Uma das vantagens da passagem do tempo é viabilizar o escrutínio da decisão política, seja porque são entretanto publicados os indicadores comparados que permitem essa análise, seja porque as consequências de determinadas decisões se tornam visíveis a olho nu. É a adaptação política do ditado popular de que mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo: de facto, demora um pouco mais de dois anos até que a informação disponível seja arrebatadora. Ou seja, uma governação alicerçada em ilusões vai ficando, com o passar do tempo, fragilizada pela confrontação com a realidade e os factos que desmentem promessas e expectativas. É esse o desafio actual da geringonça: à entrada do ano eleitoral, existem cada vez mais indicadores que contrariam as suas narrativas políticas.
Não faltam episódios que o demonstram e que põem em causa as grandes linhas políticas dos partidos que apoiam o governo. Por exemplo, após reiteradas promessas de virar a página da austeridade, é hoje absolutamente evidente que a contenção orçamental está a esmagar os serviços públicos e a prejudicar sobretudo a população mais desfavorecida (a que mais depende dos serviços públicos). Por exemplo, ao contrário das expectativas, estes anos de crescimento económico têm sido também anos recordistas em carga fiscal, que nunca esteve tão elevada, e de diminuição histórica do investimento público, que bateu no fundo. Por exemplo, mesmo que o primeiro-ministro faça loas à devolução dos rendimentos e garanta que a economia portuguesa está a convergir com a UE, os números mostram o contrário: o poder de compra relativo dos portugueses em 2017 é inferior ao em 2016, e cada vez Portugal vai afundando mais na lista de países europeus.
Mas se isto é tudo a nível macro, também nas áreas sectoriais da governação se observa o mesmo confronto entre o discurso das promessas e realidade dos incumprimentos. Não é só na Saúde, onde é sabido há vários meses que o sistema está a colapsar, sendo agora os sinais indisfarçáveis, ou na Segurança Social, área na qual as queixas se acumulam. É transversal, alargando-se também a outras áreas menos discutidas sob esta perspectiva, como a Educação e a Ciência.
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