E terminou o Mundial de Futebol. Terminou com estrondo, diga-se. Pela vitória espectacular da Argentina na final? Enfim, talvez também um bocadinho por isso. Mas quem deixou marca indelével na recta final da competição não foi tanto o Messi, mas mais a nossa Assembleia da República. É verdade que o craque argentino subiu aos píncaros do mundo futebolístico com a conquista do troféu. Mas, em contrapartida, o parlamento desceu abaixo de Mar Morto com a condenação, in extremis, do Mundial do Qatar, a dois jogos do fim do torneio.

Tenham paciência. Emoção à séria não foi o Argentina-França. Emoção à séria foi esta resolução dos nossos parlamentares, mesmo em cima do apito final do Mundial do Qatar. Aliás, a decisão foi tão em cima do fecho da competição, que quase era preciso recorrer ao VAR para confirmar se teria sido ainda em tempo regulamentar. No fim das contas, acabou por revelar-se desnecessária a intervenção do Video Assistant Referee nesta intervenção da Vergonhosa Assembleia da República.

Tudo isto enquanto, nas últimas semanas, descobrimos que o Qatar andou a comprar decisões na Europa, corrompendo o Parlamento Europeu. Confesso não saber, ao certo, o que o Qatar andou a comprar, mas achei cândida a tentativa dos nossos responsáveis políticos venderem-nos a ideia de que abominam o Qatar. Isto depois da ponte aérea entre Portugal e o estado qatari para que tudo o que fosse Marcelos, Costas, Santos Silvas e Anas Catarinas Mendes pontificasse nos jogos da selecção nacional. Pontificaram, sim, mas fortemente contrariados, atenção! Que via-se que eles estavam ali de raiva, a visionar todas as incidências das partidas, mesmo como quem está raivoso.

Olha, vai-se a ver e foi a repulsiva deslocação ao odioso Qatar que deixou António Costa no estado de cansaço em que confessou, à revista Visão, andar. Uma coisa é garantida. Só pode ter sido a esta viagem que Costa se referia quando mencionou os últimos “nove meses de inferno e correria”. Porque são do conhecimento geral as temperaturas infernais que se fazem sentir, por esta altura, no Qatar. Destino que, ainda por cima, fica longe. Para Costa lá chegar tinha de ser conduzido pelo motorista até ao aeroporto, daí seguir em jacto privado até ao Qatar, depois voltar de jacto privado a Portugal para, enfim, ser levado pelo motorista até casa. Que estafa, senhores.

Não admira, portanto, que o nosso primeiro-ministro se confesse cansado e com sono. Ainda assim, se há coisa que o sono não tira a Costa é a soberba. Em contrapartida, a soberba de Costa é coisa para tirar o sono a qualquer indivíduo. Nomeadamente, após a notícia do apoio de 240€ às famílias carenciadas. Apoio que confirma que Portugal é mesmo um país péssimo para ter um negócio. É um verdadeiro pesadelo ser patrão por estas paragens. Veja-se o que nos está a suceder com o funcionário que colocámos a primeiro-ministro: ganhamos menos com o trabalho dele do que se fôssemos funcionários da Sonae. Enquanto empregados do Continente teríamos, todos, direito a um apoio de 500€.

A única coisa que faz sentido no meio disto tudo é a declaração do primeiro-ministro que serviu de título à entrevista na Visão: “Vão ser quatro anos. Habituem-se.” Disse o líder do governo. Que é uma dica a ter em conta, pois não é à toa que se diz que “o hábito faz o monge”. É mesmo necessária paciência de santo para tolerar este tipo de intervenção de António Costa.

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