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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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Montenegro foi à terra de Pedro Nuno e o mercado deu-lhe (alguma) razão

No Mercado de São João da Madeira, terra do líder do PS, os inquéritos improvisados confirmaram os oficiais: Pedro Nuno tem taxa de rejeição maior. Mas voto indeciso ainda não cai (todo) para a AD.

A incursão rápida de Luís Montenegro pela terra natal de Pedro Nuno Santos não deu para fazer grandes números ou demonstrações de força. Chovia a potes, o líder da Aliança Democrata evitou a rua, enfiou-se na Oliva Creative Factory, um espaço cultural e artístico de São  João da Madeira, e por lá andou, sem nota digna de reportagem. Em boa verdade, na rua, nos cafés e nas lojas que estavam abertas, também não encontraria muita gente com quem trocar um par de palavras.

Dá-se até o estranho acaso de o concelho mais pequeno do país ser uma espécie de Triângulo das Bermudas: os cartazes da Aliança Democrática têm Nuno Melo como protagonista – não fosse um antigo bastião democrata-cristão – e outdoors de Pedro Nuno Santos, filho da terra, nem vê-los. Sem Montenegro e sem gente na rua, restou assumir como missão o teste à popularidade de um e de outro no Mercado Municipal de São João da Madeira.

Não que o espaço estivesse particularmente concorrido. Trinta minutos depois das quatro da tarde, o mercado de São João da Madeira era uma casa vazia, com os poucos em que ainda lá trabalhavam viam o tempo a passar vagarosamente enquanto falavam sobre tudo menos sobre política. A coisa mudou de figura assim que a equipa de reportagem do Observador, ave rara naquela paisagem, entrou e começou a perguntar pelo favorito nas próximas eleições legislativas: o filho pródigo, Pedro Nuno Santos, ou o homem de Espinho, Luís Montenegro.

Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador no mercado de São João da Madeira

Na cidade de Pedro Nuno Santos, a “sondagem” do mercado dá vitória aos indecisos

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Se valesse como sondagem, os inquiridos do mercado de São João da Madeira diriam “nenhum”. António Costa aumentou pensões e é elogiado por alguns, mas o descontentamento com o estado a que chegou o país é quase geral. Aníbal Cavaco Silva deixou muitas saudades e Pedro Passos Coelho ora é o homem da troika, ora é o “gajo mais fixe”. Não estando eles na corrida, entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, a balança pendeu, sem grande entusiasmo, é certo, para o social-democrata.

José Ferreira tem 57 anos e é florista há 30. Conhece bem o avô sapateiro de Pedro Nuno Santos e o pai do socialista, o “senhor Américo”, um “porreiro”. Pedro Nuno “tem postura”, “sabedoria” e “muito traquejo”. “Mas também fez algumas coisas mal”, corrige. Está, sobretudo, descrente no que aí vem. “No nosso país há muitas manhas em todos os setores”, lamenta. De resto, o descrédito na classe política é a nota dominante por estas bandas.

“Toda a gente promete. Eles querem é ir todos lá para dentro”, desabafa Paula, 52 anos, desde os oito anos a vender fruta. “Deviam ter um bocadinho consciência sobre o que se passa na Saúde, no preço das coisas, nos combustíveis. Tivemos o Costa que prometeu 1001 coisas e não sei em quem hei-de acreditar.” “Muitos, de esquerda e de direita como eu, deixaram de acreditar. Não acredito nem em Pedro Nuno Santos, nem em Luís Montenegro. Vêm com muitas promessas falhadas”, concorda Vítor Santos, 50 anos, peixeiro há 34.

Mesmo sem despertar grandes paixões, Montenegro parece ter, pelo menos, uma vantagem: não tem, aparentemente, a taxa de rejeição do seu rival. “Pedro Nuno Santos? Não o suporto. É arrogante… Deus nos livre que nos venha a governar. É tudo mau. Quando aparece na televisão, mudo de canal. Se não se moderar, não vai a lado nenhum. Ao fim de tanta porcaria que fez, estarem a apoiá-lo é inadmissível”, queixa-se Eugénia, uma das poucas clientes que vai circulando pelo mercado.

“Gosto muito mais de Luís Montenegro e gostava muito mais de José Luís Carneiro”, continua Eugénia. Pedro Nuno é que não; mas, em boa verdade, Montenegro também parece um mal menor. “Admiro muito Pedro Passos Coelho. Gostei muito de o ver na campanha. Mas as pessoas deturpam muito as coisas. E digo-lhe outra coisa: o país nunca viveu tão bem e nunca esteve tão pacífico como no tempo de Cavaco Silva”, recorda Eugénia.

À distância, Moisés, septuagenário que vai andando por ali, ouve a conversa e abana ostensiva a cabeça. Não quer prestar declarações à Rádio, mas não esquece tudo aquilo que o Governo PSD/CDS fez durante o período da troika. “Eu não me esqueço do que fizeram aos reformados”, insurge-se. Até aqui, no despido mercado de São João da Madeira, o legado do passismo e a troika continua a ser divisivo – mas não deixa ninguém indiferente. Se Moisés recorda os cortes desse período e tenta convencer os interlocutores de que a Aliança Democrática fará o mesmo à primeira oportunidade, Vítor Bastos, reformado que cuida da banca de leguminosas do filho João para se “distrair”, não lhe poupa elogios.

“Não gosto assim muito do Montenegro. Gosto mais do Pedro Passos Coelho. Foi o homem que tirou o nosso país da bancarrota. O Montenegro é um gajo de Espinho, que esteve lá na Câmara e não ganhou… Acho Pedro Passos Coelho um gajo mais fixe. Gostei de o ver na campanha e gostava de o ver a passar as palhetas ao outro [Montenegro]. Mas não pode ser”, compreende.

Quem não tem Passos, caça com Montenegro. Pedro Nuno é que não. “Acho uma boa pessoa”, concede Vítor Bastos. Mas logo recorda o que se passou na TAP, com o novo aeroporto e atribui-lhe a corresponsabilidade pelo que está a acontecer no “caos” da Saúde e com as forças de segurança. Em cima de tudo isto, diz, é uma questão de perfil. “Não acho que tenha perfil para sacudir e o país andar para a frente. Não tem aquela força… Não sei se é a pessoa indicada para governar o nosso país, se tem experiência suficiente”.

Na sondagem improvisada na terra de Pedro Nuno Santos, o mercado falou e deu cotação baixa ao socialista. O maior elogio que recebeu foi de Salvador Pinto, talhante ali há 42 anos. “Acho que é uma pessoa capaz, que já fez algum trabalho e que há-de melhorar com a idade. Acho que vai ganhar”, apostou. Apesar de tudo, Montenegro não tem grandes razões para sorrir: acreditando na tendência registada, são ainda muitos os indecisos, os potenciais abstencionistas e eleitores disponíveis para utilizar um voto de protesto. A Aliança Democrática ainda tem de correr até 10 de março.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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