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A Sónia Simões estava a conduzir e não atendeu o telefone à primeira. A sua grande preocupação desta quinta-feira era o exame de Direito Romano agendado para as 19 horas, em Lisboa. Uma prova que acabaria atropelada por uma lição prática de “Burocracia Portuguesa I” — cadeira que ainda não existe. |
Sónia Simões é grande repórter do Observador, acompanha há anos o setor da Justiça e tem desenvolvido um importante trabalho na investigação de casos de abuso sexual de menores na Igreja. |
A 10 de fevereiro de 2019, publicávamos este especial assinado pela Sónia Simões e pelo João Francisco Gomes, que nos contava o caso do padre Anastácio Alves. Fazia parte da série da grande investigação jornalística “Em Silêncio”, em que o Observador denunciava a forma como a Igreja em Portugal lidou com denúncias de abuso sexual, ocultando algumas das situações, mudando, por exemplo, o padre de paróquia, como foi o caso de Anastácio Alves. A publicação desta série de artigos coincidiu no tempo com uma importante e inédita reunião no Vaticano. Em fevereiro de 2019, o Papa chamou os presidentes de todas as conferências episcopais do mundo e uma série de líderes e responsáveis das mais variadas organizações católicas. A mensagem de Francisco não podia ser mais direta e clara: tolerância zero na Igreja para com casos de abuso de menores. Só dois anos depois, em novembro de 2021, a Conferência Episcopal Portuguesa nomeou uma Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais. O trabalho deste grupo foi apresentado esta semana, em Lisboa, e veio confirmar os receios sobre uma realidade terrível e que permaneceu oculta. |
Há mais de 4 anos que Sónia Simões acompanha estes casos e tenta ter acesso a informações como a acusação pública contra Anastácio Alves, que foi mantida trancada pela Procuradoria-Geral da República, o mesmo organismo que nunca conseguiu notificar o padre madeirense. |
Depois do telefone da Sónia tocar, quando ela ia ao volante concentrada para o exame, seguiu-se uma SMS. A mensagem abria a hipótese de uma entrevista ao padre que fugiu de Paris sem deixar rasto em 2018. Tanto os advogados como Anastácio Alves, que assume agora ter cometido pelo menos 5 crimes de abuso sexual de menor e adolescente, conhecem o trabalho da Sónia Simões e avisavam estar disponíveis não só para uma conversa, como também para que o Observador acompanhasse o momento em que homem, que quis deixar o sacerdócio, se entregasse à Justiça na sede da Procuradoria-geral da República. |
Pelo sim pelo não, a Sónia levou os manuais e apontamentos de Direito Romano para o carro, mas depois de chegar ao escritório dos advogados, em Linda-a-Velha, e ficar cara a cara com Anastácio Alves logo percebeu que o exame teria de ficar para outro dia. O que se seguiu foi uma prova prática de jornalismo e Direito à portuguesa. No escritório, ainda nos arredores de Lisboa e acompanhada pelo editor de fotografia do Observador, João Porfírio, foi-lhe dada a oportunidade de fazer apenas uma pergunta ao sacerdote acusado de abusos — é o som que podemos ouvir na abertura do mais recente episódio do podcast “A História do Dia”. Neste áudio, o homem assume os crimes ao dizer que quer colaborar com a justiça e “auxiliar as vítimas”. |
Seguiu-se a rocambolesca tentativa de entrega do padre para ser notificado da acusação e constituído arguido e que terminou em nada e com ele livre. Um exemplo preocupante da forma como a Justiça portuguesa trabalha e que foi o tema central do “Explicador” da Rádio Observador desta sexta-feira. O debate aceso entre o advogado Paulo Saragoça da Matta e Adão Carvalho, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, é revelador e inquietante. |
No dia em que tinha um exame sobre normas milenares e fundacionais do Direito moderno, Sónia Simões e João Porfírio acabaram por ser sujeitos a uma prova de burocracia prática, que só pudemos ficar a conhecer através do empenho e dedicação ao jornalismo. Do tempo do Direito Romano vem uma expressão que não podemos esquecer: “dormientibus non sucurrit jus”. A frase, em latim, significa que o Direito não ajuda ou não protege os que dormem. Neste caso, a burocracia não protege a Justiça e sobretudo aqueles que devem estar no centro de todas as preocupações: as vítimas. |
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Talvez lhe tenha escapado
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Abusos na Igreja
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Padre do Funchal desapareceu em 2018 após ter sido alvo de queixa por crimes de abuso sexual contra um menor. Foi acusado à revelia e esta quinta-feira tentou entregar-se na PGR. Mas não o receberam.
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Abusos na Igreja
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MP nunca emitiu qualquer mandado de detenção nacional ou internacional para o ex-padre. Por causa disso, não podia ser detido agora nem quando foi investigado. Os erros que a Justiça cometeu.
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Abusos na Igreja
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Várias testemunhas garantem não ter ficado com marcas (físicas ou psicológicas) dos abusos. Mas a Comissão deixa o alerta para as sete vítimas que puseram termo à própria vida.
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Abusos na Igreja
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A socióloga da comissão que estudou os abusos na Igreja diz que os bispos não precisam da lista dos abusadores para investigar — e assume que os membros do grupo estão "emocionalmente desfeitos".
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Abusos na Igreja
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O relatório incluiu vários relatos com que a Comissão quis retratar várias épocas, vários tipos de abusadores, e as mais variadas vítimas. Todos os depoimentos são chocantes e muito sensíveis.
