Publicado a 10 de maio deste ano, o post alega que, a partir de 27 de maio, os governos vão “entregar a soberania do país e a liberdade ao diretor da OMS (Organização Mundial de Saúde) para que este decida quando restringir a tua liberdade (…), quando inocular-te com injeções genocidas, quando podes ou não sair de casa (..)”.
A publicação não menciona qualquer notícia, comentário ou acontecimento, nem redireciona para nenhum link, sendo que o único conteúdo que faz referência ao assunto é o próprio post.
Nos seus canais de comunicação oficiais, a Organização Mundial de Saúde não faz qualquer referência a estratégias ou acordos com países, nomeadamente Portugal, como sugere a publicação, para “restringir liberdades” ou “impor inoculações” com efeitos potencialmente prejudiciais. Além das fontes oficiais da OMS, também não há registo deste assunto em nenhum outro meio de comunicação.
Quanto ao “tratado pandémico”, apontado pelo autor da publicação como a causa da entrega da soberania ao diretor da Organização Mundial de Saúde, importa explicar que, embora esteja a ser negociado um tratado internacional sobre pandemias, a OMS não participa e o documento não assume os contornos sugeridos pelo post. Trata-se, sim, de um tratado entre 194 países com o objetivo de “corrigir as falhas que foram detetadas durante a emergência da Covid-19, para que o mundo esteja mais bem preparado e protegido — a nível local, nacional e internacional — em caso de novas pandemias” e “fortalecer a prevenção, a investigação, o acesso a vacinas e a partilha de dados e amostras biológicas”.
Já em fevereiro deste ano, na Cimeira Mundial de Governos, no Dubai, Tedros Ghebreyesus, diretor da OMS, explicou que o tratado não “confere nenhum poder à OMS”, uma vez que a organização não fará parte do pacto, apenas os governos dos países, e terá apenas a função de aconselhar os Estados signatários. Ghebreyesus reforçou, na altura, que “0 mundo não está preparado para uma nova pandemia”.
O tratado internacional sobre pandemias está a ser negociado há mais de dois anos e, como o Observador noticiou a 15 de dezembro de 2023, Tedros Ghebreyesus disse que poderia vir a ser assinado em maio de 2024, durante a 77ª Assembleia Mundial da Saúde.
No post em análise, o utilizador menciona o dia 27 de maio como a data a partir da qual Tedros Ghebreyesus passaria a deter a alegada “soberania” sobre vários países, sendo este o primeiro dia da 77ª Assembleia Mundial da Saúde, que vai decorrer de 27 de maio a 1 de junho de 2024, na Suíça. O evento vai reunir vários “delegados e peritos da OMS, agências parceiras e membros da sociedade civil para debater as prioridades atuais e as próximas soluções em questões vitais para a saúde pública mundial”.
No site oficial da OMS é possível consultar o programa completo desta edição da Assembleia Mundial da Saúde, onde serão discutidas várias questões de saúde pública, como a prevenção, a preparação e a resposta a pandemias, o financiamento da OMS e as ameaças emergentes para a saúde, como a resistência antimicrobiana e as alterações climáticas.
Conclusão
Uma publicação feita no Facebook sugere que, a partir de dia 27 de maio deste ano, vários governos entregarão a soberania dos seus países a Tedros Ghebreyesus, diretor da Organização Mundial de Saúde, para que este passe a ter o poder de “restringir liberdades” e “impor inoculações”.
O post distorce a premissa do tratado internacional sobre pandemias — um acordo, ainda não assinado, entre 194 países, com o objetivo de “corrigir as falhas que foram detetadas durante a emergência da Covid-19, e “fortalecer a prevenção, a investigação, o acesso a vacinas e a partilha de dados e amostras biológicas” — que, na realidade, não envolve a Organização Mundial de Saúde como signatária, mas apenas como conselheira.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.