1A mudança de Secretário Geral expôs a natureza anti-democrática do PCP. Nas democracias, as regras internas dos partidos são, naturalmente, democráticas. Em regra, há vários candidatos a concorrerem à liderança, o que mostra um salutar pluralismo e diferenças naturais. A democracia é o regime da competição e das divergências.

Mas, no PCP, a unidade, o secretismo e a falta de transparência dominam as escolhas do partido. O PCP comporta-se como uma organização revolucionária e anti-sistema, e não como um partido democrático. Se algum dia o PCP chegasse ao poder em Portugal, seria assim que mudariam os primeiro-ministros: na calada da noite e no secretismo dos gabinetes. Os portugueses deixariam, simplesmente, de votar. É o que se chama uma ditadura de partido único.

Mas a grande maioria dos portugueses não levam o PCP a sério. As nossas elites políticas, os jornalistas e cronistas sabem muito bem que o PCP não é um partido democrático, mas isso não os incomoda. Estão convencidos que os comunistas nunca chegarão ao poder. Por isso tratam o PCP como aqueles tios excêntricos com ideias absurdas, mas sem poder.

Mas estão enganados. O PCP e os seus sindicatos têm uma enorme responsabilidade pelo atraso económico de Portugal e pelo aumento da pobreza. São igualmente responsáveis por muitos dos desastres da educação no nosso país. Mas os governos socialistas beneficiam dos custos comunistas da nossa democracia: ajuda-os a manter o Estado no centro da vida económica e os portugueses pouco educados e vulneráveis ao poder político.

Arménio Carlos mostrou como os comunistas estão habituados a serem tratados com uma excessiva tolerância. Consegue ser descarado para dizer que a criação de um sindicato pelo Chega seria inconstitucional porque ameaça a independência sindical. Todos nós sabemos como a CGTP é independente do PCP. Mas a afirmação de Arménio Carlos também mostra o medo que os comunistas têm do Chega, e a mudança do SG é um sinal de que o PCP está a lutar pela sua sobrevivência. Como levo o PCP muito a sério, espero que não consiga sobreviver. O fim de um partido não-democrático aumentaria a qualidade da nossa democracia.

2A Iniciativa Liberal é o segundo partido parlamentar que decidiu mudar a sua liderança. Apesar da escolha do novo líder não ter começado da melhor maneira, com Cotrim Figueiredo a tentar condicionar a sua sucessão, a IL é um partido democrático e pluralista. Por isso, terá duas candidaturas à liderança. E será interessante acompanhar a eleição interna.

A IL tem dois desafios, um imediato e outro mais estrutural. O imediato será resistir à liderança de Montenegro no PPD. Se o PPD estiver em condições de derrotar o PS, muitos eleitores da IL deverão regressar aos sociais democratas. Uma vitória eleitoral do PPD poderá significar uma queda da IL, o que seria provavelmente fatal para um partido novo. As eleições europeias em 2024 serão o primeiro teste. Desconfio que Cotrim Figueiredo, o militante do partido com melhores resultados eleitorais, será o cabeça de lista da IL.

O desafio estrutural tem a ver com o tipo de partido que a IL quer ser. A questão é simples: a IL quer fazer parte de uma alternativa ao socialismo, ou pretende apenas ‘liberalizar’ o socialismo? A hesitação está a tornar-se cada vez mais clara. Ou talvez existam dois partidos na IL. Um que olha para o PS e para o socialismo como os maiores problemas do nosso país. E outro que no fundo sonha com uma aliança com o PS, acreditando na possibilidade de moderar os socialistas. No fundo, para essa linha da IL, o partido é social democrata, ou se quiserem social liberal.

Não basta ler livros de liberais para se ser um liberal. É absolutamente essencial ter os instintos liberais certos e colocar a liberdade individual como o centro da ação política. A elevação da liberdade ao valor politico fundamental significa um combate sem qualquer hesitação ao socialismo. Não vejo isso na IL. A partir do momento em que colocam a hipótese de se aliarem ao PS para tentar reformar o socialismo, deixam de ser liberais por mais citações que façam da literatura liberal.

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