Na última semana de campanha os candidatos gastaram os últimos cartuchos. Dos programas televisivos às arruadas, as declarações variaram nos temas e no grau de veracidade. O porta-voz do Livre recordou o episódio polémico em que o Vox de Santiago Abascal que veio fazer campanha pelo Chega divulgou mapas de Espanha e Portugal sem fronteiras, com a mensagem subliminar da agregação dos dois territórios.

O líder do PS viu-se confrontado com o seu passado na TAP em pleno horário nobre e deu o dito por não dito em relação a despedimentos. Luís Montenegro queria utilizar os dados relativos à idade tardia de saída de casa dos pais para provar o ponto da necessidade de redução do IRS aos jovens, mas citou dados desatualizados da média de idade com que os jovens portugueses voam do ninho.

Inês Sousa Real, no penúltimo dia de campanha, juntou o Livre ao Chega e à Iniciativa Liberal no que toca à aposta na energia nuclear. Já André Ventura, aproveitou a celebração do dia internacional da mulher para acusar PS e PSD, que governaram nos últimos 50 anos, de colocar Portugal na cauda da Europa no alcance da igualdade de género.

Vox de Santiago Abascal partilhou imagem em que Espanha anexava território de Portugal?

Há uns tempos, o Vox mostrou um mapa da Península Ibérica onde as fronteiras de Portugal tinham desaparecido, porque há muito dentro do nacionalismo espanhol quem ache que o nosso país é um equívoco e que a Espanha una seria a península ibérica toda”

Rui Tavares, porta-voz do Livre

Na quarta-feira, em campanha junto à embaixada da Rússia, Rui Tavares reagiu à presença de Santiago Abascal no comício do Chega, em Olhão, que viria a acontecer no dia seguinte. “O Chega já tem o apoio de Viktor Órban que é o político mais corrupto da União Europeia segundo várias organizações internacionais”, começou por apontar. Sobre o partido espanhol, recordou uma história antiga. “Aqui há uns tempos o Vox mostrou um mapa da Península Ibérica onde as fronteiras de Portugal tinham desaparecido, porque há muito dentro do nacionalismo espanhol quem ache que o nosso país é um equívoco e que a Espanha una seria a península ibérica toda”.  No dia seguinte ao episódio, lembra Tavares, Ventura até “foi para Espanha encontrar-se com Santiago Abascal”. “Onde é que está o patriotismo e o brio?”, questiona.

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[Já saiu o segundo episódio de “Operação Papagaio” , o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir o primeiro episódio aqui]

A informação é verdadeira, como noticiado pelo Observador em 2020. Na altura, o Vox parece não só estava descontente com a ideia da independência da Catalunha, em Espanha, como também parecia ambicionar a agregação de Portugal ao território espanhol. Pelo menos era o que indicava a ilustração de um mapa que fazia parte da divulgação dos protestos contra a independência da Catalunha.

E o episódio não é isolado. Um ano depois, em 2021, o Vox voltou a partilhar uma imagem da dinastia filipina onde Portugal surge anexado por Espanha. Foi o próprio André Ventura quem pediu explicações à força partidária espanhola, que defendeu que apenas pretendia mostrar que os dois países “são mais fortes quando estão juntos”. “A mensagem que se pretende transmitir foi aquela que Santiago Abascal transmitiu em Lisboa, ao meu lado, no encerramento da campanha do Chega: que Portugal e Espanha são mais potências, são mais fortes, quando estão juntos, e não quando estão separados”, salientou.

Na altura, André Ventura acrescentou também que Santiago Abascal lhe transmitiu que a aliança entre o Vox e o Chega é uma “aliança profunda, estrutural e estruturante”, que “nada irá quebrar”.

Conclusão: CERTO

Pedro Nuno Santos não defendeu que “não haveria redução no pessoal da TAP”?

“Eu quando disse que os despedimentos não eram inevitáveis, não estava a dizer que não haveria redução no pessoal da TAP”

Pedro Nuno Santos, líder do PS

Foi um dos momentos mais mediáticos da semana do líder do PS, no sprint final para as eleições de 10 de março. Pedro Nuno Santos foi convidado para um programa humorístico na SIC e viu-se confrontado com o passado na Pasta das Infraestruturas, na qual se integra a TAP.  Respondeu a Ricardo Araujo Pereira, perante uma provocação: “Eu quando disse que os despedimentos não eram inevitáveis, não estava a dizer que não haveria redução no pessoal da TAP. Isso tinha que haver, era um processo de reestruturação”, defendeu.

