Preferia não ter de escrever este texto – mas não posso deixar de o fazer. Não posso porque há limites para a mistificação. E não posso porque as “vergonhas” dos últimos dias são apenas um sinal de que o país continua doente.
Primeiro que tudo, as “vergonhas”. Já vi muita gente espantar-se por só agora, três anos e meio depois daquela detenção no aeroporto de Lisboa, ela ter chegado às mais altas cúpulas do Partido Socialista, assim de repente, como se uma luz tivesse descido do céu e iluminado de repente o que estava à vista de todos os que não se recusavam a ver. Já vi até elogiar a coragem da antiga namorada que veio dizer alto, e com maior ênfase, o que já deixara escapar antes com menos veemência: que Sócrates mentiu, mentiu, mentiu.
Peço desculpa, mas o atraso não é de três anos e qualquer coisa. A cegueira é muito mais antiga, muito mais teimosa e muito mais cúmplice. Tão antiga e tão teimosa que, anos e anos a fio, sempre que surgia um novo caso, o que se ouvia era um coro sobre “campanhas negras” dirigidas contra “o político mais escrutinado da história da nossa democracia”. Sim, eu não me esqueço.
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