Ao PS, os partidos da direita servem para meter medo com o “fascismo”, e assim tentar manter-se no poder apesar de todos os fracassos e tropelias. Mas ao país, para que servem? A muitos, para representar nos órgãos electivos pontos de vista conservadores, liberais ou nacionalistas, ou para organizar governos cujas políticas reflictam esses pontos de vista. E agora, a esses e a outros que podem nem ter tais pontos de vista, para dar ao país uma alternativa ao domínio do Estado pelo PS, e à estatização imposta pelos governos socialistas.

É uma função que não é fácil de desempenhar. O BCE impede rupturas financeiras. O que quer dizer que os partidos da direita não podem esperar suceder ao PS como em 2002 ou em 2011, quando o dinheiro acabou. O dinheiro não vai acabar. À direita, compete convencer os cidadãos das vantagens de uma mudança de governo, porque esta mudança só pode vir de um movimento de opinião dentro do país. Tudo isso pode parecer mais complicado agora do que quando a direita era só PSD e CDS. Hoje, existem outros partidos com representação parlamentar, todos muito competitivos e agressivos entre si. Há quem, por isso, acredite que uma mudança de poder em Portugal depende de restabelecer o PSD – ou uma aliança liderada pelo PSD – como única opção de voto à direita.

Se isso for verdade, não podemos ter grandes esperanças. O duopólio PSD-CDS resultou da proibição pelo MFA, em 1974-1975, de outros partidos de direita, o que fez do PSD e do CDS frentes eleitorais a que se submeteram as mais variadas famílias políticas não-socialistas. Depois, algumas lideranças (Sá Carneiro, Cavaco Silva) prolongaram essa ascendência. O mundo mudou entretanto. Em outros países, as crises da globalização fizeram crescer movimentos de inspiração liberal ou nacionalista. Portugal pareceu ir ficar à margem dessa mudança. Em 2015, a direita ainda votou unida na PAF liderada por Pedro Passos Coelho. Mas a geringonça de António Costa convenceu Rui Rio de que devia virar à esquerda. Criou assim espaço para a IL e o Chega.

Não é muito plausível que o tempo volte para trás. À frente do PSD já não está Rio, mas o liberalismo e o nacionalismo são hoje correntes políticas partidariamente autonomizadas, por mais frustes que ainda sejam a IL e o Chega. O voto à direita perdeu a disciplina de frente eleitoral que teve durante décadas, e tornou-se mais doutrinário. É provável que muitos votos já não possam ser mobilizados, a não ser através dos novos partidos. Conjugar esses partidos num projecto governativo duradouro será árduo, como se viu nos Açores. O sectarismo de uns, a demagogia de outros, e a ambição de todos complicarão acordos. Mas tentar eliminá-los, demonizando-os nos termos da esquerda, ou proclamando que votar neles é votar no PS, é ilusão e tempo perdido. Terá apenas como efeito suscitar dúvidas sobre a possibilidade de algum dia haver um governo que não seja socialista.

A direita é agora normalmente plural, como só não foi sempre, apesar do sistema eleitoral proporcional, por causa do PREC. A direcção do PSD tem de aprender a viver com o facto de já não haver MFA para proibir a IL ou o Chega. Se o PSD quiser conservar algum ascendente terá de ser como partido cujos líderes estão disponíveis, são capazes e têm o prestígio e a autoridade para organizar uma eventual maioria parlamentar de direita, de modo a fazer dela uma maioria de apoio a um governo alternativo ao PS. Não vai ser fácil? Mas nunca foi fácil, nem mesmo quando eram só PSD e CDS. Em 2013, no meio do ajustamento, o governo quase caiu quando Paulo Portas decidiu ir-se embora – e só não caiu graças a Pedro Passos Coelho. Haja liderança.

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