1. Nos dias que correm, deve haver poucos empregos mais entediantes e fastidiosos do que o de relator de comunicados do Partido Comunista Português. A sucessão de notícias sobre a contratação de empresas de militantes por parte de câmaras municipais controladas pelo partido obrigou o PCP a reagir uma, duas, três, quatro vezes. Como os comunistas optaram por ignorar largamente os factos relatados nas notícias — naquilo que pode ser entendido como uma demonstração de prudência — sobrou-lhes apenas uma opção “patriótica e de esquerda”: insultar os jornalistas que escreveram os artigos e insultar também os jornais que os divulgaram.

Ora, dá-se o infeliz caso de a língua portuguesa conter, apesar da sua multiplicidade, um número relativamente limitado de palavras dedicadas a esse edificante recurso político que é o insulto. Por isso, imagina-se o desespero do sofrido funcionário do partido encarregue de escrever aquelas melancólicas notas de imprensa: com um dicionário de sinónimos de um lado e o “Dicionário dos insultos” (de Sérgio Luís de Carvalho) do outro, teme-se que tenha precisado de arrancar muitos cabelos em busca da originalidade.

Infelizmente, essa busca heróica fracassou. E, tendo fracassado, tornou-se inevitável recorrer a insistentes repetições para encher um número mínimo de linhas que desse uma aparência de respeitabilidade aos comunicados do partido. Assim, segundo o militante copista do PCP, o Observador, por exemplo, escreveu “uma peça difamatória”, ao mesmo tempo que colaborou numa “operação” de “difamação” e se dedicou, ainda, a uma “difamação” que foi, vá lá, “gratuita”. Ao mesmo tempo, a TVI optou pelo caminho da (imaginem) “difamação” e, num estádio superior de luta, atreveu-se a “acolher e consagrar como critério editorial a difamação”. Para cúmulo, a TVI terá também agido com uma “intenção” que foi (já adivinharam de certeza) “difamatória”.

Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.