Desde 1979 que é evidente que a direita se deve unir para conseguir governar. Foi assim com a AD, com o governo Barroso/Portas e com o úlimo governo PSD/CDS. Foi assim até com Cavaco Silva que não se coligou com o CDS, mas ficou-lhe com os votos. A experiência diz-nos que direita nunca foi governo desunida e dificilmente o será.

Tive oportunidade de referir este ponto em 2016 e de o repetir em 2017. Sucede que unir a direita não é suficiente. Chegar ao governo para andar por ali até ser hora de sair tem pouca utilidade. Como em tudo na vida de pouco serve estar se não for para marcar a diferença. Ademais, PSD, CDS, Aliança e IL devem ter consciência que o eleitorado de direita só se mobiliza com causas que valham a pena. Em 1979 quando foi preciso colocar um ponto final parágrafo na tentativa dos comunistas controlarem o país. Em 1987 para que a entrada de Portugal na CEE surtisse efeito. E em 2011 quando se retirou Portugal da quase falência do Estado em que o PS o meteu.

Dito de outra forma: para não sermos governados por socialistas e neocomunistas, não basta à direita unir-se. É preciso que a direita apresente um programa de governo sustentado numa mudança cultural que a coloque em 2019. É indispensável que deixe o discurso datado dos anos 90 com que nos tem brindado nos últimos meses. Quem vota à direita não se reduz ao Estado nem à visão estatista que a esquerda tem do país. A maioria dos que votam à direita não esperam pela distribuição de benesses (engenho que o PS utiliza com mestria) nem visam trocar votos no Parlamento pelo apoio a exigências específicas, como pretende o PAN.

A partir do momento em que o eleitorado de direita não se revê no estatismo do PS, à direita cabe não só unir-se como apresentar um programa que liberte as pessoas do imobilismo que atrofia o país. Vivemos amarrados num colete de forças em que quem poupa é penalizado com juros baixos e uma cultura de desconfiança; em que quem investe se afunda numa burocracia crescente e desconcertante; em que quem quer trabalhar e ganhar mais é penalizado com mais impostos; em que quem precisa do apoio social do Estado, se vê desprotegido porque o Estado foi tomado por uma agenda ideológica que não visa ajudar quem precisa, mas proteger quem o serve. Um Estado que abandona os mais pobres e que também não deixa que outras instituições o substituam nesse papel social.

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O país encontra-se preso por uma lógica discursiva em que a esquerda age em modo ofensivo. Ofensivo porque no ataque, mas ofensivo também porque ofende, e ofende propositadamente para que a discussão se detenha no acto da ofensa em si e não se discuta o conteúdo do que se disse, e que acaba por passar como que por baixo dos pingos da chuva. Só desta forma se percebe como os responsáveis pela falência do Estado em 2011 governem alarvemente em 2019. Como o BE e o PCP simpatizam com regimes e experiências totalitárias (apesar do profissionalismo com que o BE se descarta dos entusiasmos que revelam a sua essência) ou como o PAN pretende fechar empresas e destruir empregos que não cumpram com a sua agenda [minuto 4.10]. Que a agressividade seja a arma dos prepotentes e dos que defendem a subordinação dos direitos das pessoas aos interesses do colectivo, já o sabíamos. Que ninguém ponha o dedo nesta ferida que nos está a destruir já me faz mais confusão.

Esta esquerda cínica e autocrata combate-se com inteligência e com cultura. Combate-se mudando a tónica do discurso, pondo o dedo na dita ferida, nas incongruências do que PS, PCP, BE e PAN defendem e daquilo em que acreditam. Numa palavra: expondo-os. E fazendo-o sem medo, sem cedências, certos de que os direitos das pessoas têm de ser defendidos por alguém, e que essa defesa origina resistências e que essas resistências se traduzem em raiva, crispação e em todas as formas de luta em que os socialistas e os neocomunistas se mostram pródigos quando os interesses que instalaram no Estado são questionados. Quando um socialista se irrita é porque se agiu acertadamente.

Infelizmente, a direita não está preparada para as eleições de Outubro. Não porque Costa seja habilidoso, mas porque os partidos que a deviam representar estão a levar demasiado tempo para perceberem a quem se têm de dirigir.

Advogado