Mas nem sempre foi essa a ideia que o agora candidato a primeiro-ministro apresentou aos portugueses. Em primeiro lugar, relembrar que a 8 de junho de 2021, a TAP iniciou o processo de despedimento coletivo, abrangendo 124 colaboradores, dos quais 35 pilotos, 28 tripulantes de cabina, 38 trabalhadores da manutenção e engenharia e 23 funcionários da sede. Processo, aliás, que foi considerado ilegal em outubro de 2023 pelo Tribunal do Trabalho.

Já em relação às alegações de Pedro Nuno Santos, a verdade é que defendeu sucessivamente — e desde a pandemia que deixou e crise o setor da aviação — que os despedimentos na TAP não tinham “de ser inevitáveis” para reestruturar a TAP. Em junho de 2020, considerava que o processo teria de contar com a participação dos sindicatos.

E acrescentava: “Uma crise é também uma oportunidade. Tínhamos uma empresa com alguns problemas. Podemos ter aqui uma oportunidade para fazer um reset, conseguirmos ter a empresa em condições para enfrentar o futuro, servir o país e preservar os empregos. Essa é uma preocupação que nós temos. Podem ter a certeza que qualquer processo de reestruturação terá no centro das preocupações os trabalhadores da TAP são aqueles que fazem a TAP o que ela é”, referiu.

A mesma ideia foi repetida em declarações públicas posteriores do então ministro, que viria a demitir-se em dezembro de 2022 também por causa da empresa de aviação e da indemnização paga a Alexandra Reis.

Conclusão

ERRADO

Idade média da saída de casa dos pais pelos jovens portugueses é de 34 anos?

A ideia é que os jovens consigam sair de casa dos pais mais cedo e que não tenham de esperar pelos 34 anos, que é a média dos jovens portugueses para saírem de casa [dos pais] e se tornarem independentes”.

Luís Montenegro, líder do PSD

A caravana eleitoral da Aliança Democrática andou a Norte na última semana da campanha eleitoral. Em Gondomar, depois de estar reunido com empresários locais, o líder da coligação que junta PSD, CDS e PPM desafiou os jovens portugueses a “acreditarem mais em Portugal e em não cederem a um caminho que infelizmente foi sendo criado nos últimos anos” e que os leve a abandonar o país que os viu nascer.

Aproveitou para promover a medida de redução do IRS para jovens. “Um jovem que comece a trabalhar aos 20 anos sabe que até aos 35 anos terá um desagravamento da carga fiscal sobre o trabalho durante 15 anos”, assinalou, referindo a importância de permitir que os “jovens consigam sair de casa dos pais mais cedo e que não tenham de esperar pelos 34 anos, que é a média dos jovens portugueses para saírem de casa [dos pais] e se tornarem independentes”.

De acordo com os dados mais recentes do Eurostat, referentes a 2022 e divulgados em setembro de 2023, os jovens em Portugal saem de casa dos pais, “em média, aos 29,7 anos”. Valor acima da média da União Europeia, de 26,4 anos. Como refere a entidade europeia, na avaliação por género, os homens têm tendência a sair mais tarde de casa. Em nove países da UE, grupo no qual se inclui Portugal, os homens saem de casa depois dos 30 anos.

No entanto, e ao contrário do que refere Luís Montenegro, a média geral deste indicador não chega, atualmente, aos 34 anos. Trata-se de uma informação desatualizada, os dados a que o líder da AD se refere remontam a 2021.

Conclusão

ERRADO

Chega, IL e Livre defendem desenvolvimento da energia nuclear como solução para atingir neutralidade carbónica?

Mesmo com um contexto estrutural de seca como temos, partidos como o Chega, a Iniciativa Liberal e o Livre continuam a achar que a energia nuclear é a solução para atingir a neutralidade carbónica”

Inês Sousa Real, porta-voz do PAN

No jantar-comício do PAN, em Lisboa, Inês Sousa Real dedicou-se às críticas que chegaram para todos. Na noite de quinta-feira voltou a lembrar a maioria desperdiçada socialista, que criticou ao longo da campanha e até conseguiu colar o Livre — seu concorrente direto eleitoral — aos dois partidos mais à direita do Parlamento. “Mesmo no contexto estrutural de seca como temos, partidos como o Chega, a Iniciativa Liberal e o Livre continuam a achar que a energia nuclear é a solução para atingir a neutralidade carbónica”, afirmou.

Confirma-se que o trio de partidos improvável tem, no seu programa às Legislativas de 10 de março, a defesa da exploração de energia nuclear?

Comecemos pelo Livre, no seu programa a expressão “energia nuclear” surge na página 94, associada ao ponto 30, intitulado “gerir o risco nuclear para Portugal, em particular o risco de poluição radioativa no rio Tejo, cooperando com a Espanha no sentido de desenvolver um plano para níveis mínimos de risco nuclear na Península Ibérica”. O Livre quer “seguir atentamente o desenvolvimento de novas tecnologias de produção de energia nuclear (como os small modular reactors, ou a fusão nuclear), que poderão contribuir para a descarbonização, assim como dar resposta ao crescente consumo energético”.

