A demonização e o deslumbramento dizem-nos pouco sobre os protagonistas políticos. Nos corredores da direita, que são os meus, Pedro Nuno Santos é um radical de esquerda, um eurocético desmedido, filho de um ex-MRPP (quem não?), encantador dos extremismos da nossa Assembleia e amante das mais revolucionárias tentações. Foi, afinal, o empreiteiro da ‘geringonça’, o que não se perdoa. Até entre os senadores do seu partido há um certo receio sobre o futuro devido a essa radicalização dos jovens turcos – entretanto feitos jovens governantes. E tão bom que seria, para nós, que o Partido Socialista, em vez de ser o Partido Socialista, viesse a ser tudo isso. Ora, a direita pode continuar a sonhar com a facilidade de um PS ideologicamente descontrolado, mas temo que os nossos próximos adversários sejam muito menos daquilo que parecem. O que se passa no PS não tem nada a ver com ideologia: tem a ver com poder e tem a ver com personalidades.
Não é, nesse sentido, possível falar sobre o Partido Socialista (poder) sem olhar para Mário Soares (personalidade), havendo em ambos uma dose de situacionismo e previsível imprevisibilidade que desaconselha o rótulo. Soares, como biografou Joaquim Vieira, teve um percurso tudo menos linear: “foi comunista antes de ser anticomunista, foi contra a NATO antes de subscrever a Carta do Atlântico, foi defensor da nacionalização dos setores económicos estratégicos antes de condenar a sua execução”.
Este elogio da superficialidade – termo do biógrafo – como algo inerente à política é uma boa janela para analisar Pedro Nuno Santos e o que será da esquerda no médio prazo. Se mudarmos de espectro e nos reaproximarmos no tempo, Vasco Pulido Valente concedeu uma entrevista ao DN, em janeiro deste ano, cujo nome mais referido foi, para eventual pasmo do próprio, Pedro Nuno Santos. Ver o cronista da República oferecer tamanha atenção a um secretário de Estado não deixou, à data, de aparentar simbolismo. Disse o historiador que o discurso de Pedro Nuno é “de muitas maneiras pertinente e com uma certa visão do futuro”, “que entende o mundo em que vive”, constatando “a importância que tem vindo a ganhar no PS” e, em apoteose, considerando que Pedro Nuno “responde mais à sociedade que temos do que qualquer outro político em Portugal”. Recito: “do que qualquer outro político em Portugal”. Não o subestimem.
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