O Presidente da República defendeu, esta sexta-feira, que os elementos das forças de segurança — “PSP, GNR e outras polícias” — devem ter um “regime compensatório equiparado ao da Polícia Judiciária”. A nota de Belém surge num momento de forte contestação por parte dos elementos das polícias, que há duas semanas têm promovido uma série de protestos e vigílias em defesa do direito à atribuição de um suplemento igual ao que foi aprovado pelo Governo para os inspetores da PJ no final do ano passado.

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Numa nota publicada esta sexta-feira no site da Presidência, depois de um encontro com o líder da plataforma de sindicatos das forças de segurança, Marcelo recorda a “verdadeira onda de insatisfação e de contestação” que o diploma referente à Polícia Judiciária suscitou entre sindicatos e associações representativas deste setor (ao aprovar uma atualização nos valores dos suplementos atribuídos aos inspetores da PJ de, em média, 700 euros mensais). E esclarece que, aquando da promulgação do diploma da PJ, e já depois de receber os responsáveis máximos da PSP e da GNR em Belém, juntou uma nota ao despacho de promulgação.

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Nessa nota, que agora divulga na íntegra, Marcelo refere que, “não obstante a razoabilidade das medidas constantes destes diplomas, a sua aprovação pelo Governo suscitou desde logo uma verdadeira onda de insatisfação e de contestação por parte dos sindicatos e das associações representativas de outras classes das forças de segurança, e até de dirigentes das mesmas, face, nomeadamente, ao alegado tratamento desigual das referidas forças de segurança e à invocada discrepância e disparidade de valores a auferir por uns, quando comparados com outros”. O Presidente da República acrescenta que houve, também, “contestação pública de associações das Forças Armadas, bem como dos trabalhadores das carreiras gerais da Polícia Judiciária”.

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Tendo em conta esse contexto geral de contestação ao diploma, Marcelo defende que os regimes compensatórios aplicados às várias forças de segurança deve ser equiparado ao da Polícia Judiciária. E atira a responsabilidade sobre essa equiparação para o Governo que sair das eleições de 10 de março: “O Presidente da República chama assim a atenção do Governo que venha a entrar em plenas funções após as próximas eleições legislativas, para a justa insatisfação destas outras entidades e para a imperiosidade e urgência de medidas que deem sequência ao trabalho já em curso no atual Executivo e possam também compensar os membros dessas Forças pelos esforços, sacrifícios e riscos que enfrentam no exercício das respetivas funções.”

Marcelo diz ter dado conhecimento dessa posição ministro da Administração Interna, ao Comandante-Geral da GNR e ao Diretor Nacional da PSP, além de ter partilhado essa ideia com o representante da plataforma dos dirigentes associativos e sindicais — neste último caso, já esta sexta-feira. “Antes, portanto”, assinala ainda o Presidente da República, “da concentração convocada para domingo, junto ao Palácio de Belém”.

Meios “inoperacionais”: o protesto contra tratamento “discriminatório”

Logo no primeiro fim de semana de janeiro, um agente da PSP tornou público o seu descontentamento em relação às condições profissionais e de trabalho naquela força de segurança. Depois de divulgar um vídeo com o seu testemunho e uma carta aberta a apelar à mobilização de outros elementos daquela e de outras forças de segurança, Pedro Costa seguiu para a Assembleia da República em protesto, numa ação que rapidamente ganhou proporções maiores, à medida que dezenas, primeiro, e centenas, depois, de elementos da PSP (sobretudo), mas também da GNR e do corpo de Guardas Prisionais se juntaram ao protesto pelo que consideram ser um tratamento “discriminatório” em relação à PJ.

Além das vigílias quase em permanência em frente à Assembleia da República e de dezenas de autarquias do país, os elementos das forças de segurança começaram, também, a reportar problemas nos meios e equipamentos de serviço — problemas antigos, mas que até aqui não eram apresentados como impeditivo para a execução de missões e que passaram a sê-lo, como é o caso de carros sem sistema de travagem totalmente funcional, com sistemas elétricos danificados, problemas nos motores, entre outros. Rapidamente, várias divisões do país ficaram total ou parcialmente paralisadas, dado o número de carros dados como “inoperacionais”.

O protesto, promovido de forma inorgânica a partir de um grupo na rede social Telegram, levou a PSP a ter de transferir carros de outros pontos do país para os principais centros urbanos, para evitar (e reverter) a paralisação das suas operações diárias.