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Não é habitual um jornalista assistir àquele momento em que um protagonista lê, ouve ou vê uma reportagem sobre si acabada de publicar. Na maior parte dos casos, o jornalista só conhece a reação das pessoas sobre quem escreveu ou falou algum tempo depois, muitas vezes de forma menos simpática — ossos do ofício. Claro que isso depende do tipo de trabalho. Muitas vezes também chegam alguns elogios, porque alguém se viu bem retratado numa ou noutra reportagem, por exemplo. Seja como for, é sempre uma reação em diferido. |
Há cerca de um mês, a Tânia Pereirinha, jornalista do Observador, e eu tivemos a oportunidade rara de assistir a esse momento “ao vivo e em direto”, a propósito do podcast “O Sargento na Cela 7”. Fomos a Ourém entrevistar João Neto Vaz, um dos militares que foram feitos prisioneiros pelo PAIGC durante a guerra na Guiné e libertados mais tarde pela operação Mar Verde. A Tânia já o tinha entrevistado para o podcast, mas quisemos ouvi-lo de novo, para outro trabalho, sobre o impacto da guerra nos militares portugueses — e o longo silêncio que quase todos mantêm sobre as dores que trouxeram de África. Nesse dia, confirmámos aquilo que já imaginávamos. |
Por aquela altura, o Observador já tinha publicado dois episódios da história. Mas Vaz, que surge no terceiro capítulo quando se junta a António Lobato na prisão de Kindia, na Guiné Conacri, e acaba por participar numa fuga espectacular, quase bem sucedida, não tinha ainda ouvido um único segundo do podcast. Não era por desinteresse, era por uma razão muito prática: na casa onde vive, no Covão do Coelho, em Minde, não tem internet para aceder ao Observador. E de plataformas de podcast, então, nunca tinha ouvido falar. |
Fomos buscá-lo a casa e fizemos a viagem entre a pequena localidade e o Museu Municipal de Ourém, onde gravámos a entrevista. No regresso, não resistimos: |
— O João gostava de ouvir o podcast?
— Ora vamos a isso, menina. Se o quiser pôr a tocar… |
Nos 30 minutos de viagem que se seguiram, João Neto Vaz foi quase sempre calado e muito atento. Mas, pelo canto do olho, enquanto mantinha a atenção na estrada, fui espreitando algumas reações: o ar sério e grave enquanto se ouvia a descrever um dos momentos que mais o marcaram — a morte de um militar que pisou uma mina quando procuravam defender o quartel de um ataque; o sorriso trocista durante a descrição da forma engenhosa como conseguiram arquitetar a fuga da prisão com uma barra de sabão e uma frigideira velha — sim, se ainda não ouviu, tem mesmo de ouvir; e a gargalhada quando o ator Pêpê Rapazote, que é o narrador desta história, começa a descrever o personagem mais peculiar da cadeia, um prisioneiro guianês sempre bem vestido que fazia o que queria em Kindia. Nessa altura, a Tânia Pereirinha, no assento de trás, pergunta: “Sabe o que vem aí?”. Vaz responde, já a rir: “O Guianas, menina!” |
Confesso que essa é uma das minha passagens preferidas do episódio 3. É que, no podcast, João Neto Vaz, agora com quase 80 anos, encontra esta fórmula para explicar que Chambord Lambert — o tal guianês — tinha tanta influência na prisão que até expulsava o diretor do seu próprio gabinete para encontros amorosos: “Então o Guianas, menina, chegava a correr com o chefe da prisão do gabinete para arranjar lá a mulher do Pedro, do Paulo e do Chico!” Rio-me sempre quando o ouço dizer isto. |
Talvez este seja um dos segredos do sucesso de “O Sargento na Cela 7”. É uma história dura, de guerra e de sobrevivência, mas também de amor e com muitos episódios caricatos que a História, muitas vezes, acaba por esquecer. E é esse o feedback que temos tido dos nossos leitores e ouvintes. As muitas mensagens que recebemos são quase todas de pessoas que dizem que ficaram presas à saga do primeiro ao último episódio, que publicámos esta semana, precisamente por causa de todas estas dimensões que nos ajudam a perceber melhor tudo o que se passou. |
Até agora, “O Sargento na Cela 7” já foi ouvido cerca de 500 mil vezes e muitos só estão a começar a ouvir agora, com toda a série já disponível. Há um mês, quando acabou a viagem de regresso ao Covão do Coelho, João Neto Vaz ligou para a neta, a dizer que uma jornalista lhe ia mandar uma mensagem com os links de todos os episódios. Quando se encontrassem, a neta trataria de o pôr a ouvir. Espero que já tenha acontecido. |
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Talvez lhe tenha escapado
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História
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No último episódio de "O Sargento na Cela 7", António Lobato é libertado na operação Mar Verde. Quando volta a Lisboa, o regime pede-lhe que invente uma fuga. Depois reencontra-se com Maria dos Anjos.
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Guerra
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João Neto Vaz, que esteve preso com António Lobato, o "Sargento na Cela 7", pensa na guerra todos os dias. Também fala, mas não de tudo. É como se fosse um enorme tabu de uma geração inteira.
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TAP
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Dois dias em que os deputados esperaram que chegasse um parecer sobre fundação jurídica para demissão dos gestores da TAP. Mas afinal o parecer não existe, garante Medina.
