainda se cruzaram por cá muitos outros povos e culturas. Judeus, vários povos europeus, africanos, ciganos…

Todos estes povos vieram para cá para explorar as nossas minas e os nossos recursos naturais. Foram séculos e séculos de opressão e exploração.

Está na hora de acabar com isto, de revisitar a nossa história e voltar a contá-la como ela deve ser contada.

Estávamos nós, Estrímnios e Ofis, postos em sossego, quando veio esta turba toda, esta plêiade de energúmenos, bárbaros e selvagens, dar cabo disto.

Na verdade, recuando até um pouco mais, devemos exigir o direito a sermos o que éramos de origem: autênticos Neandertais. Vamos arrasar, destruir, queimar, tudo o que não tenha a ver com uma cultura e um legado verdadeiramente Neandertal.

Neandertais de Portugal: unidos, venceremos.