A expectativa em torno da liderança de Rui Rio não era inteiramente desprovida de senso. Durante a disputa interna que viria a vencer, o seu discurso tocou em pontos certeiros sobre o estado do país e da política nacional. Não é mentira que o mundo partidário necessite de um “banho de ética”; não é mentira que as forças sociais-democratas na Europa se encontrem em risco de vida; não é mentira que Bruxelas tenha comportamentos excessivamente burocratizados e distantes dos interesses de cada Estado-membro. Tudo isto correspondia a um diagnóstico que Rio apresentava há vários anos, de forma tão convicta que por vezes quase populista. Mas era levado a sério – pela imprensa, pelos militantes do seu partido e até por quem não o apoiava. Passos elogiou os seus mandatos na autarquia do Porto; Cavaco Silva classificou-o como “um fazedor”. Ou seja, Rui Rio era respeitado e proprietário de um capital político significativo e já antigo. A frase mais repetida durante as diretas terá sido: “Independentemente de quem ganhar, estamos bem entregues. Podem ficar descansados”.

O facto é que, menos de um ano depois, tudo isso caiu por terra.

Os primeiros que Rui Rio desiludiu foram aqueles que acreditaram nele. Aqueles a quem ele prometeu seriedade, oferecendo depois trapalhada. Aqueles a quem ele prometeu patriotismo, falando depois em alemão. Aqueles a quem ele prometeu centro-esquerda, dando depois centro-nada. Aqueles a quem ele prometeu moral, preferindo depois relativismo. Acreditem nisto: o Rui Rio que foi presidente da Câmara destruiria o Rui Rio que ainda é presidente do PSD. Um homem que procurou distinguir-se pela excecionalidade durante toda a sua carreira política acabou a ser distintamente medíocre. Um homem que toda a vida foi olhado como institucionalista rendeu o seu partido ao adversário, comprometeu o papel do parlamento nacional, do seu grupo parlamentar e da responsabilidade dos seus deputados. Sacrificou princípios para proteger amigos, segurou gente que mentiu sobre a sua presença e sobre o seu currículo, convidou outros para trabalhar consigo cujo historial de processos em tribunal envergonharia qualquer organização. Não mobilizou, não melhorou, não cresceu. E compreendeu, até agora, muito pouco.

O modo como faz oposição é inteiramente inconsequente. Rio esconde a sua posição sobre determinado assunto até este ser decidido – e depois da decisão ser tomada pelo governo afirma que é contra. Foi assim com a não-recondução da Procuradora-Geral da República, cujo mandato criticou primeiro e elogiou depois, e foi assim com o chumbo do Orçamento do Estado, que recusou revelar para depois anunciar dizendo que é assim “há três anos”. Nunca fala antes e nunca acrescenta nada depois. Isto faz com que não possa capitalizar quando o governo vai de encontro à sua recomendação, e com que não possa dizer que avisou quando a decisão contrária se mostrar incorreta. Resumindo, parece feito para não resultar.

Hoje, a questão já não é se conseguirá ganhar, é por quanto irá perder. A questão já não é se vai ficar, é quando irá sair. E a questão já não é quem é o senhor que se segue, é se ainda haverá PSD para alguém liderar a seguir. Meu caro leitor, ser contrapeso de um regime é uma das maiores responsabilidades em democracia. Rui Rio, está visto, não tem aptidão para lidar com ela. É rei sem reino nem castelo. Vai nu.

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