Numa altura em que a retirada das tropas americanas da fronteira entre a Síria e a Turquia abriu a porta à ofensiva turca sobre os curdos no nordeste do país, as autoridades políticas da região — a Administração Autónoma do Norte e Leste da Síria, ou Rojava para os curdos — intensificaram o lóbi junto do Ocidente para pedirem proteção e ajuda na identificação de uma solução política para um conflito que completa agora oito anos. Nazira Goreya, co-presidente do conselho executivo de Jazira, uma das regiões que compõem a Administração Autónoma, esteve na semana passada em Portugal para se reunir com PSD, CDS e Bloco de Esquerda, no âmbito de uma tour pelos parlamentos nacionais da UE e pelo Parlamento Europeu.
Numa entrevista ao Observador, depois das reuniões com os partidos na Assembleia da República, Nazira Goreya, assegurou que os políticos europeus estão solidários com a região. “Compreendem o que estamos a fazer e percebem que estamos a tentar aplicar no terreno um modelo de democracia para a região”, afirma. Mas o objetivo da viagem foi mais concreto: assegurar que Portugal e os restantes países da UE apoiam o fecho do espaço aéreo na zona dos confrontos, a inclusão das autoridades do nordeste sírio nas negociações de paz e até o envio de militares para garantirem a segurança em ambos os lados da fronteira. Sem revelar o que ouviu da boca dos deputados portugueses, Nazira Goreyay assegurou apenas: “Acreditamos que temos amigos entre vocês”.
Natural de Qamshili, uma cidade na fronteira entre a Síria e a Turquia que tem sido um dos palcos do confronto e onde se registaram vítimas mortais logo no primeiro dia da ofensiva turca, Nazira Goreya (que é uma cristã assíria, da Igreja Siríaca, e que aproveita precisamente a sua etnia para sublinhar uma e outra vez que aquela região não é habitada apenas por curdos) classifica o ataque como “uma opressão e uma invasão” e acusa os EUA de terem dado “luz verde” a[o Presidente turco, Recep Tayyip] Erdoğan para atacar a Síria com a retirada militar. Para Nazira, que é também dirigente da União das Mulheres Siríacas, o Presidente turco criou “a ideia de que irá ou deixar os refugiados sírios entraram todos na Europa ou enviá-los de volta para a Síria” — e “essa ameaça contra a Europa tem sido eficaz”, pelo que “ninguém disse o suficiente para impedir Erdoğan de fazer isto”.
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