Não deixa de ser irónico que a liderança de Rui Rio tenha durado menos tempo do que aquele que se esperou pela liderança de Rui Rio. Anos e anos de suspense e alegada preparação para o cargo – e a frescura da sua chegada durou escassas semanas. Este mês, a sua eleição para o cargo celebra um ano e a verdade é que foi um ano desastroso – tanto para o cargo como para o incumbente. Quando falo «em tempo de liderança» quero dizer tempo efectivo de revigoração, iniciativa e mobilização. E esse, creio que poucos discordarão, foi curto. O ponto deste texto é simples: não tinha de ter sido.
Se Rio venceu as diretas contra Santana em janeiro do ano passado, começou a perder o partido em fevereiro, no congresso. Eu lembro-me: estava lá. Rio vencera a eleição interna, mas Luís Montenegro fora ganhar a reunião magna, na antiga FIL. Desde aí, a sucessão de asneiras foi interminável e é já conhecida. O mais curioso de tudo isso – além de ninguém esperar que fosse tão mau – é a facilidade com que Rio poderia ter hoje o partido na mão. Tendo feito as coisas de maneira diferente, Rui Rio seria hoje um credível candidato a primeiro-ministro – algo que manifestamente foi deixando de ser ao longo do último ano.
E como?, perguntará o meu caro leitor. Ora, regressemos ao apoteótico discurso de Montenegro no último congresso. Foi em tudo uma intervenção de pré-candidatura (“não pedirei licença a ninguém”) e de desafio (“não fui eu que estive dez anos à espera”) e foi aplaudida justamente por isso. Foram 24 minutos de política pura e dura. Rio vacilou e procurou recuperar a sala subindo ao palco e anunciado os membros da sua direção. O tiro saiu-lhe pela culatra assim que o nome de Elina Fraga foi enunciado. Mas Rio poderia ter feito diferente. Poderia ter chamado Montenegro de volta ao palco e dito: «Luís, tudo o que disseste tem o seu sentido. Serviste, como lembraste, a liderança parlamentar num tempo muito difícil para o partido e para o país. E é apelando a esse patriotismo e sentido de dever que te peço que fiques. Não saias do Parlamento. Fica. Regressa à liderança de bancada. Ajuda-me a derrotar António Costa e o governo do Partido Socialista». Perante o PSD em peso, Montenegro não teria grande margem para escapar ao convite. Rio, assim, teria não apenas mantido a união do grupo parlamentar como teria também salvaguardado a união do seu partido, capturando a oposição interna. Hugo Soares e Abreu Amorim, por exemplo, dedicariam mais do seu tempo a continuar o seu bom trabalho do que a criticar a atual direção.
Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.