No entanto, esta não é a medida principal apresentada pelo Livre para atingir a neutralidade carbónica. O Livre defende uma aposta “ambiciosa e continuada nas fontes de energia renováveis, indo para além das metas assumidas atualmente e que colocam a introdução de renováveis no consumo final bruto de energia em apenas 47% para 2030, ambicionando muito mais do que os 20% assumidos para o setor dos transportes; concretizando 100% de renováveis na eletricidade consumida em Portugal em 2030″. Ou seja, a aposta na energia nuclear é apresentada como supletiva ao investimento na energia nuclear.

O Chega, no seu programa político, elege “cinco prioridades fundamentais que pretendem exponenciar as potencialidades energéticas do nosso país, rico em recursos, pugnando também pela responsabilidade e pelo cuidado com o bem-estar dos portugueses”. O partido de Ventura quer a “promoção de fontes de energia limpa e renovável, ao mesmo tempo” que quer explorar “as oportunidades endógenas para fortalecer a economia através do sector energético”.

“Neste sentido, a energia nuclear, enquanto modalidade de produção energética, na senda da inovação e evolução tecnológica, pode representar para Portugal uma viragem paradigmática na forma como encaramos os desafios energéticos”, destaca-se no programa, propondo-se a “modernização dos reatores nucleares, nomeadamente os reconhecidos SMRs (Small Modular Reactor), aliados a uma nova geração de tecnologias, oferece um vasto leque de benefícios que transcendem a mera produção de energia”.

Já a Iniciativa Liberal defende uma “geração elétrica à base de energia nuclear” que represente “hoje a maior contribuição de energia livre de emissões de todas as fontes energéticas no contexto europeu”. “A Iniciativa Liberal vê com bons olhos o renascimento das intenções de investimento em energia nuclear anunciadas na maior parte dos seus parceiros da União Europeia, incluindo a emergência das novas modalidades de produção de energia nuclear em unidades mais pequenas (SMR), ainda em desenvolvimento”, revela no seu programa, numa secção dedicada a defender o nuclear na Europa e estudar a sua viabilidade em Portugal.

Assim, apesar de ser verdadeiro que os três partidos defendem o desenvolvimento da energia nuclear em Portugal, não é verdadeiro que os três olhem para esta fonte energética como a solução principal “para atingir a neutralidade carbónica”.

Conclusão:

ESTICADO

PS e PSD deixam um “legado que deve ser dos piores da Europa” em relação a igualdade de género?

“Eles gostam de encher a boca com direitos e igualdades, de distribuir cravos às mulheres, mas quando chega ao que importa, salários, progressão na carreira, cargos de topo e políticos já não lhes interessa tanto e deixam um legado que deve ser dos piores da Europa”

André Ventura, líder do Chega

No Dia Internacional da Mulher, André Ventura dirigiu-se a elas e diss que se hoje “têm um país que não é para elas deve-se aos partidos que governaram Portugal nos últimos 50 anos, PS e PSD”. “Eles gostam de encher a boca com direitos e igualdades, de distribuir cravos às mulheres, mas quando chega ao que importa, salários, progressão na carreira, cargos de topo e políticos já não lhes interessa tanto e deixam um legado que deve ser dos piores da Europa”, afirmou.

O Instituto Europeu para a Igualdade de Género no Índice da Igualdade de Género (EIGE) revela todos os anos o Gender Equality Index, que mede a progressão dos países-membro em relação à igualdade de género. Com 67,4 pontos em 100, Portugal ocupa o 15.º lugar na UE no Índice de Igualdade de Género. A sua pontuação é 2,8 pontos inferior à pontuação da UE no seu conjunto. Para o apuramento do índice são tidos em conta indicadores de violência, trabalho, saúde, dinheiro, conhecimento, tempo e poder.

Desde 2010, a pontuação de Portugal aumentou 13,7 pontos, principalmente devido a melhorias nos domínios do tempo (+ 29,1 pontos) e do poder (+ 22,5 pontos). Outra nota de destaque do relatório de análise à informação estatística de 2021 vai para a evolução recente do indicador que, desde 2020, viu a pontuação de Portugal aumentar 4,6 pontos, o que constitui uma das maiores melhorias entre os Estados-Membros para este período. Este facto pode ser atribuído a melhorias nos domínios do tempo (+ 20,3 pontos) e do trabalho (+ 3,1 pontos).

Em suma, a ideia que André Ventura transmite não é baseada nas estatísticas europeias, que demonstram uma clara evolução de Portugal em sentido favorável no que respeita à melhoria dos indicadores que medem a igualdade de género ao nível europeu.

Conclusão

Enganador