O vermelho reflete-se em toda a parte, os templos atraem milhares de pessoas, há lanternas, velas e os famosos dragões. É o reflexo de um sentimento especial que a partir desta terça-feira cobre vários pontos da Ásia: comemora-se o Ano Novo Chinês, conhecido também como Ano Novo Lunar ou Festa da Primavera que em 2022 será o do Tigre.

Ano do Tigre começa esta terça-feira. As imagens do Ano Novo Lunar celebrado em vários países do Oriente

As decorações pela capital chinesa fazem realçar  o evento que coincidiu com as celebrações: os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, que terão grandes medidas de controlo, com nenhum bilhete ser vendido ao público.

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Com a tecnologia a avançar, as comemorações deixam de só se circunscrever ao planeta Terra e vão até ao espaço, em particular a 400 quilómetros daqui. A equipa de astronautas a bordo da missão Xi éne Djou vai celebrar o ano novo lunar na estação espacial e, para tentar matar um pouco as saudades de casa, os astronautas vestiram-se com trajes festivos para a ocasião, e decoraram a estação onde estão com várias lanternas vermelhas.

Por cá, Portugal também não esquece a data e a Embaixada da China e a Câmara Municipal de Lisboa vão promover um evento virtual a partir das 11 da manhã. Por enquanto, a plataforma deixa tudo em aberto: ao carregar no link pode ler-se: “Fiquem atentos”.

De volta à Ásia, os engarrafamentos monumentais marcavam esta altura do ano — a maior migração anual do mundo — antes da pandemia, o Ano Novo via até 3 mil milhões de viagens feitas pela China, de acordo com a BBC. Mesmo assim, sendo um momento importante para estar com a família, muitos não abdicaram e regressaram às cidades natais, como o demonstram os números: cerca de 260 milhões de pessoas já viajaram pelo país nos primeiros 10 dias desta temporada festiva, que começou a 17 de janeiro – menos do que antes da pandemia, contudo mais 46% do que no ano passado.  Ao todo, o governo prevê 1,2 mil milhões de viagens, um aumento de 36% em relação ao período homólogo, segundo a Associated Press, citada pelo South China Morning Post.

As máscaras relembram a pandemia que se vive naquele que é o terceiro ano comemorado à sombra da mesma. A diferença agora é que cerca de 85% dos chineses estão totalmente vacinados, de acordo com o Our World in Data. Apesar da alta taxa de vacinação, os desejos cruzam-se com o fim da Covid-19 e com o regresso à normalidade.

“Eu desejo que a pandemia passe o mais rápido possível e que a economia recupere”. Quem o reitera é o já reformado Huang Ping, enquanto cumpria o ritual de compras no mercado de flores de Pequim. Lamenta que a “atmosfera [de Ano Novo] tenha desaparecido” devido ao encerramento de templos e feiras sazonais, com o propósito de evitar grandes aglomerações.

Na banca ao lado, o também reformado Han Guiha está mais otimista e planeia aproveitar a festa adaptando-a às atuais circunstâncias, ficando na sua “limpa e bonita” casa “a desfrutar de boa comida e vinho”.

Mas, afinal, como surgiu a designação do Ano do Tigre?

Cada ano é representado por um dos seguintes 12 animais: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cão ou Javali. O Ano do Boi vigorou até ao último dia de janeiro e agora abre-se as portas ao Ano do Tigre. No Oriente, o Tigre é visto como um símbolo de lealdade e proteção, pelo que este ano será caracterizado por valores como a honestidade, a solidariedade e a procura da verdade e da justiça.

O zodíaco chinês é algo mítico e são muitas as lendas que o tentam explicar. A mais conhecida conta que o Imperador de Jade — que, de acordo com a mitologia chinesa, é o senhor dos céus — convidou o reino animal para participar numa corrida ao longo do rio, nas comemorações do seu aniversário, e prometeu que os 12 primeiros a chegar à meta ganhariam um lugar no calendário chinês. A ordem em que terminaram a corrida determina a sua posição no calendário chinês atual.

Conta-se que a forma como cada um atravessou o rio reflete o caráter de cada animal e, consequentemente das pessoas que nasceram sob o seu signo. Parece que o Tigre lutou contra a corrente do rio sozinho (ao contrário de alguns animais, como o rato que chegou em primeiro lugar, porque subiu para as costas do boi; ou o dragão que desprezou o primeiro lugar, preferindo ajudar alguns a atravessar o rio em segurança) e chegou em terceiro lugar e, por isso, simboliza ambição, força, coragem e intensidade.

Estas caraterísticas trazem esperança ao povo. “O tigre é uma proteção contra espíritos malignos e pode derrotar demónios e fantasmas de todos os géneros, e os chineses acreditam que a praga [Covid-19] é um tipo de espírito maligno”, explicou Chen Lianshan, especialista em folclore chinês da Universidade de Pequim, à mesma agência de notícias.