Luís Montenegro fechou oficialmente o seu “governo de combate” depois da cerimónia de tomada de posse dos 41 secretários de Estado que escolheu para integrar o seu Executivo. O ato solene decorreu no Palácio da Ajuda sem grandes incidentes a registar, a não ser algumas feridas de outras guerras travadas: um ministro afónico (Paulo Rangel), um secretário de Estado de perna partida (Hugo Espírito Santo) e outro de braço ao peito (Emídio Sousa). Mas o verdadeiro combate político só começa a partir de hoje.

Na Ajuda, os secretários de Estado foram chegando a conta-gotas, uns acompanhados pelos seus familiares, outros com os novos colegas de Governo com quem existem velhas cumplicidades — João Moura e Clara Marques Mendes, até aqui deputados, entraram juntos no Palácio para a tomada de posse. Lá dentro, os vários governantes — os ministros não faltaram à chamada — foram confraternizando entre comes e bebes (numa sala reservada) até se sentarem na sala que recebeu a cerimónia oficial, poucos minutos antes das seis da tarde.

Um a um, as quatro dezenas de novos governantes foram repetindo a frase da praxe: “Eu, abaixo assinado/a, afirmo solenemente e pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas”. No final, cumprimentaram Marcelo Rebelo de Sousa, dois beijinhos às mulheres, um aperto de mão ou abraço aos homens. Com um pormenor: quando se acercou de Nuno Sampaio e, em particular, de Hélder Reis, dois dos três consultores do Presidente da República que agora fazem parte do Governo de Montenegro, Marcelo prolongou-se nos cumprimentos.

[Já saiu o sexto e último episódio de “Operação Papagaio” , o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui, o quarto episódio aqui e o quinto episódio aqui]

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De resto, o novo ciclo de Luís Montenegro começou com um tema do Inverno passado. À saída de cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa decidiu falar aos jornalistas para responder aos mais recentes desenvolvimentos do caso das gémeas. Justificando a decisão que tomou, sugerindo que o filho agiu à sua revelia e que tem idade para prestar contas, o Presidente da República passou largos minutos a defender a sua imagem.

Numa legislatura em que terá um papel central como árbitro do regime, e em que pode ter de servir de apoio a um Governo minoritário, Marcelo arranca em dificuldades — e isso pode ser um problema no futuro para Luís Montenegro, sobretudo depois de André Ventura ter prometido avançar com uma comissão parlamentar de inquérito que ameaça queimar o Presidente.

De resto, velho ciclo contaminou o novo que agora se abre: Fernando Alexandre, novo ministro da Educação, aceitou falar aos jornalistas para prometer que, “na próxima semana”, será anunciado o calendário para o início da negociação com os professores para recuperação do tempo de serviço que esteve congelado.

Mas com um aviso importante à navegação: “O governo tem de assegurar recursos, previsibilidade e as instituições têm que usar a autonomia que tanto reclamam e pedem que seja reforçada para que possam desempenhar a sua ação, articular com a região, empresas, fazendo o seu papel de uma forma que tem vindo a fazer muito bem mas que é essencial que seja reforçada”. Recursos, sim; mas não há dinheiro para tudo.

No Palácio Nacional da Ajuda, também Margarida Blasco, a nova ministra da Administração Interna, aceitou responder aos jornalistas para prometer “começar a falar” com representantes do setor já este mês. “Nada é fácil neste mundo mas com trabalho e boa vontade de todos vamos alcançar um porto seguro”, contemporizou a nova ministra, que tem em mãos um do setor mais explosivo. Mas prova provada de que já aprendeu a primeira lição do que é ser ministra, à pergunta sobre havia ou não orçamental para responder às reivindicações das forças de segurança, Blasco deu a reposta que se impõe: “Isso tem de perguntar ao ministro das Finanças”. Quem disse que ia ser fácil?