Nas últimas semanas, a geringonça entendeu-se sobre uma nova Lei de Bases da Saúde e o PSD propôs uma baixa de impostos. O sismógrafo da imprensa e das redes sociais, porém, mal registou essas iniciativas. O que excitou os portugueses que dão opiniões por conta própria ou de outrem não foi o SNS nem o IRS, mas o as “quotas étnicas”, o “racismo” ou a “superioridade das culturas”. É um sinal: quer da uniformização das conversas segundo padrões americanos, quer do modo como os movimentos migratórios ressuscitaram questões que na Europa pareciam ultrapassadas pela descolonização ou pelo descrédito da noção de “raça”.

Talvez convenha perceber até onde a racialização nos pode levar. A última tempestade mediática nos EUA dá uma ideia. Trump resolveu dizer a quatro congressistas do Partido Democrata, com origens não-europeias, que deviam ir resolver os problemas dos países donde as suas famílias ou elas próprias fugiram, e só depois criticar os EUA. Como se apenas os cidadãos americanos oriundos da Europa tivessem o direito de se queixar.

Os Democratas propuseram que a Casa dos Representantes condenasse o presidente. Mas é importante lembrar em que estavam ocupadas as quatro congressistas, quando Trump as interpelou: Alexandra Ocasio-Cortez e as suas colegas, da facção “radical-socialista” do Partido Democrata, atacavam Nancy Pelosi, uma das líderes dos Democratas “moderados”. Porquê? Porque Pelosi se atreveu a criticá-las, o que logo Ocasio-Cortez e as suas colegas aproveitaram para lembrar que eram “mulheres de cor”, e insinuar que era essa a razão por que Pelosi, uma mulher branca, implicava tanto com elas. O pretexto dos tweets de Trump foi aliás defender Pelosi dessa insinuação de racismo (que depois Ocasio-Cortez tentou encobrir, mas que os seus fãs assumiram).

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