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TAP
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Prémios, pré-reforma e acordos de saída generosos têm sido revelados após caso Alexandras Reis. Pagamentos feitos na gestão privada não precisaram de aval do Estado e não aparecem nas contas da TAP.
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Impostos
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Depois de anos a dar razão ao fisco, o Tribunal Constitucional mudou de posição. E empresas como a Galp podem aproveitar argumentos para contestar os milhões da CESE cobrados fora do setor elétrico.
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Multibanco
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Dona do Multibanco foi visada pela Autoridade da Concorrência. Banco de Portugal tem "ações em curso". A Teya (ex-Saltpay, "fintech" que geriu o IVAucher) diz que já custou 11 mil milhões à economia.
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PSD
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Sem nunca dizer que Ventura era "populista" ou "racista", Montenegro conseguiu que líder do Chega assumisse dores. PSD acredita que vai ganhar moderados com erros do adversário. Calendário acelerou.
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Iniciativa Liberal
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Atingiu notoriedade na comissão de inquérito à TAP e alimentou um sonho que a IL não esconde: Bernardo Blanco a presidente. Todos lhe reconhecem qualidades, mas há quem avise: atenção aos pedestais.
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PS
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Jantar dos 50 anos do PS pouco pacificador. Continua a haver problemas do passado não ultrapassados, o que ficou à vista num ajuste de contas eleitorais com Sócrates. E do futuro também não.
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PS
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PS cumpre 50 anos desde a fundação, em 1973, com vários dilemas em mãos. Desgaste de ciclo longo no poder preocupa, assim como divisões internas. Um raio-X ao estado do partido.
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Eutanásia
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Presidente espera que Parlamento acolha as suas recomendações, mas partidos não cedem. Se voltarem a aprovar diploma, Marcelo está obrigado a promulgar. Tudo pode ficar concluído até final de maio.
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Guerra na Ucrânia
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Presidente brasileiro quer projetar o Brasil internacionalmente e considera que mediação na guerra da Ucrânia pode ser uma forma de o fazer. Lula tenta superar outros países emergentes e irrita EUA.
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Guerra na Ucrânia
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Desde o início da guerra, a Ucrânia já atacou centenas de vezes território russo. Ocidente não ajuda, mas consente. Rússia instala sistemas de defesa anti-aérea em Moscovo e na mansão de Putin.
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Saúde Mental
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Chama-se Mind My Mind e é um programa de saúde mental para prevenir doenças mentais em crianças em idade escolar como as campanhas de saúde oral previnem cáries. Está a ser testado na Dinamarca.
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Sociedade
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Numa situação limite, qualquer pessoa entra em modo de sobrevivência, devido à ativação das hormonas do stress. Foi o que terá acontecido com Érica para suportar mais de 20 horas sem comida nem água.
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Redes Sociais
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Publicações nas redes sociais faziam referência a um ataque no dia 20 de abril. Alguns pais recusaram-se a levar os filhos para a escola. PJ identificou cinco autores de posts suspeitos.
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Assédio Sexual
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Figura proeminente das Ciências Sociais em Portugal foi acusado de assédio sexual. Vieram as respostas e as suspensões, segue-se uma investigação. Este é o filme dos acontecimentos até agora.
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Tecnologia
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O grande sucesso da chinesa ByteDance é o TikTok. Porém, a sua app de edição de vídeos CapCut e a rede social Lemon8 têm chamado a atenção nos EUA. Será que também correm o risco de serem banidas?
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Futebol
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No fim de 2020, os atores Rob McElhenney e Ryan Reynolds compraram o Wrexham, histórico clube galês caído em desgraça. Menos de três anos depois, a subida está quase garantida e a comunidade renasceu.
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Ciclismo
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Corredor português da UAE Emirates fala do estágio em altitude antes da Volta a Itália, destaca bom momento que permitiu pódio no Tirreno-Adriático e na Catalunha e admite que quer fazer Tour em 2024.
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Teatro
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O fim da Cornucópia e os novos dias que continuam a ser "de luta"; os palcos do passado e o teatro do presente; a morte, a fé e um novo livro. Entrevista com o ator e encenador Luis Miguel Cintra.
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Cinema
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Um filme sobre a guerra colonial — não no passado, mas como alegoria do presente — é o ponto de partida para uma entrevista com o realizador Carlos Conceição, antes da estreia em sala, esta semana.
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Beleza e Bem Estar
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Há cada vez mais experiências ligadas ao bem estar que fogem à tradição e que convidam a viver modalidades tradicionais com novos olhos (e por vezes até ouvidos).
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Opinião
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Com o iminente colapso da rede pública, mais famílias inscrevem os filhos no privado e recorrem a centros de explicações. Eis uma injustiça revoltante e a morte do slogan "da defesa da escola pública"
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Em pouco mais de seis meses a segurança social tornou-se mais sustentável, na versão do Governo. Foram mais uns dias a mostrar que navegamos no que nos oferece a conjuntura.
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O que é o assédio sexual? Trata-se de uma construção social europeia, radicada na ideia mercantilista da propriedade do corpo, só possível numa sociedade terratenente que venera a propriedade.
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Neste momento, em que tudo aquilo que depende do Governo parece desmoronar-se, a aposta na insuflação do Chega e a sua colocação no centro da discussão política tornou-se a táctica infalível do PS.
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Não, as mães não precisam de ser exemplares. E sim, também têm direito às suas “telhas”. E os “seus dias”. As mães são um reservatório de saúde mental. E isso, acho eu, nunca se diz.
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