O Plano de Recuperação e Resiliência com fundos da União Europeia não vai servir para recuperar a economia. Vai ser usado para reforçar o Estado socialista e o domínio deste sobre a economia e a sociedade portuguesas. Ou seja, será dinheiro mal gasto e prejudicial para o país e os portugueses.

O grosso dos fundos irá para gastos do Estado e para investimento público. Antes de mais, o dinheiro de Bruxelas será gasto a servir os interesses da clientela socialista, cada vez maior e, portanto, mais cara. Há eleições em 2023, e o dinheiro ajuda a ganhá-las. O governo também acredita que o investimento público estimula a procura interna e, assim, o crescimento económico. Sei que será necessário investir no Serviço Nacional de Saúde e na educação. Mas o resto do investimento público não vai ajudar o crescimento da economia. Poderá constituir um estímulo económico imediato, mas não ajudará a construir os fundamentos de uma economia dinâmica a médio e longo prazo.

Até as empresas que terão benefícios a curto prazo, através de contratos com o Estado, acabarão por enfrentar consequências negativas. Por exemplo, uma empresa em que cerca de 70% das receitas tem origem em contratos com o Estado é muito diferente de outra em que apenas 20% das receitas resulta de investimento público. A segunda é uma empresa mais saudável e com melhores perspectivas de crescimento do que a primeira. Perguntem a qualquer investidor com sucesso em qual das empresas colocaria o seu dinheiro. Ora, o plano de reforço do Estado socialista vai aumentar o número do primeiro tipo de empresas e em nada ajudará o segundo tipo de empresas. Mas o aumento da dependência das empresas em relação ao investimento público tem outra consequência desastrosa: reforça o peso do Estado sobre a economia portuguesa.

Os problemas do governo socialista não se resumem aos interesses dos seus. Há outra questão muito séria. Os socialistas não conseguem mesmo pensar a economia de outro modo. Nunca ouvi um membro do governo ou do PS sugerir que se criassem fundos de “venture capital” para ajudar start ups. Também nunca ouvi qualquer sugestão para se financiar directamente empresas de média dimensão com qualidade e com margem de crescimento, sobretudo através das exportações. Até entenderia que o Estado cobrasse juros mínimos por esses empréstimos, apesar de receber o dinheiro de graça de Bruxelas, se isso ajudasse a criar e a consolidar empresas nacionais com qualidade para concorrer nos mercados internacionais. Mesmo com juros, seria um uso de capital muito mais benéfico para a economia portuguesa, para a riqueza do país e para a qualidade do emprego, do que os investimentos públicos socialistas.

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O programa de recuperação seria vantajoso para o país se ajudasse o aparecimento de novas empresas digitais portuguesas; de empresas que construíssem novas tecnologias para a energia solar e eólica, ou para uma maior eficiência energética, ou para as cadeias de produção de carros eléctricos; a investigação industrial no sector farmacêutico (com tradição em Portugal); o aumento da produção agrícola; a exploração dos recursos marítimos; o crescimento da indústria de madeira e da cortiça, cuja utilização será cada vez mais diversificada, ou da indústria dos plásticos e dos moldes sustentáveis; e ainda outros sectores de produção onde há excelência em Portugal. Mas desconfio que nada disto será feito.

Aliás, o governo nem sequer discutiu seriamente o Plano de Recuperação e Resiliência com o principal partido da oposição, o PSD, que tem boas ideias para a recuperação da economia nacional. O que, de resto, contraria as recomendações da União Europeia.

Posso garantir-vos. O dinheiro que vem de Bruxelas não vai apoiar o aparecimento e o crescimento das chamadas empresas de inovação, digitais e de novas tecnologias industriais. E não vai acontecer por uma razão muito simples: o governo socialista não acredita na iniciativa privada, nem na liberdade económica. Em suma, não acredita na capacidade dos portugueses para criarem riqueza livremente. Quase meio século depois do 25 de Abril, os portugueses continuam a não ter liberdade para construir a sua economia, as suas empresas, para testar a suas ideias e a sua iniciativa. É triste, muito triste.

Para os socialistas, o Estado é o princípio e o fim da economia.  Vão usar receitas do século XX, que falharam, para desafios económicos e sociais do século XXI. As ideias erradas dos socialistas sobre a economia vão levar, mais uma vez, a um enorme desperdício de fundos europeus. Quando chegarmos ao fim do PRR, Portugal estará mais pobre do que hoje, em termos relativos europeus. É necessária muita arrogância, muita teimosia, muita ignorância e a satisfação de muitos interesses para transformar tantos fundos europeus em mais pobreza em vez de mais riqueza. Como é possível que passados tantos anos, os portugueses ainda não tenham percebido que a pobreza é o destino do socialismo? Se um dia a pobreza desaparecesse, ou diminuísse bastante, já não seria possível justificar este enorme Estado socialista. O socialismo e a pobreza são as duas faces da mesma moeda. Pobres portugueses, condenados ao socialismo.