O comentariado sobre a prática e sobre o legado político de Pedro Passos Coelho foi sempre – sempre – feito em torno de citações inexistentes ou, no jargão jornalístisco, em off. «Íamos além da troika» nos impostos, quando o próprio só queria reformar mais do que o acordado no memorando; «o Diabo vinha aí», quando não há uma única (uma única, por amor de Deus) declaração de Passos que contenha a diabólica profecia. Alguém disse que alguém disse que ele disse. E, claro, alguém escreveu. E, igualmente claro, o comentariado adorou. Afinal, beneficiava a narrativa. E, para tantos, convinha que Passos fosse isso: a “austeridade” como ideologia, o “pessimismo” como mania.

Hoje, quase uma década depois da quase bancarrota, o costume prevalece. Ana Sá Lopes, a mulher com quem mais aprendi jornalismo, assinou esta semana um editorial no Público cujo primeiro parágrafo não deixa margem para dúvidas. “Quem tinha saudades dos discursos de Pedro Passos Coelho consolou-se um bocadinho com o presidente do PS, Carlos César”. Novamente invocando o amor do Senhor, inquiro: alguém que respeite Passos seria alguma vez consolado por essa indignidade andante chamada Carlos César? Sinceramente, creio que não. Mas adiante. Reservemo-nos à política.

Para Ana Sá Lopes, quando César diz que “se fôssemos atrás do estilo aventura, de que tudo é fácil, que tudo é barato, voltávamos ao tempo da bancarrota”, tal representa, escreve a jornalista, “o discurso do ‘vem aí o diabo'”. E Sá Lopes vai mais longe: “a expressão ‘contas certas’ que foi o mantra da campanha [do PS] para as europeias já tinha tido essa inspiração”. Presuma-se, portanto, uma inspiração passista.

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