Paulo Portas juntou-se esta terça-feira à caravana da Aliança Democrática e, num discurso perante mais de duas mil pessoas, pediu aso eleitores moderados que ponderem bem antes de votarem em André Ventura (nunca nomeado ao longo da intervenção). “Não deixem que na política portuguesa se instale o vírus do ódio”, apelo o antigo vice-primeiro-ministro.

Sem nunca dizer o nome do Chega, referido apenas como “o tal partido extremista”, Portas tentou provar que André Ventura e o Chega não são digno das figuras que dizem servir como fontes inspiracionais, como Francisco Sá Carneiro ou Adelino Amaro da Costa.

“Nenhum deles jamais distinguiria os portugueses pela cor da sua pele, pela sua etnia, condição ou orientação. Não deixem que na política portuguesa se instale o vírus do ódio”, pediu Paulo Portas, recordando a mensagem do papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude. “Todos, todos, todos.”

Num plano mais partidário, Portas tentou provar junto dos eleitores moderados que André Ventura e o Chega não são de confiança. “Que sabemos deles? Que ameaçam fazer uma moção de rejeição contra a AD ainda as pessoas não votaram, pingue. Depois que suspendem a decisão, pongue. Depois ‘logo vejo caso a caso’, pingue. Agora não governam porque eu não deixo, pongue. Como é que alguém que se diz de direita pode votar nesta inconstância permanente?”, provocou o antigo líder do CDS.

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Num discurso de cerca de 40 minutos, muito aplaudido do início ao fim, o antigo vice-primeiro-ministro fez o mesmo exercício relativamente a Pedro Nuno Santos, usando as posições do socialista sobre cenários pós-eleitorais como arma de arremesso. “Não viabilizo um Governo da AD, zigue. Talvez viabilize um Governo da AD, zague. Retiro o que disse sobre viabilizar, zigue. Afinal não retiro nem mantenho o que tinha dito no dia anterior, zague”, enumerou. “Como pode o centro votar em Pedro Nuno Santos que muda de opinião dia sim dia sim sobre a questão da governabilidade de Portugal?”.

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“O que disse Luís Montenegro? ‘Governo se ganhar, aceito governar em maioria relativa se necessário e não haverá acordos com extremistas’. Estas três coisas qualquer pessoa sabe sobre Luís Montenegro. Com Luís Montenegro não haverá extremistas no Governo, com Pedro Nuno Santos haverá extremistas no Governo, é uma grande diferença”, rematou Paulo Portas.

Já antes, o antigo líder do CDS tinha acusado o PS de ter tentado “polarizar a campanha entre o socialismo de um lado e o extremismo do outro. Falharam porque apanharam pela frente uma grande marca política que nunca falhou uma eleição a que se candidatou, a Aliança Democrática. Queriam uma eleição entre socialistas e extremistas, não a vão ter. Vão ter uma competição entre os dois únicos blocos capazes de governar: um PS fracassado ao longo de oito anos e um centro-direita revigorado capaz de ganhar as eleições.”

Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador no jantar comício da AD nas Caldas da Rainha

Portas contra “ZigZag” do PS e “PingPong” do Chega

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros alertou também para a importância do contexto internacional para a tomada de decisão dos eleitores portugueses.“Será sábio em tempos de incerteza ter um governo com a presença em Portugal do PCP, que é pró russo, e do Bloco de Esquerda que é anti-NATO? Tenho muitas dúvidas”, notou o democrata-cristão, pedindo também aos eleitores que tivessem igual “cuidado com os amigos” e aliados europeus do Chega, referindo-se a Salvini na Itália e à AFD alemã.

“Estamos a poucos dias de uma eleição que é muito importante, em que os portugueses, se quiserem, dirão que estão cansados de um Estado-partido e que defendem e querem uma democracia com alternância”, afirmou. Mas as eleições ainda não estão decididas. A AD tem de ter força suficiente para ter previsibilidade e estabilidade na governação. Ninguém falou aqui em maioria, nem em euforia, mas em convencer as pessoas. Cuidado: não adormeçam sábado a pensar que este ciclo triste do PS vai acabar e não queiram acordar na segunda-feira com Pedro Nuno Santos como primeiro-ministro e uma geringonça a caminho porque em vez de votarem na AD, dispersaram o seu voto”, alertou igualmente Paulo Portas.

De resto, o jantar-comício das Caldas da Rainha ficou igualmente marcado pelo primeiro apelo direto de Luís Montenegro aos eleitores e aos potenciais eleitores do Chega. “Respeito aqueles que sentiram o impulso de dar força àquele partido. Compreendo que muita dessa força vem da revolta que muitas portuguesas e portugueses sentem. Não confundo esse partido e a sua liderança com esses eleitores. Sei que elas não são extremistas, racistas e xenófobas. E também sei que elas acham que o líder deste partido não vai resolver nada e que o programa deste partido não vai trazer soluções. É tempo de reponderarem”, pediu.

Montenegro deixa Ventura sozinho no “recreio” e tenta agora (re)conquistar os eleitores do Chega