Caro camarada,

A mobilização para a maioria absoluta é das mais urgentes prioridades – senão mesmo a única – do partido e da nação e é com base nessa premissa que junto enviamos um conjunto de instruções para leitura e difusão.

1. No seu telefone, abra a aplicação Whatsapp. Nesta, deverá ter já recebido uma imagem cor-de-rosa com umas letras pequenas e escuras. Trata-se de uma notícia de um jornal muito importante lá fora. Chama-se Financial Times.

2. Se não souber inglês, nada tema. A empresa de um camarada ministro encontra-se, neste momento, a traduzir todas as edições do FT de 2019 para exclusiva leitura do nosso partido.

3. Se souber inglês, continue sem nada temer.

4. O título diz que “Portugal oferece esperança à Europa”. É a mais pura das verdades, caro camarada. António Costa guia e conduz o continente, apesar de não ter as peúgas coloridas do sr. Trudeau ou os olhos azuis do sr. Macron. Não duvide. Somos nós que mandamos nisto. E neles também.

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5. Ignore, por favor, a referência no subtítulo a uma “coligação”. Não há coligação nenhuma. O governo é do PS. O Bloco é um irresponsável partido de mass media.

6. Ignore, por favor, a referência, logo no início do segundo parágrafo, à agência Moody’s. Todos nos lembramos que as agências de rating são lixo. E nós também éramos.

7. Ignore, por favor, a referência sobre “uma boa dose de sorte” do nosso governo. António Costa não tem “sorte”. Sorte temos nós de ele ter descido à terra.

8. Ignore, por favor, a referência a “ainda haver muito por fazer”. António Costa não tem de fazer nada. As coisas, como estes quatro anos provaram, acontecem sozinhas. Menos os incêndios, que são obra da direita.

9. Ignore, por favor, a referência ao facto de “não se poder atribuir todo o mérito da situação portuguesa” ao atual governo. Ainda é cedo, caro camarada, para louvar os feitos do governo do Sócrates. Mas haverá tempo para isso!

10. Ignore, por favor, a referência ao “crescimento global” e ao “turismo” como fatores de recuperação. É verdade, como explicou há dias o nosso secretário-geral, que tanto um como o outro já viram melhores dias. Mas tudo continuará bem porque o PS continuará no governo. (Como em 2011, lembra-se?)

11. Ignore, por favor, a referência ao programa de austeridade, entre 2011 e 2014, como “difícil, mas necessário”. Foi um evidente lapso do autor e já nos informaram que será retificado. A austeridade não era necessária. Como todos sabemos, foi um mero fruto do fascismo.

12. Afinal, talvez seja melhor não ler o artigo. Ligue antes a televisão. Eles explicam-lhe melhor, vai ver. Nem precisa de tradução.