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Eleições na Grécia: Aposta de Tsipras ou risco calculado?

Quinta eleição em 6 anos, a segunda em apenas um ano. Tsipras avançou para eleições em altura de convulsão interna no seu partido e de ter aceite tudo o que rejeitava. Arrisca-se a ganhar.

Quando, em dezembro de 2014, Antonis Samaras decidiu forçar no Parlamento a eleição do Presidente da Grécia, dois meses antes do tempo, já sabia que não ia ter o apoio de que precisaria – e que falhar significava eleições antecipadas, como estipula a Constituição grega.

Depois da vitória do Syriza nas eleições antecipadas de maio de 2014, Samaras queixava-se de uma constante perturbação da governação pela chamada coligação de esquerda radical e queria ver o seu mandato legitimado. Com um Governo de coligação com o PASOK e com as sondagens contra si, Samaras colocou as fichas na mesa e apostou tudo. Perdeu.

Há menos de sete meses no Governo, Alexis Tsipras decidiu fazer a mesma aposta. Mas, ao contrário do que se passava há sete meses, contra uma parte do seu próprio partido, com o apoio da Europa e depois de fazer praticamente tudo o que prometeu não fazer. Aposta irresponsável ou risco calculado?

Tsipras apresentou esta quinta-feira a demissão ao Presidente da Grécia

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Limpar o partido

Depois de meses de um intenso duelo com a Europa e o FMI, de um referendo onde pediu um Não e venceu, e de acabar por aceitar um programa bem mais duro, Alexis Tsipras viu-se a braços com uma rebelião interna.

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Cerca de um terço do seu partido, em particular a parte afeta à Plataforma de Esquerda – a fação mais radical do Syriza -, está contra o resgate que Alexis Tsipras assinou com a Europa e tem votado contra as medidas no Parlamento. Na última votação, 43 dos 149 deputados do Syriza estiveram contra as orientações do Governo.

A maioria que conseguiu a 25 de janeiro deste ano deixou de existir. Tsipras tem dependido dos partidos mais ao centro, os mesmos com os quais não se quis coligar, para aprovar as medidas. Nova Democracia, PASOK e To Potami têm-se revelado aliados inesperados de Tsipras.

A Plataforma de Esquerda, que está a ser liderada pelo antigo ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis (o mesmo que tinha um plano para tirar a Grécia do euro, apreender as reservas de notas do banco central e até prender o governador do banco central se ele se insurgisse contra o plano), decidiu sair do Syriza e levar consigo 25 deputados. Querem ir a votos nas próximas eleições e até lá têm o terceiro maior grupo no Parlamento grego. O manifesto é claro: contra o programa, contra a austeridade, contra a política dos anteriores governos… e do atual.

Lafazanis e Varoufakis já fora do Governo, a votarem contra as propostas do Governo

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Na lista dos revoltados estão ainda mais três figuras influentes. O ex-ministro do Trabalho, Dimitris Stratoulis, que está no mesmo movimento que Lafazanis.  Yanis Varoufakis, que tem votado contra Tsipras e dá entrevistas regulares a criticar a troika e o programa, já garantiu que não integrará um Governo ou um partido cujo mandato seja implementar o programa acordado com os credores internacionais. A polémica Presidente do Parlamento grego, Zoe Konstantopoulou, também sido uma opositora das propostas do partido, mas nem ela, nem Varoufakis vão integrar o novo partido.

Oposição não assusta

Se a luta interna promete ser dura, de fora não parecem surgir grandes ameaças. No que ao estado de saúde dos restantes partidos diz respeito, o timing para as eleições antecipadas dificilmente poderia ser melhor.

A Nova Democracia é agora liderada por Vangelis Meimarakis, que assumiu a liderança do partido após a vitória do Não no referendo do início de julho, quando Antonis Samaras se demitiu. Mas apesar de ser o segundo partido com mais deputados e com mais intenções de voto, os números não estão a seu favor.

Vangelis Meimarakis quer formar Governo e evitar eleições antecipadas, mas não dificilmente terá sucesso

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Numa média das últimas três sondagens, compiladas pelo eklogica.gr, a Nova Democracia surge com pouco mais de 20% nas intenções de voto, bem abaixo dos 27,8% conseguidos nas eleições de janeiro, onde ficou com menos de metade dos deputados do Syriza.

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O segundo maior partido da Grécia continua em convulsão interna, à procura de um novo líder e a tentar limpar a imagem deixada por Antonis Samaras no último Governo, em que esteve coligado com o PASOK. Agora, Meimarakis até pediu, e obteve autorização, para tentar formar Governo e evitar eleições antecipadas, mas a probabilidade de conseguir uma maioria e conseguir formar um Governo estável é praticamente nula.

