No Congresso do Bloco houve uma frase memorável. Um congressista, Américo Campos, afirmou o seguinte: “É curioso que três russos envolvidos numa revolução mal-sucedida, com mais de 100 anos, influenciam um partido de esquerda do século XXI.” Os três russos são, obviamente, Lenine, Trotsky e Estaline. Não sei se o camarada Américo percebeu devidamente o que estava a dizer. Se percebeu, não sei se já foi expulso ou silenciado pelo partido, como faziam os famosos três russos aos seus camaradas que se afastavam da linha oficial (e como fizeram uns aos outros, mais precisamente Estaline a Trotsky).

De propósito ou sem querer, o camarada Américo revelou o grande disfarce do Bloco. Um partido que continua a seguir uma ideologia que fracassou e espalhou violência, miséria e pobreza em todo o lado onde chegou ao poder. Mas usa uma linguagem moderna atraente para os jovens e até os liberais urbanos para disfarçar a sua verdadeira natureza. Um partido onde quem pensa são os discípulos dos três russos, neste caso Louça, Fazendas e Rosas, mas os rostos da falsa modernidade são a Catarina, as manas Mortágua e a Marisa. Ninguém tenha ilusões, o poder está com os velhos revolucionários, não está com as senhoras simpáticas. Além disso, as senhoras simpáticas pensam como os velhos revolucionários. Tudo o que sabem foi com eles que aprenderam.

Nas ideias de muitas das moções apresentadas no Congresso, há uma linha constante: o anti-capitalismo, e a luta contra a economia de mercado e a iniciativa privada. A política económica do Bloco tem um objectivo máximo: a nacionalização da economia. Os bancos, os CTT e a TAP seriam apenas o início. Depois nacionalizariam a EDP, a Galp, as várias indústrias, as seguradoras, a hotelaria, as empresas agrícolas e os meios de comunicação social. Quando Louçã sugere Mariana Mortágua para ministra das Finanças, o que quer dizer é que ela seria a CEO da economia portuguesa, e ele seria naturalmente o Chairman. Esqueçam o Chega. O Bloco é o partido mais anti-sistema que existe um Portugal. É um partido verdadeiramente revolucionário.

O Bloco usa os novos temas fracturantes e a luta climática de um modo instrumental, e hipócrita, como se viu com os casos dos lucros capitalistas de Robles e da acusação de violência doméstica contra Luís Monteiro. Recordem também os comentários homofóbicos de Fernando Rosas contra Adolfo Mesquita Nunes, ou as insinuações machistas de Louçã contra Aline de Beuvink. A instrumentalização destes temas visa aumentar a base de apoio do Bloco – e o número de votos – e combater o capitalismo. O Bloco, sobretudo a linha PSR (dominante no partido), continua fiel à Quarta Internacional, o movimento revolucionário e Trotskista global. Como partido disciplinado, o Bloco segue a linha estratégica da Quarta Internacional. Nos dois últimos Congressos mundiais, o rumo estratégico foi definido à volta de três ideias centrais: intensificar a luta contra o capitalismo, aproveitando as consequências da crise financeira, desenvolver o “eco socialismo” contra a “poluição capitalista”, e conquistar e integrar os novos movimentos sociais radicais, que militam a favor das questões de raça, de género e das minorias sexuais. Mas tudo isto é instrumental. O que conta é a revolução socialista.

A suposta modernidade do Bloco também beneficia da imagem envelhecida e ultrapassada do PCP, um contraste que beneficia os bloquistas entre os mais jovens e urbanos. Mas a evocação dos três russos mostra como o Bloco e o PCP estão muito mais próximos do que ambos gostariam. Os velhos Bolcheviques continuam a ser a inspiração ideológica. A luta continua a ser contra o capitalismo. A ambição continua a ser, depois de tantos fracassos, a revolução socialista. O resultado seria o que foi sempre: um país de pobres, dominados por uma elite totalitária.

O mais grave é que a influência das ideias do Bloco não necessita da revolução. O ascendente sobre os novos movimentos sociais, sobre os grupos de militantes radicais das mais variadas causas, o peso desproporcional – em relação aos seus resultados eleitorais – na comunicação social, e a radicalização das esquerdas do PS, permitem que o Bloco cause muitos danos à economia portuguesa e às liberdades dos portugueses. Portugal não terá uma sociedade próspera e os portugueses não viverão melhor enquanto as ideias do Bloco não forem derrotadas. É espantoso como em 2021, em Portugal, ainda temos que lutar contra os três velhos revolucionários russos.

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