Ao olharmos para o panorama político nacional e estrangeiro, depressa constatamos que o liberalismo se encontra “encurralado” por três outras correntes de pensamento político, sendo elas o socialismo, a social-democracia e o nacionalismo. Destas, o liberalismo é para mim aquela que está mais perto de conseguir um modo de vida em sociedade que melhor garante um equilíbrio entre o Estado e a liberdade individual e colectiva dos seus membros. Importa então perguntar como é que o liberalismo se pode, definitivamente, afirmar no panorama político nacional, aumentado a sua influência, não só no governo, mas e até mais importante que isso, na cultura do país. Eu identifico três grandes conceitos onde os liberais podem e devem fazer a diferença: coragem, verdade e afirmação de valores.

Coragem. Perante os tempos imprevisíveis em que vivemos, onde a guerra sucede à pandemia, muitos tenderão a procurar num Estado cada vez mais forte, controlador e omnipresente a resposta para a sua busca de protecção e salvaguarda. Caberá aos liberais, mais uma vez, recentrar e relembrar o papel do Estado como garante da segurança interna e externa, com forças de segurança com os meios necessários ao exercício das suas funções, mas que nunca poderão perder de vista o essencial. Estas forças servem para proteger a liberdade dos cidadãos e não para as pôr em causa, nunca para as limitar, como aconteceu na pandemia com a limitação de circulação, entre concelhos entre outros exemplos de má memória. Os liberais deverão ter a coragem de colocar a liberdade sempre acima de qualquer pulsão controladora do Estado.

Verdade. Hoje, mais do que nunca, os portugueses exigem a verdade, estão cansados de truques contabilísticos e de linguagem; a política é demasiadas vezes terreno fértil para a ilusão. Seja do lado do governo, seja da oposição, todos procuram adaptar a realidade às respectivas narrativas e apresentar propostas extirpadas de qualquer desvantagem. O resultado da ilusão é a desilusão, o ressentimento e a desconfiança. Promessas não cumpridas são meio caminho andado para a erosão da democracia.

Afirmação de valores. É confortável aos liberais assentarem o discurso político na vertente económica. Em Portugal, com a actual asfixia fiscal e com os erros cometidos, nomeadamente em investimentos ruinosos como a TAP, torna-se impossível de ignorar que o socialismo falha clamorosamente nesta área. Porém, apesar de ser inevitável que a economia ocupe um lugar central do léxico liberal, é fundamental que o discurso não se esgote aí. Valores como a solidariedade, patriotismo e tolerância não podem ser ignorados pelos liberais, até porque dessa forma são apropriados por outros. Sobre a tolerância permitam-me salientar que hoje a maior ameaça a este valor vem daqueles que, à esquerda, se escondem atrás do politicamente correcto (ou “wokismo”) para a partir daí implementarem as suas agendas. Seja convictamente ou para desviar a atenção de outros assuntos inconvenientes, a luta de classes promovida pela esquerda passou para as questões identitárias, os “wokes” procuram dividir a sociedade, agora não em capitalistas e a classe operária, mas através da orientação sexual ou pela cor da pele. É por isso que para mim os liberais não se podem abster desta discussão refugiando-se num preguiçoso “nem woke nem anti-woke”, pelo simples facto de que o “wokismo” de hoje limita a liberdade e não tem respeito pela memória. Deixem-me ilustrar com um exemplo concreto. Nos EUA uma instituição de ensino chamada Evergreen State College comemora desde os anos 70 o chamado “Day of Absence”, dia em que os alunos Afroamericanos saem do campus voluntariamente para chamar a atenção para a sua importância no contexto universitário. No entanto em 2017 os alunos pretenderam mudar as regras, tentando proibir a entrada no espaço do campus de professores e alunos brancos com o argumento de que estes deveriam sentir o que é o “privilégio de ser branco”. Durante anos milhares de negros e brancos lutaram nos EUA pelo fim da segregação dos Afroamericanos na sociedade americana, muitos morreram a tentá-lo. É nosso dever preservar a sua memória e o seu legado, evitando de todas as forma qualquer tipo de segregação imposta por outros, seja por quem for.

Não existe meio termo neste assunto, o meio da ponte é lugar de ninguém, só a luta contra o politicamente correcto, contra o “wokismo” preserverá a liberdade e a tolerância, valores fundamentais e inalienáveis para qualquer liberal.

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