Estamos tramados. Parece que não há mesmo nada a fazer. Os preços da energia no próximo inverno vão atingir valores astronómicos, colocando em causa a capacidade de aquecermos as nossas casas nos dias mais frios. E de quem é a culpa? Do Putin, como é óbvio. Aliás, é quase tão óbvio como a culpa ser daqueles que garantem que a culpa é do Putin. Depois de anos de desastrosas políticas energéticas que adoptaram na Europa terem garantido ao Putin as condições para ser hoje apresentado como o culpado disto tudo.
Na verdade havia uma forma muito simples de resolver este imbróglio. Bastava o clima estar à altura dos atributos terríficos que lhe conferem e ninguém teria de se preocupar com as contas da luz no inverno. Sim, sim. Se o aquecimento global fizesse o seu papel condignamente – em vez de termos de esperar mais alguns oitenta anos para a temperatura média subir para aí 1 grau – ninguém teria frio no próximo inverno. Mas qual quê. Afinal parece que o verdadeiro apocalipse climático é o facto de o aquecimento global não chegar a tempo e horas.
Por falar de coisas que chegam fora de tempo. Consta que o antigo director de informação da TVI, Sérgio Figueiredo, foi contratado pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, como consultor de políticas públicas. E porque é que esta notícia chega fora de tempo? Porque, logo por azar, me apanhou num dia em que ainda não li o clássico Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski. Que, caso tivesse lido, seria o meu livro predilecto de todos os tempos, estou convencido. Se já tivesse lido a referida obra teria certamente paralelos interessantíssimos a estabelecer com este caso Figueiredo-Medina. Não tendo lido a obra resta-me assinalar o seguinte. Se no livro de Dostoiévski houve um castigo para um crime – acho eu –, para Sérgio Figueiredo houve agora uma justa recompensa pela contratação de Medina como comentador da TVI em 2015.
Em 2015, senhores. Ao que parece, Sérgio Figueiredo teve de esperar sete anos por esta recompensa. Diz-se que partir um espelho dá sete anos de azar, mas pelos vistos contratar um Medina dá sete anos de esperar. Agora, é como diz o ditado: quem espera uma maioria absoluta do PS sempre alcança um cargo de consultor num ministério por ajuste directo e com salário de ministro. Além de que só mesmo um inveterado negacionista da COVID pode insinuar não ser positiva toda e qualquer instância em que uma mão lava a outra.
Mas ainda a propósito da maioria absoluta do PS. Os dois maiores fãs desta conjuntura parlamentar, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, foram jantar depois da habitual audiência semanal entre Primeiro-Ministro e Presidente da República. E logo surgiram comentários maldosos sobre o porventura excessivo alinhamento Belém/São Bento e acerca do hipotético défice de escrutínio do Presidente ao Governo e mais não sei o quê. Pois bem, isto são comentários de quem não está a par do que se passou no tal repasto. Porque quem ouviu o que foi dito àquela mesa sabe que não é assim. Quem escutou as palavras trocadas entre Marcelo e Costa sabe que as divergências entre eles são até bem profundas. Ora confiram:
Marcelo: Então o que é que vamos beber com as sardinhas, António? Talvez uma sangria, não?
Costa: Sangria?! Eh pá, porquê optar por mau vinho, ainda por cima desdobrado com soda?
Marcelo: Realmente, tens aí um ponto. Irra, que por muito que uma pessoa se esforce, é mesmo difícil encontrar algo em que discordar de ti, António. Apre.
Se calha o FBI fazer uma busca em casa de Marcelo Rebelo de Sousa, como a que estão a fazer em casa de Donald Trump, estou convicto que o que de mais relevante descobririam seria a vasta colecção de posters de António Costa colados nas paredes do quarto do Presidente.
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