Não foi surpresa o delírio e o deleite de parte da direita portuguesa com a revolta dos ‘coletes amarelos’ em França. Não é a primeira vez que escrevo das afinidades que a nova direita populista tem com o comunismo, tanto nos processos, como na imoralidade (o famoso e infame ‘os fins justificam os meios’ ou o uso e abuso de desinformação e propaganda), como no conservadorismo social.
De resto há um livro recente – e, aviso, este texto fala de livros e fala de classe – muito curioso que dá pistas para a passagem do comunismo para a Frente Nacional que os trabalhadores industriais e suas famílias fizeram numa cidade francesa. Retour à Reims (li a tradução inglesa), de Didier Eribon, permite-nos perceber que a viagem não foi assim tão grande. E também outra realidade, menos explícita e mais insidiosa: em Paris – tanto para as pessoas com que se relacionava como para o próprio autor – era muito mais fácil a aceitação da homossexualidade de Eribon do que a sua origem de classe trabalhadora. Mesmo nos meios progressistas de esquerda que, claro, tinham sempre o proletariado no coração (desde que não se relacionassem socialmente com ele, cruz credo, que seria?).
Porém, dizia, não surpreendeu que parte da direita delirasse e batesse palmas com a violência irredutível dos protestos em França. Esperam até que a violência não pare e seja destrutiva para as instituições francesas. Exatamente como Mário Soares e amiguinhos, durante o período de ajustamento, esfregavam as mãos de esperança que alguém agredisse o primeiro-ministro ou Presidente da República e justificavam as montras partidas e outras violências que ocorriam depois das manifestações da CGTP.
Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.