A guerra na Ucrânia é um daqueles momentos que clarificam de um modo cristalino as águas políticas. Regressando à linguagem mural, de que o PM António Costa tanto gosta, não se pode ficar em cima do muro. As forças políticas estão num lado, ou noutro; não há terceiras vias. Na Ucrânia, ou se está ao lado de um país democrático, ou apoia-se a ditadura de Putin. E há quem apoie Putin, países como Cuba, Coreia do Norte, Síria e Venezuela.

O que se passou em Portugal? Na esquerda, os muros continuam onde sempre estiveram: entre o PS e os partidos à sua esquerda, o PCP e o Bloco. O PCP nem sequer disfarça o seu apoio a Putin. É espantoso como os comunistas nunca perdem uma oportunidade para estar no lado errado da história, e sempre ao lado de quem esmaga, brutaliza e explora as populações nacionais e estrangeiras. O PCP continua com muitas saudades da antiga União Soviética. Cada vez que algum comunista ataque o “radicalismo anti-democrático” do Chega, merecem ouvir logo um nome, Putin.

O Bloco como sempre procura ficar em cima do muro. Reconhece que a Rússia de Putin é uma ditadura, mas coloca-a num plano idêntico ao “imperialismo norte-americano.” Para o Bloco a democracia americana e a ditadura de Putin estão no mesmo nível. Ou seja, o Bloco discorda de todos os governos europeus, aliados dos Estados Unidos, e a combater a agressão da Rússia. Quando coloca um aliado da Europa no mesmo plano da Rússia de Putin, o Bloco está a mostrar a sua verdadeira natureza: um partido que continua a ser contra as democracias liberais e anti-europeu.

Mas se é óbvio que o muro à esquerda nunca caiu, o PS está a tentar erguer um muro à direita entre o Chega e os outros partidos, PSD, IL e CDS. Ora esta guerra mostrou que, tal como o PS, e os outros partidos das direitas, o Chega está ao lado da democracia Ucraniana contra a ditadura de Putin. Os dirigentes do Chega não deixaram qualquer dúvida sobre o lado do muro onde estão: do lado da democracia.

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Há divergências entre o Chega e o PSD e a IL e o CDS? Obviamente que há. Mas não é na defesa da democracia liberal. Aí estão todos do mesmo lado. E ao contrário do PCP e do Bloco, o Chega defende a posição da União Europeia e defende a Aliança Atlântica. Na direita, há pluralismo, mas não há muros.

Há um lado radical no Chega? Também há. Mas radicalismo politico não significa necessariamente oposição à democracia. Qualquer pessoa com o mínimo de educação política e preparação intelectual entende a diferença entre os conceitos anti-sistema e anti-regime. A posição anti-sistema assume críticas fortes ao modo como o regime democrático funciona, não significa ser anti-democrático. Apesar do seu radicalismo, há uma enorme diferença entre o Chega e o PCP e o Bloco. Como mostra a guerra na Ucrânia, o Chega apoia a democracia e está ao lado dos aliados europeus e ocidentais de Portugal. O PCP e o Bloco não estão.

Entendo que o PS queira erguer um muro entre o PSD e o Chega, para se perpetuar no poder. O que não se compreende é que na direita haja quem siga a estratégia do PS. Sei muito bem que essas pessoas combatem o PCP e o Bloco, e estarei sempre ao seu lado nessa luta. Mas também é fundamental combater a estratégia de hegemonia política do PS. Há muitos na direita que não o fazem quando continuam a considerar que o Chega não é um partido democrático.

Mesmo agora com o Chega a defender a Ucrânia contra a agressão russa, há quem diga e escreva que na “na direita portuguesa há quem apoie Putin”. Sendo assim, quem são essas forças políticas na direita que apoiam Putin? Digam os nomes e provem o apoio a Putin. Acho muito bem que se mantenha um escrutínio exigente sobre o Chega, tal como sobre todos os outros partidos, mas o que deve fazer ainda mais o Chega para mostrar que é um partido democrático?

O futuro da direita em Portugal exige que se impeça a criação de muros entre o Chega e os outros partidos, como está a fazer o PS. Quando o novo Parlamento iniciar o seu mandato, haverá a votação para as Vice-Presidências da AR, o PS já disse que vai votar contra o candidato do Chega. Vamos ver como votam as bancadas parlamentares do PSD e da IL. E também iremos assistir a uma maioria parlamentar a justificar a recusa de um deputado de um partido que apoia a democracia ucraniana depois da AR ter elegido vice-presidentes que estão ao lado da ditadura de Putin.

As pessoas de direita em Portugal devem perceber que os principais obstáculos à construção de novas maiorias de direita é a estratégia de hegemonia do PS e a diabolização do Chega. A continuar assim, não haverá maiorias de direita presidenciais ou parlamentares em 2026. A guerra na Ucrânia é a oportunidade para impedir o muro entre democracia e anti-democracia na direita. Em Portugal, todas as forças partidárias de direita são democratas. Foi isso que a reação à agressão militar de Putin demonstrou.