O PASOK, que fez parte dos últimos Governos, continua marcado pelo período de liderança de George Papandreou, o primeiro-ministro que pediu ajuda e implementou grande parte das medidas mais duras, e de Evangelos Venizelos, que integrou os últimos governos, e continua com números muito fracos. Quase falhou a eleição para o Parlamento de qualquer deputado em janeiro (mínimo obrigatório é 3%) e não melhorou muito desde então, continuando entre os 3% e os 4%.

Melhor colocado está o To Potami. O partido mais ao centro, formado apenas para as legislativas de janeiro de 2015, ficou empatado em terceiro com o mesmo número de deputados da Aurora Dourada (o partido neonazi que tem perdido votos na sequência de vários escândalos de corrupção), está agora em terceiro com mais vantagem, ainda que não muita, face ao partido de extrema-direita.

Os Gregos Independentes, que formam Governo com o Syriza, até têm conseguido manter o nível de intenções de voto, mas em níveis praticamente iguais aos do PASOK, com os restantes partidos quase fora do radar das sondagens. As intenções de voto na Esquerda Democrática de George Papandreou, o ex-primeiro-ministro na altura do primeiro resgate, são praticamente inexistentes.

A Europa finalmente a favor?

Ventos estranhos sopram da Europa para a Grécia. Depois de acordado o terceiro resgate, da primeira parte da primeira tranche ser transferida para a Grécia e de grande parte das medidas do resgate ter sido aprovada à cabeça, surgem elogios de responsáveis europeus a Alexis Tsipras.

Thomas Wieser, o influente presidente do grupo de trabalho do Eurogrupo, a equipa com os braços direitos dos ministros das Finanças da zona euro que preparam o trabalho para a tomada de decisão política pelos ministros, deixou esta sexta-feira escapar o estado de espírito de Bruxelas: as eleições eram esperadas e vão ajudar a “clarificar a estrutura” do Governo.

O austríaco, que esteve no centro da negociação do resgate grego, embora de forma mais discreta, e que fez a ponte entre as negociações técnicas e políticas, elogiou ainda Alexis Tsipras, dizendo que está mais empenhado em implementar verdadeiramente o programa que os seus antecessores, que ficaram com a imagem de quem cumpria todas as diretivas da troika.

A mesma reação terá tido Merkel que, segundo as palavras de Dilma Roussef (Merkel está em visita oficial ao Brasil), já estaria à espera da decisão de Alexis Tsipras. O Presidente do Eurogrupo comentou as eleições dizendo que tem esperança que estas levem a um apoio ainda maior do Parlamento ao resgate.

O que tem Tsipras para mostrar?

As promessas de Alexis Tsipras nas eleições de 25 de janeiro e as promessas que fará para as próximas eleições (cuja data ainda não está confirmada) serão, certamente, muito diferentes.

Do que prometeu em janeiro, Alexis Tsipras conseguiu pouco mais que dar luta e manter-se no Governo. A austeridade não acabou nem acabará tão cedo. Mesmo com um expressivo “Não” no referendo, o Governo acabou por aceitar os termos (ainda mais duros) dos credores e um novo resgate, que implica mais três anos de programa, visitas regulares da troika, medidas novas a aplicar.

Ainda assim, Alexis Tsipras consegue sair deste processo, em que por várias vezes virou a posição oficial do partido e do Governo, com duas vitórias na mão. A primeira: mantém o apoio popular. Mesmo com as mudanças no discurso, na política, no Governo e na estratégia, Alexis Tsipras continua a ser, por uma grande margem, o político mais popular na Grécia, de acordo com as sondagens mais recentes.

Em segundo lugar, Alexis Tsipras conseguiu meter a reestruturação da dívida pública grega na agenda dos líderes europeus, de tal forma que o FMI decidiu que não entra no novo resgate sem uma nova reestruturação porque a dívida pública grega é insustentável, tal como este Governo tem defendido desde o início. A fórmula em que ela será tentada permanece uma incógnita, mas a hipótese que tem sido mais falada é idêntica à já aplicada à Grécia, mas também a Portugal e Irlanda: uma correção nos juros e maturidades.

Uma questão de timing

Alexis Tsipras defendeu que o seu mandato à frente do Governo grego, o que lhe foi conferido nas últimas eleições, estava esgotado e que não poderia ir mais além, justificando assim a sua demissão e o pedido de novas eleições.

No momento de saída disse que estava de consciência tranquila e “orgulhoso” da batalha que ele e o seu Governo tinham travado, mantendo-se contra as medidas que ele próprio está a aplicar.

Avançando já para eleições, Alexis Tsipras poderá beneficiar de um quadro temporal que não lhe seria tão favorável uns meses mais tarde. A sua popularidade depois de assinar o acordo de princípio para o terceiro resgate mantinha-se acima dos 60%, a população ainda não começou a sentir o efeito das novas medidas (o que prejudica as intenções da fação mais radical que abandonou hoje o Syriza), e os partidos da oposição ainda não encontraram uma forma de se voltarem a ganhar o apoio da população, ou de fazer do Syriza um inimigo comum.

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