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Abusos na Igreja
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Testemunhos mostram comportamentos típicos em caso de abuso, como a proximidade com a vítima, mas também dimensões específicas da religiosidade — como o recurso a confessionários e à noção de pecado.
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Abusos na Igreja
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Relatório da comissão independente é acima de tudo um caderno de encargos para o futuro da Igreja: abusadores para investigar, mais informação sobre o problema e o desafio de criar uma nova comissão.
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Abusos na Igreja
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Comissão ainda está a cruzar dados, mas espera ter a lista dos alegados abusadores no ativo pronta entre fim de fevereiro e início de março. Escuteiros, acólitos e freiras também vão constar da lista.
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Abusos na Igreja
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Grupo de Investigação Histórica descobriu relações de poder e de ocultação em vinte casos que consultou nos arquivos secretos da Igreja. Mas não houve tempo para tudo.
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Habitação e Urbanismo
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O Governo apresentou um pacote para a habitação com o objetivo de haver mais casas para arrendamento disponíveis no mercado. Vai estar em discussão pública. Saiba o que vai mudar.
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Habitação e Urbanismo
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Estado quer tomar casas vagas e colocá-las no arrendamento. Para uns, a iniciativa "peca por tardia", a outros causa "urticária". As questões de constitucionalidade já se começam a levantar.
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Mercado Imobiliário
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Escassez é argumento usado para explicar preços elevados. Mas 12% das casas em Portugal estão vazias. Como podem ajudar na crise da habitação? Há quem esteja a trazer para Portugal parte da solução.
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Crédito à Habitação
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Mesmo com subida dos juros, bancos continuam a testar esforço dos clientes com aumento de mais 3%, como manda o Banco de Portugal. Acesso a crédito está mais difícil mas "o mercado continua dinâmico".
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Bloco de Esquerda
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Catarina Martins falou com os dirigentes, despediu-se por e-mail e fechou o seu ciclo. Avança Mortágua, elogiada no partido, com anticorpos fora e a garantia de que vem "continuar" a linha da direção.
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Bloco de Esquerda
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Chamam-lhe "radical" e não se importa de ser "insuportável" para alguns adversários. Pedro Nuno Santos deixa-lhe elogios, Louçã diz que é "filha da resistência antifascista". Será candidata a líder.
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Vichyssoise
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Em entrevista, Pedro Soares, crítico da atual liderança, defende que liderança de Mortágua, por si só, não vai mudar nada. Continua a exigir uma reflexão crítica e promete apresentar alternativa forte
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PS
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Mariana Mortágua a suceder a Catarina Martins pode significar maior polarização, (com vantagens, mas só a curto prazo), notam socialistas que se despediram da líder de saída em modo agridoce.
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Assembleia Da República
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O deputado Gabriel Mithá Ribeiro garante que os problemas internos foram resolvidos "dentro de casa" e diz que o Chega "não vai cometer os erros do PSD e CDS" com os professores.
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PSD
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Direção do PSD regista ataque do Presidente da República, mas não entrará na política palaciana de Belém. Objetivo é centrar comunicação do partido nas propostas concretas e evitar o ruído de Marcelo.
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Teatro
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"Uma Bizarra Salada" é o regresso de Bruno a Karl Valentin e é a estreia de Rita, para ver no palco do São Luiz. Em entrevista, esta é uma conversa sobre o que a arte pode fazer por cada um de nós.
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Música
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O álbum “Gótico Português” é um caminho novo para a banda que criou também uma editora independente, a Vida Vã. Nuno Rodrigues e Rafael Ferreira apresentam-nos as vontades que os trouxeram até aqui.
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Ciclismo
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Em seis meses foi terceira no Mundial, teve dúvidas sobre futuro, recebeu convite no Instagram de uma das melhores equipas de ciclismo, sagrou-se campeã europeia. Aos 23 anos, Maria está só a começar.
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Cinema
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Em "Holy Spider", Ali Abbasi cruza a história real de um serial killer com uma detetive fictícia na verdade do Irão. Falámos com o realizador, que também fez dois episódios da série "The Last of Us".
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Património Cultural
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Com "maior ligação aos Jerónimos", a praça é inaugurada esta terça-feira. “Lisboa ganha de novo um jardim que faz parte da história da cidade e do país”, diz a arquiteta Cristina Castel-Branco.
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Cultura
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Projeto fotográfico do fotojornalista Rui Miguel Pedrosa, com o título "Chocalhadas", vai estar em exposição em Podence. Esta mostra pretende mostrar a tradição de protagonizada pelos Caretos.
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Opinião
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Sem diminuir nem relativizar o que se passou, é provável que a Igreja Católica ainda por aqui esteja no próximo século, com a sua tradição, o seu papa, o seu clero e, claro, os seus inimigos.
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A Igreja olhou para os seus demónios, após décadas de ocultação. As consequências, agora, atingem também o Estado: nas instituições destinadas a menores, há vítimas silenciadas que merecem uma voz.
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Apesar de tantas marés baixas ou negras a Igreja aí está e aqui continua, dois mil anos depois. Nunca desistirei dela. Não se confunda a grande floresta com árvores que é preciso arrancar.
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Pedro Schacht não gosta que eu o situe, e ao seu séquito, na extrema-esquerda. É estranho que essa etiqueta o incomode e que queira sacudi-la porque o seu posicionamento ideológico não oferece dúvidas
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As políticas públicas têm aumentado a procura de casas caras e induzido a redução da oferta para a classe média. É tempo de acabar com os apoios a quem vem para Portugal para fugir aos impostos.
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