Então diz-se que faleceu Sílvio Berlusconi. Um dos homens mais ricos de Itália, um dos políticos mais marcantes da histórica da nação transalpina, um magnata da comunicação social, uma figura central no mundo do futebol, um soberbo organizador de festas “bunga bunga”. Enfim, tanta coisa podia ser dita daquele a quem chamavam “Il Cavalieri”. Que em italiano significa, lá está, “soberbo organizador de festas bunga bunga”. Acho eu. Curiosamente, não vi nenhuma referência àquela que, julgo, seria a interrogação mais óbvia perante a notícia do falecimento de Berlusconi. E que seria a seguinte: “Faleceu? Quem? O Berlusconi? Como assim? Se, a julgar pelas fotografias mais recentes, ele dava mesmo ideia de ser já todo feito de plástico.”

Mas não, parece que Berlusconi faleceu mesmo. Tanto é que o corpo do magnata esteve em câmara ardente na sua mansão perto de Monza, e hoje decorre o funeral na Catedral de Milão. De onde, depois, o corpo seguirá para o ecoponto amarelo. Sim, sim. Porque se é verdade que, por cá, a política não tem personagens tão coloridas como Berlusconi, pelo menos em termos de reciclagem estamos em sintonia: portugueses e italianos, todos pomos o plástico no contentor amarelo.

Bom, mas avancemos, que a minha especialidade não é política internacional. A minha especialidade é, como fica aqui semanalmente óbvio, a estatuária. Motivo pelo qual me sinto qualificado para comentar o rumor de que a Câmara Municipal de Lisboa se preparava para tapar a estátua do escultor José Cutileiro no cimo do Parque Eduardo VII durante a Jornada Mundial da Juventude. Aliás, sinto-me tão preparado para comentar a estátua do Cutileiro como o Cutileiro para fazer estátuas. Ou como a Câmara de Lisboa para adquirir estátuas.

E o meu comentário é que, infelizmente, tudo não passou de um boato. A Câmara Municipal de Lisboa nunca teve intenção de esconder a estátua do Cutileiro, nem para sempre e de todos, nem apenas dos participantes na Jornada Mundial da Juventude. A CML está, isso sim, a restaurar a obra. E, segundo consegui apurar, o fundamental do restauro passa por dotar a estátua de um mecanismo que lhe permite mover-se, apontando o seu esguicho para os transeuntes participantes na Jornada Mundial da Juventude, promovendo milagroso alívio para a expectável canícula de Agosto.

Quem não precisou de esperar por Agosto para ficar em brasa foi o primeiro-ministro. António Costa foi ao Peso da Régua celebrar o 10 de Junho e, ainda longe do pico do verão, foi picado por professores, que o deixaram a ferver. Costa apostou que os populares haviam esgotado o stock de vaias com o ministro João Galamba e a coisa correu-lhe mal. E assim se confirma quão parcos são os conhecimentos económico-logísticos do primeiro-ministro. Se Costa percebesse alguma coisa do assunto saberia que, graças à actuação do seu próprio governo, os únicos stocks que não minguam em Portugal são mesmo os stocks de vaias.

Sendo que os professores, em particular, andam a açambarcar apupos. Tanto é que, perseguido por aquela manifestação de professores, Costa foi mais fustigado num quilómetro que fez na Régua do que tinha sido em todo o seu percurso académico, por réguas de professores. Apesar de tudo, há quem diga que a Régua não deve ser tida como referência para medir a popularidade do governo do PS. E eu concordo. Neste momento, para aferir o grau de aceitação popular do executivo de Costa, o instrumento indicado é mesmo o microscópio.

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