Volto às sondagens políticas a fim de mostrar que, por várias razões técnicas e não só, elas nem sempre são suficientemente conclusivas como se tornam frequentemente inconclusivas e até mesmo contraditórias. Em boa parte, isso deve-se à dimensão habitualmente pequena das amostras e/ou à eventual abstenção de determinados grupos sociais, bem como às diferenças estatisticamente insuficientes entre os candidatos, seja entre os mais votados ou entre os menos.

É isso que se passa claramente com a sondagem divulgada pelo Observador, segundo a qual o PSD continua a apresentar vantagens em relação ao PS. Desde uma pequena diferença inferior a 2% entre menos de metade das intenções de voto expressas pelos dois principais partidos, os quais fazem em conjunto cerca de 46,5% (PSD=24,1% e PS=22,4%), qualquer vitória de um deles deixá-los-ia a grande distância de uma vitória folgada, não falando em «maiorias» de qualquer dos dois partidos mais votados…

À possível distância de novas eleições legislativas, seja qual for a evolução socioeconómica actualmente previsível do conjunto da população, não há evolução expectável acima de 2% anuais daqui até ao final de 2025. Como se tem visto com o actual governo, o PS não é capaz de gerir de forma efectiva e útil os «euros» que a UE continuará a imprimir enquanto não se resolver uma guerra que nem a Rússia nem os Estados Unidos podem perder! Também não há turismo que chegue para alimentar o pequeno comércio e, quanto ao imobiliário, não há «plano habitacional» em movimento!

Segundo a presente sondagem, há muito tempo que o PS não ultrapassa praticamente metade da percentagem que o eleitorado lhe deu no ano passado, abaixo de todos os candidatos anteriores à «maioria absoluta», pouco mais de 40% dos votos já lá vai ano e meio. Não serão as lamentáveis cenas internas do PS que farão renascer essa «maioria».

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tão grave ou mais é a actual situação do PSD, que passou de quase 29% há ano e meio para as actuais intenções de 24%… e uma grande incerteza para quase todos os pequenos partidos classificados pelas sondagens como de «direita». Quanto à «esquerda», todos sabem que o PS só atingiu a escassa «maioria» de 41% graças à «viragem» dos sectores esquerdistas, como o PCP e sobretudo o BE, que agora já promete mais de 9% dos votos…

É esta débil maioria socialista que se encontra há semanas sob a denúncia de falsidades e impropriedades que deveriam levar o actual primeiro ministro a desembaraçar-se imediatamente dessa ampla colecção de trapalhões por ele designada em vão para fazer brilhar as luzes da TAP renacionalizada por não se sabe quantos falsos iluminados. E todavia, António Costa devia lembrar-se de ter assinado, como ministro do governo Guterres, a venda da dita TAP à falida Swissair.

Entretanto, quem tem sido a causa e o efeito da enésima falência da TAP oriunda do «Estado Novo», juntamente com os seus apregoados gestores profissionais, é o bando de políticos ascendentes que veio do grupo do Sócrates para se juntar à «geringonça de má fama» e para renacionalizar a TAP entretanto despachada pela «troika» no governo de Passos Coelho após o inevitável afastamento do dito Sócrates.

É este o quadro que os partidos da actual oposição terão de enfrentar, eventualmente com a sustentação constitucional do Presidente da República, enquanto a actual «maioria absoluta» do PS prosseguir o seu comportamento errático, gravemente danoso e sustentado ideologicamente pelo suporte do PCP e do BE. Ora, a derrota eleitoral de Rui Rio, sem enquadramento nem qualquer base social fora o «bairrismo nortenho», entregou o PSD à improvabilíssima candidatura de um inesperado agente local.

Sem ofensa, o actual leader do PSD, Luís Montenegro, não parece possuir a necessária abordagem política à presente situação nem tão pouco mostrou capacidade para se projectar para além das naturais actividades locais. Tão pouco teve oportunidade de abordar de forma pessoal e enérgica a violenta conjuntura que Portugal está a enfrentar, juntamente com o resto do mundo, quer do ponto de vista económico e financeiro como do necessário interesse e conhecimento pela situação militar e geopolítica. Erros monumentais já têm sido cometidos pelo actual Presidente da República e pelo oportunismo do primeiro-ministro, cujas veleidades imperialistas fazem sorrir sem prazer enquanto Portugal recebe o Brasil e visita as «antigas colónias africanas…

O movimento político que parece estar a atravessar a Espanha na actual conjuntura fornece um quadro de regresso efectivo – e não meramente oportunista – à União Europeia e ao dinheiro grátis. Só para lembrar a inoportunidade de iniciativas como o transporte de combustíveis por mar através de um «canudo luso-espanhol», o qual segundo consta já ter sido abandonado pela UE… Em tempo de guerra, não é à toa que os países do Sul voltam a descobrir como estão longe da Europa.