Não são só os inocentes que ficam em silêncio. Os culpados também. Por isso, não sabemos se o ministro Eduardo Cabrita é inocente ou culpado. Remeteu-se ao silêncio. Paira assim uma suspeita sobre o nosso ministro. O seu silêncio permite que a suspeita aumente com o passar do tempo.

Ao contrário do que os socialistas, incluindo o PM, disseram não houve qualquer aproveitamento político por parte da oposição. Pelo contrário, a oposição nada disse até se perceber que o ministro mentiu. Eduardo Cabrita mandou dizer que as obras na auto estrada não estavam assinaladas, para ser desmentido pela Brisa. Quando há mentiras, aumenta ainda mais a desconfiança. E todos nós sabemos que quando um ministro socialista mente, alguma coisa de errado aconteceu.

Mas além da mentira, há outra suspeita ainda mais grave: há indícios de que o carro do ministro circulava a uma alta velocidade, muito acima do limite legal. Mais uma vez, não sabemos a verdade, por uma simples razão: ninguém a diz. Se o ministro, ou um porta voz (não faltam no governo socialista), tivesse dito claramente ao país que o carro circulava a 120km por hora (o limite por lei, e se o governo não a quis mudar é porque a considera justa), a conclusão só poderia ser uma: foi um trágico acidente. Ninguém pediria a demissão do ministro, e muitos até sentiriam simpatia por estar envolvido num acidente com uma vítima mortal.

O comportamento adequado teria sido a emissão de uma declaração, logo no dia do acidente, dizendo o seguinte: apesar da sinalização das obras, a falta de visibilidade suficiente provocou este trágico acidente, de qualquer modo é fundamental deixar muito claro que o carro do ministro se deslocava dentro dos limites legais de velocidade. Mas nada disto aconteceu e por isso todas as suspeitas são legítimas.

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Muitos pedem, mais uma vez, a demissão do ministro. Devo dizer que me é indiferente. A demissão do ministro não adianta nada. O problema não tem a ver com os ministros, mas com a cultura de poder do PS. O que acontece a um mero cidadão se atropelar e matar uma pessoa com excesso de velocidade? Ficará muito tempo sem carta, terá mesmo que ir a tribunal e poderá até ser acusado ou acusada de homicídio involuntário. Por isso, é fundamental saber a que velocidade circulava o carro do ministro. Numa democracia, os ministros não podem gozar de um estatuto especial em relação aos outros cidadãos.

Imaginem agora que este desastre tinha acontecido com um ministro de um governo de direita, o que diriam as esquerdas? Todos nós sabemos: acusariam o ministro de matar um trabalhador. Neste caso, as esquerdas estão caladas e até houve quem insinuasse que a culpa teria sido do trabalhador. Nas esquerdas, já há quem tenha perdido todas as pingas de vergonha.

Sabemos que muito provavelmente nada acontecerá. O tempo vai passar e vão surgir outros casos. Umas vezes, Cabrita salva Medina. Outras vezes, Medina salva Cabrita. E Costa assiste a tudo impávido e sereno. Nunca saberemos a verdade, sobre a velocidade a que seguia o carro do ministro. O PS desenvolveu a política do pós-verdade e da pós-mentira. A verdade e a mentira andam escondidas, e só as interpretações e as “narrativas” é que contam.

As direitas não estão a acusar Cabrita de nada. Apenas querem saber a verdade. Quando a exigência sobre a verdade passa por radicalismo, percebe-se o estado lamentável a que a nossa democracia chegou. Não há democracia sem a capacidade de distinguir a verdade da mentira. A política fica reduzida ao exercício cruel do poder.