Sempre fiquei impressionada com o fato de a maior fonte de felicidade e prazer da vida ser gratuita. Sim, o amor é de graça. E não, não há nada que proporcione alegria mais genuína e profunda do que o amor. Alguns céticos dirão que o amor não vem de graça, que é preciso comprar presentes e outras formas de barganha, mas quem conhece o verdadeiro amor sabe que ele não se compra. Agradar alguém amado não se confunde com comprar amor.

Uma criança que corre sorrindo em sua direção até abraçar suas pernas com força não é algo que se compra. Alguém que, ao acordar, sorria ao olhar para o seu rosto também não é algo que o dinheiro possa comprar. O encanto no olhar de pais ao olhar para os seus filhos também não. Assim como não se pode comprar um abraço de avó, um riso de filha, uma longa conversa com um melhor amigo.

Sempre achei estranho que nas matemáticas do universo, nas quais, para ter uma árvore, você precisa abrir mão de uma semente, o amor fosse uma exceção tão escancarada, uma via de mão única. Porque receber amor é bom e amar de volta também é. Investir nas relações é outro assunto. O amor, pura e simplesmente, sempre me pareceu uma falha de sistema, algo que esqueceram de nos cobrar.

Até que um dia eu entendi. O preço do amor é a ausência. O preço do amor é uma cama vazia. É um abraço que não se tem. É um lugar vago na mesa. O preço do amor é seguir amando e não ter um corpo para abraçar, cabelos entre os quais deslizar os dedos, olhos para os quais olhar, mãos às quais recorrer.

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Por vezes é uma ausência provisória. O filho que vai morar fora. O filho que muda de país levando os netos. O companheiro que vai trabalhar em outra cidade. O amigo que arrisca a sorte do outro lado do mundo. Uma ausência que tem volta no todo, mas que nos faz perder partes muito doloridas da existência.

Outras vezes a ausência é definitiva, mas viva. Um divórcio. O rompimento de uma amizade por uma razão grave. Pessoas que deixam de fazer parte das nossas vidas por razões racionais e justificáveis. O problema é que o amor não acompanha as decisões racionais. Frequentemente ele permanece. Teimoso. Incansável. Errôneo.

E, por fim, a ausência mais temida. A morte. Irreversível e inegociável. O pai que nunca mais vai te perguntar se você sabe o caminho. A avó que nunca mais vai insistir para que você coma mais um pouco. A mãe que nunca mais vai beijar sua testa. O companheiro que nunca mais procurará sua mão durante a noite. O filho que nunca mais entrará pela porta.

O preço do amor é a ausência. Amar é um contrato de risco. É apostar tudo, sem garantia de vitaliciedade. É ser obrigado a entender o que ser humano nenhum está pronto para entender: que cada abraço tem que valer por si só e não pela expectativa do próximo. É aceitar que a felicidade é tão intensa quanto será a altura da queda. E, então, a matemática perfeita se apresenta: a ausência dói exatamente na mesma medida do tamanho do amor. Nem mais, nem menos. O amor tem, sim, um preço tão claro quanto caro: quanto maior o seu tamanho, maior será a dor da perda.

[Bom descanso, pai. Me perdoe por não ter sido capaz de salvá-lo. Está doendo na medida exata: a maior do mundo. Te amo.]