Apesar de a Grã-Bretanha ser, supostamente, um reino ‘unido’ e a comunidade europeia uma ‘união’, o Brexit evidencia a desunião dos britânicos e dos europeus. Na vizinha Espanha, outro reino desunido, Barcelona está a ferro e fogo, depois da condenação de vários líderes políticos catalães, por delitos de direito comum, a penas efectivas de prisão.

É um lugar-comum dizer, como Rui Tavares escreveu no Público de 16-10, que, quando Portugal recuperou a sua independência, em 1640, pôde faze-lo porque Madrid teve de enviar as suas tropas para a Catalunha, que já então ameaçava tornar-se independente. Ao contrário do que supõe, Portugal e a Catalunha não eram equiparáveis em 1640, como já aqui escreveu Helena Matos: a nação portuguesa já existia, como um Estado livre e soberano, desde 1143, enquanto a Catalunha, como o país basco, nunca o foram, ao contrário de Aragão, Navarra, Castela, Leão, Galiza e até Granada.

Se a Catalunha nunca foi independente, Portugal nunca deixou de o ser: entre 1580 e 1640, o reino português continuou a existir, formalmente diferenciado dos outros reinos ibéricos e Estados europeus. O que aconteceu foi apenas uma união pessoal, em Filipe I de Portugal e II de Espanha, mais propriamente de Castela, porque só no século XIX existiram reis de Espanha. É verdade que o mesmo soberano cingiu as duas coroas peninsulares, mas durante esses sessenta anos, Portugal não foi castelhano, nem Castela foi portuguesa. Carlos, o pai de Filipe I de Portugal e II de Castela, foi o quinto imperador do seu nome na Alemanha, e o primeiro de Espanha, porque também foi imperador e rei em simultâneo, sem que a Alemanha nunca tenha sido espanhola, nem a Espanha germânica.

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